sábado, 30 de abril de 2011

"Entrega ou te dou um tiro na cara"

Minha filha de 13 anos foi assaltada na volta da escola, na sexta-feira à tarde, no bairro Tropical. Ao atender o telefone celular, um bandido se aproximou, apontou-lhe uma arma e confiscou o aparelho. "Entrega ou te dou um tiro na cara", disse o assaltante.

Até 12 anos atrás, quando Jorge Viana assumiu pela primeira vez o governo, esse tipo de ococrrência era rara no melhor lugar da Amazônia para se viver. Três mandatos petistas depois, as pessoas se trancam em casa e nem por isso estão seguras: as quadrilhas armadas agora invadem residências, rendem os proprietários e levam tudo que podem.

Outro dia, em um debate no Facebook, uma amiga, ao defender o governo para o qual trabalha, falou em segunda Revolução Acreana, atribuindo as honrarias aos companheiros Jorge, Binho e Tião. Com o ingresso do oxi no país via Acre, logo as consequências dessa "revolução" serão ainda mais assustadoras.

Só nos resta rezar pela segurança daqueles que amamos.

quarta-feira, 27 de abril de 2011

Carta comovente

LIÇÃO DE VIDA PARA O OCIDENTE

A carta abaixo foi escrita por um imigrante vietnamita que é policial em Fukushima, no Japão. Foi enviada a um jornal em Shangai que traduziu e publicou. Eu procurei ser o mais fiel possível ao texto original. Espero que gostem!

"Querido irmão,

Como estão você e sua família? Estes últimos dias tem sido um verdadeiro caos. Quando fecho meus olhos, vejo cadáveres e quando os abro, também vejo cadáveres.

Cada um de nós está trabalhando umas 20 horas por dia e mesmo assim, gostaria que houvesse 48 horas no dia para poder continuar ajudar e resgatar as pessoas.

Estamos sem água e eletricidade e as porções de comida estão quase a zero. Mal conseguimos mudar os refugiados e logo há ordens para mudá-los para outros lugares.

Atualmente estou em Fukushima – a uns 25 quilômetros da usina nuclear. Tenho tanto a contar que se fosse contar tudo, essa carta se tornaria um verdadeiro romance sobre relações humanas e comportamentos durante tempos de crise.

As pessoas aqui permanecem calmas – seu senso de dignidade e seu comportamento são muito bons – assim, as coisas não são tão ruins como poderiam. Entretanto, mais uma semana, não posso garantir que as coisas não cheguem a um ponto onde não poderemos dar proteção e manter a ordem de forma apropriada.

Afinal de contas, eles são humanos e quando a fome e a sede se sobrepõem à digindade, eles farão o que tiver que ser feito para conseguir comida e água. O governo está tentando fornecer suprimentos pelo ar enviando comida e medicamentos, mas é como jogar um pouco de sal no oceano.

Irmão querido, houve um incidente realmente tocante que envolveu um garotinho japonês que ensinou um adulto como eu uma lição de como se comportar como um verdadeiro ser humano.

Ontem à noite fui enviado para uma escola infantil para ajudar uma organização de caridade a distribuir comida aos refugiados. Era uma fila muito longa que ia longe. Vi um garotinho de uns 9 anos. Ele estava usando uma camiseta e um par de shorts.

Estava ficando muito frio e o garoto estava no final da fila. Fiquei preocupado se, ao chegar sua vez, poderia não haver mais comida. Fui falar com ele. Ele disse que estava na escola quando o terremoto ocorreu. Seu pai trabalhava perto e estava se dirigindo para a escola. O garoto estava no terraço do terceiro andar quando viu a tsunami levar o carro do seu pai.

Perguntei sobre sua mãe. Ele disse que sua casa era bem perto da praia e que sua mãe e sua irmãzinha provavelmente não sobreviveram. Ele virou a cabeça para limpar uma lágrima quando perguntei sobre sua família.

O garoto estava tremendo. Tirei minha jaqueta de policial e coloquei sobre ele. Foi ai que a minha bolsa de comida caiu. Peguei-a e dei-a a ele. “Quando chegar a sua vez, a comida pode ter acabado. Assim, aqui está a minha porção. Eu já comi. Por que você não come”?

Ele pegou a minha comida e fez uma reverência. Pensei que ele iria comer imediatamente, mas ele não o fez. Pegou a bolsa de comida, foi até o início da fila e colocou-a onde todas as outras comidas estavam esperando para serem distribuidas.

Fiquei chocado. Perguntei-lhe por que ele não havia comido ao invés de colocar a comida na pilha de comida para distribuição. Ele respondeu: “Porque vejo pessoas com mais fome que eu. Se eu colocar a comida lá, eles irão distribuir a comida mais igualmente”.

Quando ouvi aquilo, me virei para que as pessoas não me vissem chorar.

Uma sociedade que pode produzir uma pessoa de 9 anos que compreende o conceito de sacrifício para o bem maior deve ser uma grande sociedade, um grande povo.

Bem, envie minhas saudações a sua família. Tenho que ir, