sexta-feira, 30 de abril de 2010

O esquecimento popular é um porão amplo

Após 12 anos de governo da Frente Popular do Acre, o senador Tião Viana descobriu que é preciso combater a pobreza. Candidato a receber uma pensão vitalícia de mais de 20 mil reais por mês, como já ocorre com o irmão Jorge Viana, Tião prega agora que é preciso diminuir as diferenças entre pobres e ricos. Considerando que uma aposentadoria régia e inconstitucional paga pela previdência estatal a um grupelho de afortunados é um acinte à economia popular, bem que o senador poderia incluir em sua plataforma política a extinção da excrescência acalentada no governo do irmão.

Tião se elegeu a primeira vez para o Senado prometendo saúde de primeiro mundo e a segunda negando a autoria da própria promessa. Geração de empregos e construção de casas populares também já fizeram parte de um amplo cardápio político agora resumido na promessa de socializar a abastança.

“Pés no chão e mãos dadas para uma nova caminhada” foi o slogan escolhido para a apresentação dos candidatos da FPA, nesta sexta-feira, no Parque das Acácias. Parece coisa de quem estava com a cabeça na lua e mais parado que poste. Em relação a tudo que não foi feito para diminuir a distância entre ricos e pobres, essa interpretação não se constitui em exagero.

O tema político escolhido para anabolizar a candidatura de Tião Viana ao governo do Acre soa como alarido de opositor de longa data. É como se o pré-candidato não tivesse feito parte, todo esse tempo, de três governos que foram decisivos para aprofundar o fosso das diferenças sociais.

Mas isso não deve preocupar o petista. Ele sabe que o esquecimento popular é um porão capaz de abrigar todas contradições alheias e as promessas não cumpridas.

A gente ainda chega lá

VEREADOR DO MARANHÃO MANDA DETER E ALGEMAR JORNALISTA QUE COBRIA SESSÃO DA CÂMARA

Estelita Hass Carazzai, da Agência Folha

O jornalista Edmundo Moreira da Silva, 53, foi algemado e detido por guardas municipais durante uma sessão da Câmara Municipal de Timon (MA), anteontem à noite.

Ele e o cinegrafista Magno Ferreira, 27, acompanhavam a votação de um projeto que efetivava os 350 agentes de saúde do município. Os dois trabalham para o site Portal Hoje.

Enquanto aguardavam o início da sessão, dois guardas municipais abordaram os jornalistas e disseram que eles teriam de se retirar por não terem autorização do presidente da Casa, vereador Antônio Borges Pimentel, para filmar o evento.

"Disseram que faz parte do regimento interno da Câmara, mas nunca antes haviam nos incomodado com isso", diz Silva. Segundo ele, nas outras sessões em que levou a filmadora, ninguém foi solicitado a desligar o equipamento.

Diante da negativa em sair, Silva foi detido à força, levado para um camburão e de lá para a delegacia, onde foi autuado por desacato à autoridade.

Segundo a assessoria de imprensa da Câmara de Timon, o jornalista foi detido porque "alterou a voz" e falou "palavras de baixo calão" aos guardas.

A cena pode ser vista em um vídeo na internet. O jornalista, elevando a voz, afirma que está trabalhando "numa casa pública" e que não vai sair, ao que o guarda municipal responde: "Cala a boca, rapaz". A confusão aumenta e Silva é agarrado, algemado e arrastado para fora, diante dos gritos do público.

A Folha telefonou para o comandante da guarda municipal de Timon, mas seu celular estava fora da área.

Segundo a assessoria da Câmara, os jornalistas são solicitados a desligar as câmeras de vídeo "sempre que possível". "Eu sou só um. É complicado dar conta de tudo", afirma o assessor Walber Júnior.

O Sindicato dos Jornalistas do Piauí divulgou nota de repúdio pela agressão.

Veja o momento da prisão.

Diatribe disfarçada de argumentação


Um dos pressupostos que se escondem por trás da acusação de que alguém argumenta com ódio é que essa argumentação é falha pela carga sentimental que transporta. O outro pressuposto é que o interlocutor que identifica a virulência alheia goza do equilíbrio necessário a todo debate civilizado. O deputado Moisés Diniz (PCdoB-AC) recorre a esse truque na tentativa de desqualificar a opinião de dois renomados jornalistas. O pecado mortal de ambos foi comentar a lista da revista Time que elenca as cem pessoas mais influentes do mundo, entre as quais o presidente Lula.

Moisés cita artigo reproduzido aí abaixo, no qual não há, a meu ver, a carga de ira detectada por ele contra o seu guru Luiz Inácio. E sob a desculpa de que Reinaldo Azevedo, da revista Veja, e Paulo Nogueira, da Época, destilam veneno contra o petista, é o próprio Moisés Diniz quem desce do altar para inocular o vírus de sua diatribe contra os que ousam falar mal do intocável presidente.

Moisés chama os jornalistas de "carimbados coroinhas dos políticos da velha oposição". E trata Reinaldo Azevedo como "um troglodita da Revista VEJA". Chama ainda a atenção para "a quantidade de veneno que ele (Reinaldo) destila contra o líder operário que jogou para escanteio o professor de Harvard, Fernando Henrique Cardoso". Ambos - Reinaldo e Paulo Nogueira - precisam, na opinião do doce Moisés Diniz, de "um banho de sal grosso em todo esse rancor".

E até mesmo a porção democrática do deputado é carregada de tintas sombrias: "Nós respeitamos as suas opiniões, mesmo que sejam preconceituosas, com o seu velho odor de cemitério".

E para arrematar o discurso, ele recorre a uma falácia conhecida como argumentum ad numerum, que consiste em afirmar que quanto mais pessoas acreditam numa proposição, maior será a probabilidade de que ela seja correta. Segundo o argumento de Moisés, Lula é o cara porque apenas 18% dos eleitores deste país o rejeitam.

Faltou lembrar que a História está cheia de exemplos de como as multidões podem ser inconsequentes.

*A caricatura usada neste post foi publicada na Veja e no site http://baptistao.zip.net/.

quinta-feira, 29 de abril de 2010

Convém não esquecer que Hitler e Stálin foram Homens do Ano da Time

Por Paulo Nogueira, da revista Época

Notei, no twitter, um alarido em torno da presença de Lula na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo feita anualmente pela Time. Havia um certo entusiasmo na fileira dos petistas e alguma raiva entre os que acham que depois de oito anos no poder já é tempo de o PT voltar à oposição.

O fato é que nem o entusiasmo e nem a raiva se justificam.

Listas não são mais nem menos que isso mesmo: listas. Os leitores gostam. São interessantes, geram discussões, animam conversas de bar. Os editores satisfazem alegremente a sede de listas da clientela. Só que têm que preenchê-las. Não é fácil. Sobretudo em casos como o da Time, com 100 nomes a cada ano. (O editor da revista explica num vídeo como foi feita a lista.) Você tem que promover rotatividade para que ela não se torne maçante. Chávez entrou em 2005 como uma liderança forte na América do Sul.

Nas edições seguintes, você não vai repeti-lo. Mas alguém da região tem que entrar, ou a lista ficará com ares elitistas. O presidente do … Peru? Bolívia? Uruguai?

Alguém falou no Equador?

Lula demorou para entrar nessa lista, feita há seis anos. Não havia motivos para que Chávez o precedesse. Mas ele não aumentará e nem diminuirá com sua inclusão no grupo dos 100. Lula é o que é. Um bom presidente, pragmático, inteligente. Cara boa, fácil comunicação com o povo. É, claramente, um facilitador, talvez sua maior virtude. Parece capaz de ver a floresta em vez de se demorar nas árvores, outra qualidade.

Sai do Planalto como um homem que, para usar a linguagem corporativa, cumpriu as metas sem, no entanto, ultrapassá-las. O Brasil em sua gestão ficou muito para trás da China e um pouco atrás da Índia.

Nota 7 para Lula. Dá para passar de ano sem exame, mas não vai receber chapéu de gênio.

Fernando Henrique leva um ponto a mais pela vitória histórica contra a inflação. Ah, mas ele não entrou na lista da Time, alguém poderá dizer. Sim, é verdade. Mas o fato é que essa lista começou a ser feita apenas em 1999, no final da era FHC. Se existisse há mais tempo, quando mas não fosse para ajudar a preenchê-la, FHC entraria fatalmente nela, e talvez a utilizasse depois para aumentar o cachê de suas palestras.

No mais, a Time é a mãe das revistas semanais de informação, e sua excelência é globalmente reconhecida. Mas suas escolhas de personalidades influentes às vezes são inacreditáveis. O Homem do Ano de 1939 foi Hitler. Hitler já publicara fazia tempo Mein Kempf e matara dezenas de milhares de pessoas a essa altura. Mesmo assim, foi o Homem do Ano. Três anos mais tarde, foi a vez de Stálin ser escolhido O Homem do Ano. Se você juntar as mortes provocadas por esses dois Homens do Ano chegará à casa de 60 milhões.

Lula, por tudo o que foi dito, demorou para entrar na lista dos 100 da Time. Mereceu.

Mas não é o caso de rojões dos seguidores e nem de lágrimas dos oponentes.

Em vez de comemorar ou chorar, é melhor voltar ao trabalho, porque o Brasil tem que dar duro para encurtar a distância que o separa de outros países, notadamente a China.

Brasil é o líder em desmatamento mundial, aponta levantamento

Afra Balazina e Andrea Vialli, do jornal O Estado de S. Paulo



O Brasil foi o País que mais perdeu áreas de florestas entre 2000 e 2005, aponta estudo divulgado ontem pela PNAS, publicação oficial da Academia Nacional de Ciências dos Estados Unidos.

No período foram desmatados 165 mil quilômetros quadrados de floresta, o equivalente a 3,6% das perdas de florestas no mundo todo. O segundo país que mais perdeu florestas foi o Canadá, com o desmate de 160 mil km². A ação do homem e desastres naturais são as principais causas da perda de florestas.

No mundo todo, a cobertura vegetal diminuiu 3,1% entre 2000 e 2005. Foram 1,01 milhão de km² desmatados, o que sugere crescimento de 0,6% ao ano.

O estudo se baseou em observações por satélite de pesquisadores das Universidades de Dakota do Sul e do Estado de Nova York.

quarta-feira, 28 de abril de 2010

O clamor das ruas



Parentes do garoto Fabrício Costa, vítima da criminalidade galopante, participaram de protesto nesta quarta-feira pelas ruas do centro de Rio Branco. As famílias pedem um basta à onda de violência para a qual as autoridades de Segurança Pública do Acre não conseguem dar respostas.

Um dos cartazes avisa ao governador Binho Marques sobre a realidade de quem não conta com policiamento 24 horas por dia. Em dezembro se esgota o prazo estabelecido pelo próprio governador para transformar o Acre no melhor lugar da Amazônia para se viver. Até lá certamente tombarão outros inocentes como Fabrício e Cabral Silva, este último vítima da também gravíssima violência no trânsito.

A imagem aí acima é do repórter fotográfico Dhárcules Pinheiro.

terça-feira, 27 de abril de 2010

Liberdade assegurada

Coronel Paulo Cézar

Causou-me surpresa a informação de que a matéria que estava sendo produzida pela repórter Ana Paula Batalha não tenha sido publicada pelo jornal A Tribuna, conforme a própria repórter havia adiantado no momento em que lhe concedi a entrevista.

Respondi a cada uma de suas perguntas sobre a reunião da qual havia participado no clube de cabos e soldados a respeito dos interstícios nas promoções e até sugeri que ela ouvisse os responsáveis pela convocação e organização do evento. Solicitei em seguida que eles fossem até o jornal A Tribuna prestar os esclarecimentos necessários, a fim de que não pairasse dúvida sobre a pauta e os objetivos do encontro. Quanto ao fato da matéria não ter sido publicada, sinceramente não me diz respeito.

Lamento que a situação tenha tido tal desdobramento, ao ponto do jornalista Fábio Pontes fazer referência no jornal A Gazeta a um passado de triste memória como sendo algo ainda praticado em nosso Estado.

Felizmente, a liberdade com que cada jornalista se manifesta para expressar seu ponto de vista sobre este e outros episódios não deixa margem para dúvidas: se não houvesse respeito à liberdade de opinião em nosso Estado, certamente os jornalistas não escreveriam com tanta altivez, apesar de alguns equívocos, sobre o que pensam das autoridades.

O fato é que não fiz qualquer contato com a direção ou editoria do jornal para pedir que a matéria não fosse publicada. Continuarei a prestar o meu serviço no combate ao crime e em defesa da segurança das pessoas, com a mesma postura de respeito e consideração com os profissionais da imprensa, porque sei que eles estão fazendo sua parte no esforço diário de manter a sociedade informada.

*Paulo Cézar é subcomandante da PM do Acre

Comento
O coronel Paulo Cézar tem neste blog o espaço também assegurado ao jornalista Fábio Pontes. O presente texto foi encaminhado aos veículos de comunicação em resposta à celeuma criada a partir das declarações da jornalista Ana Paula Batalha.

Gostaria de destacar o trecho em que o oficial militar se refere à liberdade de imprensa que imagina existir no Acre. Para tanto ele recorre à "altivez" com que os jornalistas (alguns, ressalte-se) se referem às autoridades do estado. Imagino que do ponto de vista militar a altivez seja uma grave transgressão à hierarquia, pelo que se percebe do que foi escrito pelo Sr. Paulo Cézar. Uma rápida consulta ao Houaiss revela que o vocábulo tem duas acepções: 1. Sentimento de dignidade, brio, nobreza. E 2. Atitude de arrogância, soberba e intolerância.

Apesar do que diz o coronel, o exercício da livre expressão se encontra cerceado pelo governo da floresta há mais de uma década no estado. E não é altivez de meia dúzia (exercida sobretudo em twitters e blogs) que mudará essa realidade.

Jornais só noticiam o que é conveniente para o pessoal da Frente Popular. Basta atentar para o detalhe de que acontecimentos comezinhos, mas de interesse do governo, virarem manchetes em todos os diários ao mesmo tempo. E que denúncias graves e de interesse público quase sempre amargam a indiferença dos veículos de comunicação. Isso, claro, não significa um juízo de valor sobre os fatos relatados pelo militar. São questões distintas, reconheço.

Mas a conclusão de que Paulo Cézar supostamente recebe tratamento altivo e injusto por parte de dois jornalistas não remete à premissa de que a imprensa goza de liberdade. Esta última é falsa, ainda que a conclusão possa ser verdadeira em todas as suas nuances.

segunda-feira, 26 de abril de 2010

De volta aos porões

Por Fábio Pontes, do jornal A Gazeta

O Acre é um Estado que a cada dia chama a atenção do Brasil e do mundo. Após tantos anos de sucateamento e desmandos cometidos pelos mandatários, aos poucos o Acre começa a se desenvolver econômica e democraticamente. Mas, infelizmente, aqueles “anos de chumbo” pelos quais os acreanos passaram, deixou seus herdeiros que insistem em achar que o Acre é, desculpe a expressão, a “casa da mãe Joana”.

No alvo deles está a liberdade de imprensa. E o mais triste é que o ataque vem de um setor que sempre foi hostil com a atuação livre dos jornais: os militares. O caso mais recente aconteceu neste final de semana. Com base em uma denúncia protocolada junto à Procuradoria Regional Eleitoral, a jornalista Ana Paula Batalha produziu uma reportagem que vinculava o subcomandante da Polícia Militar, coronel Paulo César, a fazer campanha política dentro da corporação a favor de candidatos petistas.

Após averiguar e ouvir ambos os lados, como reza o bom jornalismo, Ana Paula teve a notícia de que policiais militares, supostamente a mando do subcomandante, foram ao jornal com ameaças intimidadoras, recomendando a “ter cuidado caso a reportagem fosse publicada”. Ora, que cuidado seria este? Antes disso, uma comissão formada por sargentos procurou a jornalista para defender seu superior e desmentir que Paulo Cesar estaria pedindo votos.

Certamente esse grupo de militares foi por livre e espontânea pressão. O caso é triste para a história de uma população que tanto sofreu nas mãos de coronéis que atropelavam todos os princípios da democracia e faziam Justiça com as próprias mãos. Além disso, o episódio nos faz lembrar os anos em que as redações dos jornais eram invadidas por policiais a mando de autoridades insatisfeitas com a publicação de reportagens que denunciavam os abusos.

Há casos até de jornalistas que foram obrigados a engolir literalmente o jornal impresso. Queremos isso de volta? A sociedade disse que não quando, legalmente, condenou no final do ano passado, mais uma vez, o ex-chefe do esquadrão da morte. A sociedade não aceita mais esse retrocesso. Se o militar se sentiria prejudicado com a publicação da matéria, ele poderia usufruir de todos os trâmites oferecidos pela Justiça brasileira.

Um policial militar deve zelar pelo cumprimento da Constituição Federal, que tem a liberdade de expressão como um dos princípios e direito sagrado dos brasileiros. A Polícia Militar hoje é outra, e não aquela do governo dos generais. Um exemplo disso é o próprio comandante da Polícia Militar, coronel Romário Célio, que sempre atendeu e respondeu aos questionamentos da imprensa sem jamais mandar seus homens invadir o local de trabalhos dos jornalistas.

*Fábio Pontes é jornalista de A Gazeta. Este artigo foi extraído da edição que circula nesta terça-feira.

Seria ótima se não fosse inútil

A deputada federal Perpétua Almeida (PCdoB) quer enfiar no Código de Trânsito Brasileiro a convenção existente em Brasília segundo a qual os motoristas param o veículo todas as vezes que um pedestre, diante de uma faixa, estende o braço a frente do corpo. A idéia seria ótima se não fosse inútil.

Explico por quê.

Leis existem para regular o comportamento social, não é verdade? O comportamento exemplar dos condutores de veículos da Capital Federal foi determinado, ao longo de muitos anos, graças a campanhas educacionais intensas e pesadas punições impostas aos infratores. Dizem até que estas últimas tiveram eficácia muito maior que as primeiras.

O gesto que faz os motoristas brasilienses frearem o carro não estaria regulado pela ação de causa e efeito não houvesse, subjacente a ele, a consciência necessária para isso. O que determina que os motoristas pisem no freio ante um pedestre com o braço estendido não é o gesto em si, mas o grau de civilidade daqueles.

Esse grau foi atingido pela imposição das regras de trânsito entre as quais não consta o gesto do braço estendido. Este passou a ser uma mera convenção. E essa convenção não terá efeito onde não houver o substrato necessário à sua validação.

A deputada Perpétua Almeida, com toda sua experiência parlamentar, deveria saber que já temos leis demais no País. O que nos falta é colocar em prática as já existentes.

sábado, 24 de abril de 2010

O Acre que eles tentam esconder

"A gente sente que o que mais falta nessas comunidades é educação, o trabalho de educação mesmo"

Guilherme Yamashita, médico do Navio Hospital Dr. Montenegro, sobre a amarga realidade dos ribeirinhos do Juruá mostrada no Globo Repórter de ontem a contragosto dos que falam e agem como se não existissem miséria e analfabetismo no Acre.

sexta-feira, 23 de abril de 2010

Diário da empulhação


Os jornais do Acre circulam hoje com mais um episódio da saga de Jorge Viana e Edvaldo Magalhães no interior – dessa vez pela região do Alto Acre. Não há novidade ou interesse jornalístico que justifique tanta publicidade em torno daquilo que a população já se acostumou a ver em período eleitoral: os abraços de sempre, os sorrisos iguais e os discursos retocados para dar a impressão de que são diferentes.

Até mesmo o redator do release, extenuado talvez de ouvir as mesmíssimas coisas e assacado pela obrigação de dar ao trivial o caráter definitivo da originalidade, deslizou na língua pátria e tratou de chutar o traseiro da lógica. Nada muito grave, tudo muito desculpável. A começar pelo subtítulo do texto, que diz:

"Berço da luta pelo meio ambiente no Estado, os dois políticos ouvem conselhos da comunidade". Aqui.

Pelo que está dito, Jorge e Edvaldo é que são o berço da luta pelo meio ambiente no estado. Sei, o redator se referia a Brasileia e Xapuri, e não aos dois políticos. Mas embaralhou os fatores, acanalhando o produto.

Já na abertura do release está escrito que “Sem o protagonismo dessas duas cidades o projeto que se desenvolve no Estado na última década não existiria. A afirmação é forte, mas os neologismos Florestania e Desenvolvimento Sustentável...

E desde quando desenvolvimento sustentável é neologismo?

Após 12 anos de logro e muita lengalenga, não falta a essa gente apenas o que falar. Falta-lhes competência até para resumir a empulhação.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Amores perigosos

“O ano de 2009, (sic) foi um ano em que a violência em todo país cresceu, sobretudo o roubo a mão armada e aqui no Acre não foi diferente”, disparou o redator adestrado da Secretaria de Segurança Pública do Acre (Sesp). A redação claudicante consta de uma resposta dada pela Sesp ao deputado Donald Fernandes (PSDB), que requereu os dados da criminalidade galopante. Ao invés daqueles, o parlamentar recebeu uma nota técnica com algumas justificativas e quase nenhuma informação.

Não é a primeira vez que o tucano solicita informações públicas e em troca lhe dão platitudes. Foi assim quando quis averiguar pagamentos supostamente irregulares a membros da Procuradoria Geral do Estado. Parece que será novamente assim quanto ao pedido sobre os gastos com aposentadorias de ex-governadores, essa excrescência inconstitucional ressuscitada no governo de Jorge Viana.

Viramos um grande feudo dos petralhas. Informações públicas já não são de domínio público, senão quando interessam ao delírio esquizofrênico dos que prometem transformar o Acre numa Finlândia brasileira – não obstante os índices sociais em níveis africanos. Por aqui, tudo que é ruim dorme nas gavetas.

Não satisfeitos em escamotear a realidade, os autores do documento enviado ao deputado Donald exageraram nas referências às ações do governo, penetraram no caminho pantanoso da sociologia criminal e desembocaram nas obviedades de sempre. Cito uma: o agravamento da criminalidade é resultado do aumento do tráfico de drogas e “da expansão de sua comercialização em decorrência do baixo custo do entorpecente”. Evidente, não é mesmo?

Diz ainda a nota da Sesp que, diferente de outros estados, aqui o que “impulsiona a prática de crimes contra a vida são os fatores passionais”.

No Acre, até o amor ficou perigoso.

terça-feira, 20 de abril de 2010

Sobre imprecisões verbais e fenômenos (paranormais?)

A interdição da ponte sobre o rio Caeté, em Sena Madureira, rende um debate filosófico. Sei que filosofia é o menor dos desejos dos moradores daquele município nesse momento de crise. Mas a mãe de todas as ciências pode explicar muitas coisas. Só não explicará, por certo, a condução do caso à paranormalidade, como parece preferir o governo do Acre. Mas vamos por partes para que o entendimento seja completo.

Nesta terça, o petista Ney Amorim e o tucano Mazinho Serafim ignoraram uma máxima de Voltaire e engataram, na Assembleia Legislativa, um debate xucro - e o adjetivo nada tem a ver com as razões da porfia, senão com o modo como ela se desenrolou. Voltaire, o filósofo francês, disse o seguinte: "Se você quiser conversar comigo, defina seus termos".

Antes de prosseguirmos é preciso explicar que a ponte do Caeté custou mais de 10 milhões de reais aos contribuintes. No dia da inauguração, os petralhas fizeram festa e brindaram os populares com os discursos ufanistas e a pirotecnia de sempre.

Voltemos aos deputados. Serafim acusou o governo de incompetência, o diretor do Deracre de ter dito que quem não tiver barco que trate de atravessar o rio a nado e o local, com a interdição, de ter virado um caos. É claro que o parlamentar tucano exagerou ao empregar essa última expressão. Pode haver, entre os moradores de Sena Madureira, aborrecimento, algum prejuízo e muito transtorno. Caos, não.

A contraparte petista no debate resolveu emprestar novo sentido à prosa adversária. E disse que caos haveria se a ponte houvesse caído. E que, assim, o colega tucano mentia porque ela ainda está de pé. Ora, ora, dona Aurora, o deputado Ney Amorim certamente é conhecedor da dialética erística de Arthur Schopenhauer, autor de um livro chamado "Como vencer um debate sem precisar ter razão".

Razão o petista Ney Amorim está longe de ter, por isso, mais do que nunca, era preciso vencer o debate. E assim ele lançou mão de um dos ensinamentos do livro de Schopenhauer, a chamada "ampliação indevida", que consiste em levar a afirmação do adversário além de seus limites e exagerá-la. Serafim não disse que a ponte havia desmoronado, mas que lá reinava o caos. O caos, replicou Amorim, seria a obra ter caído, por isso atribuiu à afirmação adversária uma designação que ela passou a ter apenas a partir de sua interpretação sobre o que fora dito.

Bastava terem as partes seguido o conselho de Voltaire para que o trem semântico fosse recolocado nos trilhos do entendimento. Mas nem sempre a clareza é a melhor estratégia de quem faz a defesa do governo estadual. Na página deste último na internet, longe de admitir que houve erro na construção da ponte, optou-se por evocar uma "movimentação no solo" para justificar o problema. O texto prossegue dizendo que "a causa do fenômeno ainda não é conhecida, mas o laudo técnico será entregue o mais rápido possível pela equipe que está trabalhando no local".

Se o fenômeno for metafísico, o ex-deputado Marcos Afonso, líder de um grupo de afeiçoados à filosofia que se reúnem aos sábados na Biblioteca da Floresta, poderia ser chamado a dar seus palpites. Caso alguém desconfie de que a coisa está no âmbito da paranormalidade ou do espiritismo, aí é o caso de se apelar ao Padre Quevedo ou a Chico Xavier desencarnado.

Mas seja ou não deste mundo o fenômeno que causou o dano à ponte do rio Caeté, a solução certamente sairá, mais uma vez, do bolso do contribuinte.

Cruzada comercial acreana na China - aguardemos

Por Valterlúcio Campelo

Noves fora a linguagem ufanista, beirando a pieguice, que jornais e jornalistas estão utilizando para propagandear a visita da comitiva acreana à China, considero importante e necessário que tenha ocorrido. O problema está no enfoque de mão trocada. Explico.

Sem essa de "prospectar mercado para os produtos acreanos", por favor. Que produtos? Quase cem por cento do que se produz é madeira, castanha e carne. Fora disso, nada é economicamente relevante. Não precisaria ir a turma toda pra saber se a China precisa desses produtos, não é mesmo?

Do jeito que estão falando, parece que fomos lá perguntar quais entre os produtos acreanos a China precisa importar. Isto é falso. A verdadeira pergunta é: Quais produtos a China precisa que possamos, talvez, vir a produzir? Se o pessoal voltar com uma listinha razoável de uns cinco ítens já é algo a se comemorar, pois dada a dimensão da sua economia qualquer demanda chinesa pode significar a retirada do Acre da estagnação crônica. Isto se a turma do "não mexe" deixar.

Para desilusão de alguns, garanto que a China não parou para ver os acreanos vendendo, mas aposto que o Acre vai parar pra ver os chineses por aqui comprando. O quê, ainda não sei. Aguardemos o retorno de nossa cruzada comercial.

Campelo é autor do blog Valterlúcio COMENTA.

segunda-feira, 19 de abril de 2010

Sem muito que comemorar no Dia do Índio


No Dia do Índio este blog lembra que o kaxinawá Hunikui Muru, de 27 anos, tem saudades de seus dias de assalariado. Cláudio, como é conhecido pelos não índios, foi ajudante de pedreiro na capital do Acre.

Morador da aldeia Boca do Grota, no rio Envira, município de Feijó, o kaxinawá diz que trabalho braçal com salário ao fim do mês é preferível à vida incerta de plantar macaxeira na mata.

Apesar do pronunciamento do sempre muito otimista Binho Marques, segundo o qual o governo do Acre nunca fez tanto pelos indígenas como agora, com certeza Cláudio não teve o que comemorar nesta segunda-feira.

Dona Marta precisa urgente de um discurso

PARA MARTA, "FALTA DE DISCURSO" DE SERRA LEMBRA PT NA ÉPOCA DO PLANO REAL

Da Folha online
"O Serra está em uma situação difícil. É uma situação difícil de fazer campanha." Essa é a visão de Marta Suplicy (PT), ex-prefeita de São Paulo e e pré-candidata ao Senado, sobre a candidatura do ex-governador de São Paulo José Serra (PSDB) à Presidência da República.

"É como nós, o PT, estávamos na época em que foi lançado o Real. O Lula não tinha muito discurso para fazer porque era um tal sucesso. Vão usar o que podem, mas tem certas críticas que passam como chuva, não colam", disse a também ex-ministra do Turismo. Veja aqui.

Comento
Marta Suplicy precisa urgente de um discurso. Parece piada alegar que José Serra não tem o que dizer quando o Plano Real, gestado por FHC, estabelceu as diretrizes econômicas seguidas por Luiz Inácio. Serra acaba de deixar o governo do estado mais rico e desenvolvido do país com 87% de aprovação (considerando as notas ótimo, bom e regular, como fazem aqui no Acre para avaliar o governo Binho Marques). Se ela estivesse se referindo a Ciro Gomes ou Marina Silva, vá lá, mas ao atribuir a Serra esse tipo de coisa fica claro que não há munição a ser usada contra o candidato do PSDB.

O problema dos petralhas é que eles só sabem fazer campanha batendo nos outros. Muitos anos de oposição consolidaram neles esse reflexo. Ao invés de se concentrarem no discurso de que Lula ampliou as conquistas iniciadas lá atrás eles preferem se apoderar de tudo que foi feito na tentativa de esvaziar as glórias alheias. Mas essa conversa de botequim não vai vingar porque se tem alguém que não poderá mostrar o que fez, esse alguém é a companheira Dilma.

domingo, 18 de abril de 2010

Aos babaquaras de plantão

Por duas vezes fui chamado, via comentários deste blog, de bajulador. Como não escrevo louvaminhas para os irmãos Viana, não idolatro nenhum deputado ou senador petista ou não me curvo aos sequazes de Luiz Inácio, essa gente me vem tachar de adulador do José Serra. É claro que entendo a lógica abjeta de quem faz carreira dobrando a espinha: na falta da competência, esmeram-se em lamber as botas do poderoso mais próximo para poder comprar o pão de cada dia. E na cabecinha oca dessa gente, se o sujeito não puxa saco de um lado, haverá de o fazer do outro.

Mas a esses vagabundos que se escondem no anonimato e que aqui registram suas idiossincrasias achando que me ofendem, aviso: seus comentários serão mandados à lixeira – lugar ideal para as palavras dos biltres do petismo decaído.

E por que esses pelintras não saem daqui e ainda se dão ao trabalho de fazer comentários desairosos? Por que este bloguinho mal saído dos cueiros, creio, incomoda pela argumentação precisa, pela capacidade de desvelar a safadeza reinante e pela coragem de dizer aquilo que os veículos de comunicação, em sua maioria, escondem por força do repasse mensal de verbas públicas.

Sei que dói nessa gente perceber que com pouco mais de três meses de vida essa ferramenta vai ampliando, dia a dia, o número de leitores. A tendência é mesmo essa, meus queridos. Queiram ou não os babaquaras de plantão.

sábado, 17 de abril de 2010

O Datafolha brindou os petralhas com uma boa dose de ressaca

O mais importante na pesquisa do Datafolha não é que a diferença de dez pontos percentuais entre Serra e Dilma tenha se mantido em relação ao levantamento anterior, feito no final de março (que era de nove pontos). É por ter restituído aos fatos a verdade que o instituto Sensus tentou desfigurar em pesquisa recente.

A variação entre os candidatos ficou circunscrita à margem de erro, não obstante a pirotecnia que se fez nesse período em torno da candidata petista.

Ao contrário daquela realizada pelo Sensus, a pesquisa do Datafolha parece confiável. E não porque eu ache que seja, mas pelas razões expostas alhures e reproduzidas em post aí abaixo.

Mal os petralhas se recuperaram das comemorações do resultado anterior, o Datafolha lhes forneceu uma dose extra de ressaca. Recomendo aos sequazes de Lula que voltem ao copo, dessa vez para afogar as mágoas.

sexta-feira, 16 de abril de 2010

Lembrou dos bambus, senador?

O senador Tião Viana (PT) descobriu, na China, que vivemos um "forte momento da história humana com esta intensa troca de relações comerciais entre povos". Na verdade, trocam-se produtos a partir das intensas relações comerciais, não é mesmo?
E esse troca-troca é antigo, começou no período da Grandes Navegações e atingiu níveis estratosféricos há algumas décadas. Nada, portanto, dessa novidade portentosa vista pelo senador acreano em seu contato com os chinas.

Sou um sujeito de natureza otimista e até bastante crédulo em relação à boa fé alheia. Mas quando se trata das viagens internacionais dos irmãos Viana e sua retórica empulhadora sobre o que elas nos renderão de proveitos comerciais, aí sou obrigado a confessar que não acredito em uma só palavra do que eles dizem.

Quando governou o Acre, Jorge Viana, pelo que consigo lembrar, esteve na França, Peru, Canadá, Estados Unidos, China, África do Sul e Finlândia. Depois de visitar este último, um deslumbrado voltou dizendo que seu sonho era "transformar o Acre em uma Finlândia brasileira". Não conseguiu. Estamos mais para uma Colômbia, tamanha é a quantidade de drogas que circulam por aqui.

A cada viagem, Jorge justificava os gastos de dinheiro público com a tapeação de que eles seriam compensados pelos frutos de relações comerciais ainda hoje inexistentes.

Da mesma forma olho agora essa viagem à China - dessa vez protagonizada pelo irmão candidato a pensionista da previdência estatal. Quando surgiu na imprensa a primeira referência à ela, lembrei que em 2005 o senador Tião Viana apareceu com a história de que a economia acreana afinal encontrara o caminho das pedras. Iríamos, segundo largamente propalado pela imprensa sempre companheira, sair do buraco vendendo bambu para os chineses.

Cinco anos se passaram, e nada mais se disse sobre o assunto. Ao ver a lista dos 75 membros da comitiva que integra essa nova viagem, me percebi estranhamente aflito a torcer para que o senador tenha lembrado de levar os bambus.

Fábricas de embustes

Leia aqui como os institutos podem manipular os resultados de pesquisas eleitorais.

O rolo Sensus

PSDB ACUSA INSTITUTO SENSUS DE IMPEDIR ACESSO À PESQUISA ELEITORAL

Da Folha Online
Advogados do PSDB acusam a direção do Instituto Sensus de estar impedindo, neste momento, em Belo Horizonte (MG), o acesso de dois representantes do partido aos formulários da pesquisa realizada pelo instituto na semana passada, que apontou empate técnico entre os pré-candidatos José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT).

Na quinta-feira (15) à noite, o PSDB conseguiu uma autorização do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) para ter acesso aos documentos, para análise.

Na quarta-feira (14), o partido havia entrado com representação no tribunal contra o Sensus, argumentando que o instituto divulgou a pesquisa antes do prazo legal de cinco dias a partir da data de registro na pesquisa no TSE (leia mais abaixo). A pesquisa foi encomendada, segundo o instituto, pelo Sintrapav (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Pesada de São Paulo).

O advogado do PSDB, Ricardo Penteado, afirma que os representantes do partido chegaram à sede do Sensus, em Belo Horizonte, às 8h, com uma certidão expedida pelo TSE na noite de ontem, autorizando o acesso aos dados. Segundo Penteado, a direção do Sensus afirmou que só liberaria o acesso aos formulários com uma ordem direta do TSE. Esse documento foi enviado ao Sensus por fax às 11h44, reiterando os termos da certidão expedida ontem. No entanto, afirma Penteado, mesmo com a documento, o instituto agora pede um prazo até as 16h para liberar acesso aos formulários.

Íntegra aqui.

Comento
A coisa toda tem cheiro de maracutaia, não é mesmo? A começar pelo contratante da pesquisa, o desconhecido Sintrapav (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias de Construção Pesada de São Paulo). Qual o interesse da entidade companheira em avaliar a posição de cada candidato na corrida presidencial? Além do que, como a matéria da Folha Online revela, a pesquisa fora registrada inicialmente "em nome do Sindecrep (sindicato de trabalhadores em concessionárias de rodovias)". Como o Sindecrep negou a encomenda, o Sensus modificou o registro, dessa vez em nome do Sintrapav.

Além do que a tal pesquisa do Instituto Sensus foi concluída no dia 9 de abril, 24 horas antes do lançamento da candidatura de José Serra à Presidência da República. Considerando que foi o primeiro ato do ex-governador paulista a ter cobertura total da grande imprensa, e que isso certamente teve impacto sobre o eleitorado, o levantamento estaria caduco no dia seguinte. E por que gastar tanto dinheiro com algo que terá vida tão efêmera?

Para agravar a desconfiança geral, o instituto ainda dificulta o acesso dos tucanos aos formulários da pesquisa.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

Relato sobre a censura petista

Por Clélio Rabelo

Talvez fosse chegado o momento de se reproduzir o artigo que escrevi quando de minha despedida involuntária do Acre. Nele, condenso a prática nefasta da malfadada democracia que os “petralhas” apregoam. Na ocasião, entretanto, não cheguei a relatar que, à época em que fui coordenador de divulgação do governo, uma das minhas tarefas diárias era ir pessoalmente às redações de todos os jornais locais (Página 20, A Gazeta e A Tribuna) para, literalmente, editá-los.

No primeiro momento, o Rio Branco ainda se postava de oposição. Ou seja: o conteúdo, incluindo títulos, subtítulos, fotos e manchetes eram determinados por mim. Me sentia como um daqueles censores que tantos males trouxeram à democracia brasileira nos anos de chumbo do regime militar, em que pese o contexto político tivesse sido outro, e que obrigavam os grandes jornais e revistas brasileiros a preencher lacunas com receitas de bolos e figuras do “capeta” ou simbologias tais, em substituição a textos vetados. Começariam aí minhas divergências com as práticas nefastas dos petralhas.

Não nos esqueçamos que, quando o PT ainda engatinhava, foram pessoas como eu e outros raros colegas que abríamos espaço na imprensa local para que o partido tivesse um pouco de vez e voz nas emissoras de rádio, TV e jornais acreanos de então. Quem compartilhou comigo as agruras que representou a incursão do Narciso Mendes e asseclas ao jornal O Rio Branco (Romerito Aquino, Chico Araújo e tantos outros), sabe que chegou a ser editada pelos proprietários do jornal uma lista interna com aproximadamente 100 nomes que não poderiam ser divulgados no jornal. Alguns em nenhuma hipótese (caso de Marina Silva dentre eles), e outros apenas em casos circunstanciais. Ainda assim nós furávamos o bloqueio, apesar das broncas e até ameaças de demissão que sofríamos. Quando da campanha de Jorge Viana à prefeitura e, já trabalhando na TV Gazeta, uma das frases que mais ouvia do Roberto Moura era: “Vá fazer campanha para o PT quando você tiver a sua própria TV seu (...)”.

Recordemos ainda que, também antes da assunção ao poder, uma das bandeiras do PT era exatamente a falta de vez e voz na imprensa “burguesa”, o que era o brado retumbante das greves e manifestações que movimentavam as massas que os galgariam ao poder posteriormente.

Ademais, recordar é viver: o primeiro episódio da gestão Jorge Viana, às vésperas da posse, em 1999, foi protagonizado pelo Toinho Alves e o Altino Machado demonstrando, logo no primeiro momento, que comporiam uma equipe coesa: ambos disseram que a imprensa acreana era composta de jornalistas “de merda”. Não sei se teriam confundido a expressão com a sigla SERDA, um órgão do governo estadual que existiu ali na esquina das avenidas Getúlio Vargas e Ceará – bem em frente à antiga sede de O Rio Branco. Tratava-se, na verdade, da imprensa oficial acreana, que foi entregue ao empresário Eli Assem (leia-se A Tribuna) ainda na gestão Edmundo Pinto em condições até hoje não esclarecidas. E lá se vão quase 20 anos que o Diário Oficial do Estado é editado por uma gráfica “particular” – talvez caso único no país. Os demais “diários oficiais” são editados por outras gráficas.

*Clélio Rabelo é jornalista.

Nota do blog: A impressão do Diário Oficial deixou de ser feita após o surgimento de sua versão online. O DO virtual pode ser acessado no endereço http://www.diario.ac.gov.br

Privilégio de quem, cara pálida?

Da coluna Bom Dia, do jornal A Tribuna desta quinta-feira:

Binho na França

A coluna recebeu a informação privilegiada ontem de que Binho Marques, tão logo deixe o governo, irá à França, onde fará doutorado por dois anos
.


Isso é que eu chamo de privilégio - do Binho, mais um a se pendurar no cabide inconstitucional das pensões vitalícias.

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Ele falou. Melhor seria se houvesse calado

O governador Binho Marques cantou em versos, ontem, o que acha do jornalismo acreano. O soneto ficou ruim. O presidente do Sinjac (Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Acre), Marcos Vicenti, resolveu emendar as palavras do companheiro governador. E a emenda ficou pior.

Marcos decidiu dar uma interpretação pessoal ao que dissera Binho Marques. Só ele achou que as críticas, segundo as quais o jornalismo acreano é uma lástima e se escora na desculpa da falta de liberdade para continuar assim, eram dirigidas aos donos de jornal, e não aos jornalistas.

A falta de discernimento do presidente do Sinjac é reflexo do seu servilismo. O pior é a pantomima de bater nos empresários da comunicação como se isso mostrasse o cumprimento do dever de sindicalista. Mas o patrão é outro, atende pelo nome de Raimundo Angelim e é da mesma turma de Binho Marques.

Com salário na prefeitura petista, fica difícil para o rapaz afrontar os verdadeiros patrões. Isso a gente entende. O que não dá pra entender é a opção pela versão estúpida no lugar do silêncio recomendável.

Silêncio previsível

"O problema da censura, ao contrário do que dizem uns colegas, não é apenas dos donos de jornal. A subserviência de alguns repórteres e editores contribui para que nossas prerrogativas profissionais sejam desrespeitadas diariamente. Ajudaria muito se os jornalistas que têm medo de autoridade mudassem de profissão".

O trecho aí acima é de um artigo escrito por mim em julho de 2005. Pela reação que presenciei hoje de alguns jornalistas ao que disse ontem o governador Binho Marques sobre a imprensa acreana, é de se concluir que a "catiguria" continua submissa, dócil e desavergonhada. Não vi uma única nota do Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Acre sobre a versão cafajeste do governador para a censura que paira sobre os veículos de comunicação.

Mas o silêncio era previsível, já que o presidente do Sinjac figura na folha de pagamento da prefeitura companheira.

Aprovada lei de acesso a informações públicas

Do blog do jornalista Fernando Rodrigues

A Câmara dos Deputados acaba de aprovar, às 21h47 deste 13.abr.2010, o projeto de lei de acesso a informações públicas. O Senado agora precisa analisar o texto, que traz imensos avanços para esse direito no Brasil.

O principal avanço é o fim do instrumento do chamado sigilo eterno. Hoje, sem a lei, qualquer documento pode ficar indefinidamente guardado. Com a nova regra, papéis públicos ultrassecretos podem ser classificados por até 25 anos, com uma única renovação desse prazo possível. Ou seja, o prazo máximo é de 50 anos de sigilo.

A lei de acesso brasileira também tem uma abrangência inaudita em comparação com outros países –mesmo com a regra dos Estados Unidos, vigente desde 1966. Aqui, a norma será obrigatória para todos os níveis de governo (prefeituras, Estados e União) e todas as instâncias de poder (Legislativo, Executivo e Judiciário).

Um único retrocesso quase se deu durante a votação de hoje (13.abr.2010). O PSDB queria a retirada da liberação automática de documentos quando vencessem os prazos de sigilo. Seria um atraso, pois depois de 25 anos ou de 50 anos, os papéis só seriam liberados ao público se alguém fizesse um requerimento oficial. Caso contrário, a informação ficaria ainda em sigilo. A posição do PSDB acabou derrotada. Ou seja, depois de vencidos os prazos de sigilo, todos os documentos automaticamente serão obrigatoriamente colocados à disposição do público.

Outro avanço está nas listas de documentos classificados que terão de ser divulgadas, anualmente. Cada órgão público terá dizer quantos documentos colocou em sigilo. Assim, será possível saber, a cada ano, quantos papéis estão sendo mantidos em reserva e qual é a origem de cada um. Esse procedimento permitirá à sociedade acompanhar o processo e cobrar --se for necessário-- a autoridade pública quando os prazos de sigilo prescreverem.

O debate sobre esse projeto de lei começou em 2003, quando foi realizado um amplo seminário internacional em Brasília, com participação de várias entidades da sociedade civil. Daí nasceu o Fórum de Direito de Acesso a Informações Públicas, uma coalizão de mais de 20 entidades que fez o lobby a favor da lei.
Mais de 70 países no mundo já têm legislação semelhante. O Brasil está chegando lá. Atrasado, mas chegando. Isto é, se o Senado trabalhar agora e votar rapidamente o projeto.

Comento
Os acreanos precisam ficar atentos à votação no Senado, principalmente no que tange ao posicionamento do senador Tião Viana, cujo grupo político tem tratado o Acre como o quintal do PT e domínio da família Viana.

Mais tarde, em novo post, falarei de uma resposta dada pela Secretaria de Segurança Pública a requerimento do deputado Donald Fernandes (PSDB) solicitando os dados da criminalidade no estado.

terça-feira, 13 de abril de 2010

Versão cafajeste

Na versão cafajeste do governador Binho Marques, o jornalismo acreano "tem muita quantidade e pouca qualidade. E com pouca qualidade, muitos profissionais se escoram na desculpa que não têm liberdade".

A afirmação foi feita na manhã desta terça-feira a jornalistas escolhidos a dedo pela assessoria do governador, que gravou entrevista para a TV Aldeia. O blogueiro Francisco Costa fez um longo relato do ocorrido.

É uma pena que o ex-agitador cultural Binho Marques se escore na versão de que a imprensa do Acre é insipiente para justificar a censura imposta pelo seu antecessor e mantida por ele próprio. Com esse sofisma de quinta categoria, Binho tenta dar ares democráticos ao seu governo censor - e ainda coloca a culpa da rédea curta sobre os profissionais que se submetem ao comando petista instalado nas redações.

Vamos a um único exemplo. A estatal TV Aldeia nunca abriu suas portas para um parlamentar de oposição. Ali, no feudo petista, só quem tem voz são os petralhas e seus bajuladores. Como explicar que em uma emissora pública apenas um grupo político tenha voz? Como não há explicação possível para essa e outras contradições do governo, é mais fácil criar versões fajutas, como fez o governador.

Há muito tempo nenhum jornal acreano ousa publicar um artigo meu. E não preciso provar absolutamente nada sobre o meu trabalho ao petralha Binho Marques.

Sua fala é de um cinismo ímpar para quem continua a pagar com verbas públicas a complacência de uma imprensa que, acrítica e dócil, se põe a reproduzir cada uma das estultices ditas por ele e seus sequazes.

Do mesmo modo que São Pedro já foi culpado pelas chuvas que não permitem a conclusão das obras da BR-364, os jornalistas acabarão responsabilizados pelo fracasso da transformação do Acre no melhor lugar da Amazônia para se viver - marcada para acontecer até o fim deste ano.

Essa gente é capaz de tudo.

segunda-feira, 12 de abril de 2010

Sem espaço para a estupidez

Um pateta que frequenta este blog me deixa o lembrete de que aqui se pratica a censura porque tempos atrás fez um comentário sobre Marcio Bittar que não foi ao ar. Como o estulto rapazinho não entendeu o espírito do blog, vou explicar: este veículo não se presta a publicar asneiras contra pessoas que, estando fora do poder, não podem ser responsabilizadas pelos inúmeros descalabros verificados no Acre. Para isso há o jornal do Sr. Narciso Mendes, aquele ex-deputado que só se referia a Jorge Viana como ladrão, mas acabou por se render aos petralhas e agora acha que pode dar lição de moral em antigos aliados.

Ao estafeta das injúrias petistas lembro ainda que há por aí dezenas de outros blogs cuja existência é incentivada pelo mesmo poder que censura a imprensa acreana. Neles o sujeitinho atrevido pode falar mal à vontade de Marcio Bittar e de outros políticos oposicionistas.

Aqui, porém, não haverá espaço para que um atoleimado dê livre curso à sua estupidez. E nem adianta insistir.

O avião "atolado" e as manobras diversionistas

O relato que se segue foi enviado ao blog por um leitor que estava no voo 3775, que "atolou" ontem em um buraco da pista no aeroporto internacional de Rio Branco. Notem que um grupo de companheiros usou tática diversionista para que a culpa recaísse sobre a companhia aérea, e não sobre os verdadeiros responsáveis pelo problema.

Estava no avião da TAM que "atolou" no pátio de estacionamento do aeroporto de Rio Branco, consertado recentemente. Por volta de 14 horas embarcamos e logo depois o avião foi levado por um trator até o seu ponto de saída, sempre no pátio de estacionamento. Nesse momento, livre do trator, quando o avião tentou se mover... nada... estava atolado... no asfalto. Depois de diversas tentativas o piloto informou aos passageiros que teríamos de descer para aliviar o peso e assim foi feito. Fomos conduzidos de volta ao salão de espera. O calor nesse recinto estava bravo, tanto pela quantidade de gente presente quanto pelo ar condicionado fraco. Todo mundo receoso e desconfiado de que algo mais grave tivesse acontecido com o trem de pouso do avião. Depois de uns 45 minutos de espera, uma turma de petralhas do governo do Estado começou a querer se mostrar e passou a exigir da coitada de uma atendente da TAM que a empresa fornecesse água mineral e lanches, porque era inadmissível isso que havia acontecido e que eles queriam falar com o gerente da companhia. Os "artistas" foram contidos com algumas medidas paliativas.

Parece normal, não é?

Pois não é!

Primeiro, porque esse avião atolou no asfalto não foi por culpa da TAM, senão da incompetência de órgãos desse governo nefasto que aparelhou a administração pública. Há muito tempo que o aeroporto exige reparos e, quando são feitos, são remendos de péssima qualidade. O avião atolou e afundou num desses pedaços de asfalto que havia sido remendado recentemente, certamente porque a "obra" foi muito mal feita e pior fiscalizada. Ai vai entrar o jogo de corpo para um colocar a culpa no outro e ninguém ser responsabilizado.

A TAM nada teve a ver com o caso e aí é que aparece a má fé dos petralhas que queriam aparecer e mostrar serviço desviando a atenção dos verdadeiros culpados para colocá-la na companhia aérea. Água e lanches deviam ter sido cobrados da Infraero ou da aeronáutica, responsáveis diretos pela construção, manutenção e administração do aeroporto. Mas isso não podia ser feito porque a Infraero é administrada também por "companheiros", daí porque o pau tinha de ser quebrado com a TAM, empresa que tanto quanto os passageiros foi prejudicada, já que está tendo que arcar com hospedagem de pelo menos 40 passageiros que perderam conexões e com ações que outros tantos desinformados deverão mover na justiça, conforme faziam questão de anunciar em voz alta. OU seja, a petralhada conseguiu seu objetivo colocando a culpa na TAM e livrando a cara dos "companheiros" da Infraero. Estes, com certeza, vão querer "empurrar" o morto para as costas largas da Aeronáutica, segundo dizem, autora dos reparos, sem atentar que cabe ao Administrador de um bem público o zelo por tudo quanto é realizado nesse bem. Se as obras são mal feitas, se há desvios de recursos e de material, era obrigação da Infraero, administradora do Aeroporto, fiscalizar as obras e o serviço todo. Não o fez.

O fato acontecido no pátio de estacionamento afortunadamente não provocou nenhuma fatalidade, mas acontece que esses mesmos reparos foram feitos também na pista de pouso e aí o bicho pega. Já imaginou se durante um pouso de avião acontece uma atolada dessas?

O evento deixou claro que a obra está mal feita e que, tratando-se de um aeroporto, ela deve ser fiscalizada até pelo Crea para evitar tragédias futuras.

História cabeluda

O prefeito da cidade com o terceiro pior IDH (Índice de Desenvolvimento Humano) do País, Hilário de Holanda Melo (PT), está processando o acadêmico de direito Isaac Freire por uma comunidade que este criou no Orkut.

Em janeiro deste ano o estudante esteve no Jordão, em férias, e se deparou com a situação crítica das ruas do município. Segundo informações enviadas ao blog por e-mail, a comunidade que Isaac Freire criou no Orkut fazia uma analogia entre as ruas do Jordão e a “careca do prefeito Hilário Melo”. O petista não teria gostado da comparação e agora quer multar, via tribunal, a ousadia do rapaz. Pede uma reparação por dano moral no valor de R$ 36,6 mil.

A primeira audiência na Comarca de Tarauacá está marcada para o próximo dia 19, conforme consta no site do Tribunal de Justiça do Estado. Se há uma coisa que precisa ser reparada nessa história é que as ruas de lá nada têm de carecas, como mostra a fotografia aí acima (clique nela para ampliar). Este blog já tratou do assunto no post O prefeito que o PT esconde, do dia 30 de março.

Se o motivo da ação judicial for mesmo a comparação infeliz, é de se concluir que o prefeito Hilário Melo se preocupa muito mais com sua calvície que com o estado lamentável das coisas no Jordão.

sábado, 10 de abril de 2010

Verdades e mentiras

"Quanto mais mentiras disserem sobre nós, mais verdades diremos sobre eles".

Do tucano José Serra, em discurso proferido durante o lançamento de sua candidatura à Presidência da República. Neste sábado, em Brasília.

Bom senso, por enquanto, só da assessoria

O recato profissional impediu que a experiente repórter Golby Pullig, da Agência de Notícias do Acre, desse asas a mais uma patacoada de nosso governador Binho Marques. Em evento realizado graças à parceria entre o Tribunal de Contas, Procuradoria Geral e Governo do Estado, que tratou das leis eleitoral e de responsabilidade fiscal, Binho voltou ao discurso delirante de que o Acre, mais uma vez, será modelo de gestão pública para o Brasil.

Não obstante o arroubo despropositado do governador, o jornal A Tribuna reproduziu-lhe o disparate. A versão fantasiosa de que o Acre segue dando exemplo ao restante dos terráqueos ganhou espaço privilegiado na edição deste sábado (veja as duas matérias aqui e aqui).

Pergunto se já não está na hora do governador Binho ser um exemplo de bom senso e acabar de vez com essa mania de querer pintar a realidade com as tintas da ilusão. Um bom indício da conveniência desse momento é que nem mesmo sua assessoria de imprensa cai na esparrela de replicar-lhe as estultices.

sexta-feira, 9 de abril de 2010

Quarteto fantástico



Acaba de sair do forno a chapa majoritária da Frente Popular do Acre. Nenhuma novidade na indicação do elenco, conforme mostra a imagem acima. Jorge Viana e Edvaldo para o Senado e Tião e César Messias para o governo.

Como não podia ser diferente, sobrou fanfarronice no evento. Os quatro, na versão enviada à imprensa, formam "a chapa dos sonhos" da Frente Popular.

O governador Binho Marques afirmou se tratar de uma chapa "rica e jovem de vigor". Jovem nem tanto, não é mesmo? Mas com certeza muuuuito rica...

Candidato a Armando Nogueira

A morte do maior jornalista esportivo do País parece ter açulado a veia poética de aspirantes ao posto. A frase que reproduzo aí abaixo foi pinçada de uma matéria de Victor Luciano, da Agência de Notícias do Acre, sobre o jogo entre o Atlético Acreano e o Vasco na abertura da quinta rodada do campeonato estadual. Pena que Armando tenha morrido sem ler a pérola que se segue:

"No céu não havia nuvens, mas isso não impediu uma chuva de gols no segundo jogo da rodada".

O cenário ideal e o imperativo da realidade

Lula diz que eleição deste ano será a mais fácil do PT

Da Folha Online
Ao discursar nesta quinta-feira no ato político de apoio do PCdoB à pré-candidatura da ex-ministra Dilma Rousseff (PT), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse que nunca houve no Brasil uma campanha eleitoral "tão fácil" à Presidência da República como a deste ano. Lula disse que, apesar de reconhecer a força dos adversários, o PT está mais "preparado" para enfrentar seus opositores.

"Eu, sinceramente, acho que nós não vamos ter uma campanha fácil. Mas se depender dos times que estão em campo, nunca tivemos uma tão fácil. Não porque os adversários sejam fracos", disse.

Íntegra aqui

Comento
Alguém duvida de que, entre Serra e Dilma, o primeiro seja o mais cotado para vencer as eleições de outubro? Nem vou entrar em detalhes sobre o preparo, a competência administrativa e a experiência política de cada um. São aspectos importantes em uma eleição, mas não necessariamente decisivos. Lula, não obstante sua destreza política, se expressa, por vezes, consoante seus desejos.

É óbvio que os petralhas gostariam de uma eleição mais fácil do que as duas anteriores, nas quais Serra e Alckimin foram derrotados pelo atual presidente. Isso está longe de ser o caso atual porque seus anseios tropeçam no imperativo da realidade. Segundo esse imperativo, o candidato tucano só amanhã se declara candidato contra Dilma, que vem de uma longa campanha eleitoral que mereceu, inclusive, duas multas do TSE - e nem assim o tucano teve menos de 30% das intenções de voto, segundo as pesquisas.

Na eleição deste ano José Serra já derrotou Dilma Rousseff. Falta agora vencer o cabo eleitoral Luiz Inácio.

quinta-feira, 8 de abril de 2010

Estrada da vergonha

No Acre, a embromação tem nome: chama-se BR-364. Há 12 anos o governo da floresta avança a passos de cágado naquilo que já serviu de cavalo de batalha do PT contra o agora aliado Orleir Cameli. O PT, na época, não queria asfalto na BR. Agora que o quer desesperadamente, o asfalto não sai.

Nas eleições de 2006, após oito anos de governo de Jorge Viana, o então candidato Binho Marques anunciou que até o final de 2010 a estrada estaria asfaltada. O término do mandato do atual governador se aproxima e nada de inauguração da obra.



Recentemente, os petralhas encontraram em São Pedro um bode expiatório. A chuva que irriga as plantações inexistentes da zona rural é a mesma que desfaz sonhos na BR. Binho, ante a iminência do fracasso, tratou de consertar uma mentira com outra pior, ao desdizer o que havia dito em campanha.

As imagens aqui postadas foram feitas pelo deputado estadual Luis Gonzaga (PSDB), em recente viagem a Cruzeiro do Sul.



Notem que esta última imagem mostra a fragilidade do asfaltamento recém-concluído pelo governo. Certa vez, ao falar com uma amiga sobre a delicadeza da obra, ela, talvez influenciada pela intensa propaganda governista, invocou as chuvas para justificar os frequentes estragos. Então perguntei se ela sabia que na região Osaka, no Japão, existe um aeroporto construído sobre o mar.

Esse aeroporto tem capacidade para cem mil passageiros por dia e sua estrutura se sustenta sobre mil estacas de aço, de 90 metros de cumprimento cada uma.

É uma lástima que engenheiros japoneses construam um aeroporto sobre as águas enquanto na BR-364 não se faça um asfalto capaz de de suportar as chuvas. Temos competência de menos ou descaso demais?

quarta-feira, 7 de abril de 2010

No limiar do despudor

Ai, meu Jesus Cristinho! Lá vem eles de novo com essa história de que o Acre é modelo de desenvolvimento, exemplo para o mundo, salvação da lavoura universal...

Leio no site do governo da floresta que o jornalista John Lyons, do The Wall Street Journal, virá conhecer o milagre econômico que se processa na terra de Chico Mendes e de Jorge Viana. Mas há um porém, meus amigos. O corpo da matéria destoa do título, que diz "Economia do Acre será destaque em jornal norteamericano". O subtítulo é ainda mais presunçoso: "Oportunidade representa o reconhecimento por parte da imprensa mundial em retratar o trabalho que está sendo desenvolvido no Estado".

Do jeito que a farsa está montada, o leitor é induzido a pensar que o interesse do segundo maior jornal dos Estados Unidos é com a economia acreana - e apenas lá no fim do texto a gente fica sabendo a verdade. Lyons virá ao estado para relatar o projeto de implantação do Via Verde Shopping em Rio Branco. Os proprietários do empreendimento são responsáveis pelo convite ao jornalista, que APROVEITARÁ a visita ao Acre para saber mais sobre aspectos culturais, econômicos e sociais do estado.

Não é uma beleza que o governo pegue carona no acontecimento e o transforme em outro factóide? O Via Verde Shopping nada tem a ver com florestania, casas de farinha, extrativismo - mas acabou virando, na versão estatal, apenas mais um dos aspectos do sonhado desenvolvimento sustentável. A matéria vende gato por lebre em sua tentativa desavergonhada de ludibriar o leitor. Por isso me pergunto: quantos imbecis entre os poucos internautas e leitores de jornais do Acre são capazes de acreditar num logro como esse?

Confesso que li o texto esperando o momento em que a redatora diria que o Acre, afinal, encontrara a oportunidade de mostrar aos norte-americanos como desenvolver uma região...

Mas descobri que essa gente, pelo menos nesse caso, impôs limite ao próprio despudor.

Durma-se com um barulho desse

A Secretaria de Estado de Articulação Institucional do governo da floresta assinou contrato com a Empresa T. A. Mota - ME para que esta preste "serviços de sonorização e iluminação para eventos de pequeno, médio e grande porte para atender as necessidades da SAI". O ajuste, detalhado no Diário Oficial de ontem (terça), vai durar apenas oito meses e custará à patuléia mais de 1 milhão de reais - ou cerca de 126 mil ao mês.

Suponho que a empresa contratada tenha muito serviço pela frente, pois só assim se justificaria o elevado preço de seus préstimos. 126 mil reais divididos por 30 (presumindo que não haverá folga aos sábados ou domingos), dá mais de 4,2 mil por dia.

A que se prestam os "serviços de sonoroziação" senão para que as vozes oficiais sejam ouvidas em dezenas de congressos, encontros, workshops, seminários e reuniões?

Já passou da hora dessa gente falar menos e fazer mais.

terça-feira, 6 de abril de 2010

Um dia a casa cai



O estado do Acre tinha, em 2006, um deficit habitacional estimado em 28.933 moradias, o que correspondia a 17,8% do total de residências. Esses números são da Pnad (Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios) realizada pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Segundo o levantamento, o déficit habitacional acreano na época estava acima da média nacional, de 14,5%.

O Ministério das Cidades sustenta que esse déficit, no País inteiro, caiu para 5,8 milhões de unidades em 2008. Como o governo local não divulga os números do setor é de se concluir que o problema no Acre continua grave.

Ainda que uma parcela significativa do povo acreano não tenha casa pra morar, ou more em condições degradantes como mostra a imagem aí acima, captada pelo fotógrafo Dhárcules Pinheiro, o governo da floresta continua a malbarartar recursos com aluguéis de imóveis. A prefeitura de Rio Branco segue hospedada no prédio do ex-deputado José Bestene, como todos sabemos. Se o valor do aluguel não foi reajustado nos últimos seis anos, o que duvido, a camaradagem custa aos contribuintes 19 mil reais por mês.

No Diário Oficial dessa terça-feira é possível saber também que a Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia acaba de alugar um imóvel na avenida Floriano Peixoto, nº 1.135, Centro, por módicos 9,3 mil reais por mês. Não é pouca coisa, convenhamos. O valor total do contrato, de 12 meses, é de 111 mil e 600 reais.

Há quase doze anos uma turma de animados companheiros leva vida mansa no Acre. Muitos, amigos dos poderosos, ganham de presente uma nomeação no serviço público, ainda que a incompetência seja o único atributo no currículo profissional. Outros preferem contar com o paternalismo estatal em seu modo discricionário de comerciar privilégios - e se tornam fornecedores de bens e serviços nem sempre úteis à população.

Mas, como se diz no popular: um dia a casa cai...

Resposta de um leitor ao blogueiro

O assunto do post abaixo é polêmico e eu sabia que despertaria opiniões contrárias. Como sou fascinado pelo debate, publico aqui o comentário feito pelo leitor J. Adolfo Bezerra, que faz considerações pertinentes sobre o tema (menos quando me atribui um preconceito inexistente sobre o apoio dos evangélicos ao governo da Frente Popular). Não debato para ter razão, mas para encontrá-la em algum lugar, ainda que seja nos argumentos alheios.

Segue o comentário do leitor:


Caro escriba,
Embora seja leitor assíduo deste seu blog, e o seja única e exclusivamente por admirar seu modo de escrever, não posso deixar de discordar de você à respeito desta matéria.

Vamos lá:

1°) O argumento sobre o laicismo do estado é pertinente, mas é aberto a uma dialética lógica: ora, se o dito estado é laico, segundo nossa Carta Magna, é livre para interagir com qualquer entidade religiosa, como o faz com outros convênios assinados (é só procurar) com a Igreja Católica, com a União do Vegetal e com outras denominações. Se não existisse este laicismo, haveria, sim uma cumplicidade tendenciosa.

2°) Como você mesmo disse, quase todos pagamos (muitos) impostos. Mas já decidimos, mesmo que de forma torta, pra onde vão estes recursos, pois o fazemos através de representantes eleitos (gostemos ou não) legitimamente pelo povo (estamos neste meio). É um dos princípios da república.

3°) Acho que o amigo está sendo preconceituoso quando faz referência à presença de evangélicos na base de apoio ao governo. Por essa linha de raciocínio, nenhum governo poderia firmar convênios com a Igreja Católica, por exemplo, pois a porcentagem de católicos no Brasil é de cerca de 60%. Quantas bases governistas são compostas por a grande maioria de católicos? Nem por isso fica proibido firmar-se convênios com esta igreja.

Os governos têm, sim, que tratar à todas as crenças com a equidade do estado laico, destinando verbas (dentro de um limite razoável, é claro) a projetos sociais e outras atividades que possibilitam o reencontro do homem com Deus, retirando-o das desgraças da bebida, das drogas, da prostituição e de outros males.

Parabéns pelo blog. Continue a ser independente e audaz.

segunda-feira, 5 de abril de 2010

Efeito Tostines

No Diário Oficial desta segunda-feira (não me refiro ao jornal Página 20) consta o detalhamento de dois convênios assinados pela titular da Secretaria de Estado de Desenvolvimento para Segurança Social, Laura Okamura, e representantes de duas igrejas evangélicas.

Sob a justificativa do apoio a obras sociais, o governo vai repassar R$ 40 mil à 1ª Igreja Batista de Cruzeiro do Sul, "através da reforma da cobertura do templo para oferecer mais conforto e segurança no atendimento à comunidade".

O segundo termo de convênio objetiva, também, apoiar as atividades sociais da Igreja Evangélica Assembléia de Deus do município de Senador Guiomard, no km 45 da BR-364. O governo vai depositar R$ 5 mil na caixinha da entidade, para a reforma de seu espaço físico.

Não sou religioso, e se o fosse provavelmente escolheria uma religião que fizesse do silêncio e da quietude os principais canais de comunicação com o Todo-Poderoso. Também não condeno o repasse de verbas às igrejas por reconhecer que a maior parte delas tem prestado relevantes serviços sociais.

Mas me dou o direito de questionar os critérios norteadores da aplicação de recursos públicos em igrejas evangélicas quando 1º) o estado é definido como laico e assim sendo deveria agir com equidade na destinação das verbas a igrejas; 2º) quase todos (evangélicos ou não) pagamos impostos e deveríamos decidir se esses repasses são corretos; e 3º) pelo fato de grande parte da força política da Frente Popular do Acre se constituir de egressos dessas igrejas.

Vejamos. O prefeito Raimundo Angelim, do PT, conta com o apoio do presidente da Câmara Municipal de Rio Branco, Jessé Santiago, e dos vereadores Astério Moreira e Cabide. Na Assembléia Legislativa, a FPA segue apoiada pelos deputados Helder Paiva, Walter Prado e Dinha Carvalho. E no plano federal há a devoção política do deputado federal Henrique Afonso e, claro, da senadora Marina Silva. Todos evangélicos.

A pergunta que gerou este post foi a seguinte: as igrejas evangélicas recebem vantagens estatais por que seus parlamentares aplaudem o governo ou os parlamentares aplaudem o governo por que suas igrejas recebem vantagens estatais?

Em tempo: o convênio com a igreja de Senador Guiomard recebeu a assinatura, como representante desta, de Osmir Lima de Araújo. Caso se trate do ex-deputado federal que outro dia foi entregar ao senador Tião Viana as chaves do PTB, está mais do que patente a natureza política do ajuste.

Lei seca eleitoral

"Se Lula continuar ironizando as multas que vem tomando por campanha antecipada, o TSE vai acabar apelando pro bafômetro".

Da coluna do Tutty Vasques, no Estadão.

Ética petralha

A semana começa animada, com a candidata do Lula dizendo que "o debate centrado na ética" é bom para os petralhas. Ela falou hoje a dois repórteres do Estadão. Dilma concedeu a entrevista no Parque da Península dos Ministros, no Lago Sul (Brasília), pouco antes de sua caminhada diária. Falou de improviso, o que justifica o discurso atabalhoado, elíptico e vazio dos que se acostumaram a lidar com subalternos companheiros. Manda, porém, o jogo democrátio (e daí a minha suspeição de que eles não gostam muito da democracia pelo trabalho que ela dá) que a ex-ministra agora persuada o eleitor com o que ela tem de pior, que é a sua retórica de botequim.

Vejamos um exemplo nas palavras da dita cuja:

"Não tivemos na saúde, nos últimos 30 anos, um momento tão propício, como agora. Demos um grande salto quando estruturamos o SUS (Sistema Único de Saúde), ninguém pode negar. O SUS de um lado garantia a atenção básica e a partir de um certo momento, as unidades básicas de saúde, com saúde da família, que atendem a gestantes, crianças e aqueles que têm doenças como diabetes, hipertensão. E tinham os hospitais". Íntegra da entrevista aqui.

Entenderam? É claro que não, já que Dilma Rousseff não consegue dizer as coisas com o mínimo de clareza. Traduzo o que ela gostaria de ter dito: a reestruturação do SUS determinou que aos municípios brasileiros coubessem os serviços que antes eram administrados pela União, como a atenção básica de saúde, a saúde da família, o atendimento às gestantes e crianças e aos portadores de doenças como diabetes e hipertensão. Beleza.

O problema é que a explicação do que Dilma quis dizer não torna verdadeira a sua versão dos fatos. O Sistema Único de Saúde - para usar uma definição do meu amigo Miguel Ortiz, advogado e assessor jurídico do CRM-AC - não existe. O governo federal, que passou a estados e municípios as obrigações que lhe cabiam, não determinou ainda hoje suas contrapartidas financeiras, ainda que municípios sejam obrigados a aplicar 12% de sua receita no setor e os estados, 10%.

O SUS até hoje também não fez o Plano de Cargos, Carreira e Remuneração dos servidores municipais de saúde. E não o faz porque assim teria de repassar os recursos aos municípios, o que acabaria com a barganha política que norteia, vergonhosamente, a liberação dessa dinheirama.

Dilma não sabe o que é hospital público, como não sabe o ex-governador Jorge Viana, outro paladino da ética. Na primeira oportunidade que teve de conferir a saúde que ele próprio implantou no Acre, Jorge voou para São Paulo. Em novembro de 2007, acometido por um cisto no nervo auditivo esquerdo, o ex-governador internou-se na Unidade de Terapia Intensiva do Hospital São Luiz, na Zona Sul paulista, para fazer a remoção do tumor.

Há poucos dias, como Dilma Rousseff, Jorge Viana invocou a ética em seu discurso panfletário ao dizer o seguinte: "Quero fazer isso [uma campanha] de modo que possa me tornar uma referência de honestidade e ética para o Brasil, isto é, com uma candidatura sem esquemas e estruturas materiais que possam afrontar a realidade brasileira".

Jorge Viana entende tanto de ética quanto Dilma Rousseff de saúde pública.

domingo, 4 de abril de 2010

Cacarecos

Queridos, a folga que nos bateu à porta me tirou um dias da frente do computador. Confesso que estava precisando. Fui ali em Cobija comprar uns cacarecos. Aproveitei para trazer um charutos cubanos. São a única coisa realmente boa que o regime de Fidel Castro continua a oferecer ao mundo.

De resto a fronteira anda a mesma: hotéis ainda mais caros pelo aumento da demanda a ostentar os serviços precários de sempre. Os visitantes tinham pressa em fazer compras antes que a fronteira se fechasse para as eleições deste domingo.

Pela primeira vez vi crianças bolivianas nos estacionamentos, implorando para 'cuidar' dos carros dos turistas brasileiros. Relacionei uma coisa à outra e cheguei à conclusão de que o aumento da mendicância infantil deve ser outra das muitas conquistas do governo do companheiro Morales.

Em troca, o povo fatalmente vai agraciar os aliados do atual presidente com cargos importantes na maioria dos departamentos bolivianos.

quinta-feira, 1 de abril de 2010

Yes, nós temos bananas



Pode faltar tomate, cebola, pepino, abóbora, alface, beterraba, berinjela, repolho, cenoura, pimentão, couve, batata... Até o peixe que os acreanos comeriam na Semana Santa vai faltar porque os apurinã bloquearam a BR-317.

Faltam incentivos ao produtor rural na terra da florestania. Faltam empregos, cultura, cinemas, teatro, educação e saúde de qualidade.

Mas não faltarão bananas, como mostra a imagem captada pelo fotógrafo Dhárcules Pinheiro nessa quarta-feira, na Ceasa.

Diz a música de Alberto Ribeiro e João de Barro, "Yes, nós temos banana/ Banana pra dar e vender/ Banana, menina, tem vitamina/ Banana engorda e faz crescer".

A verdade é que temos bananas demais.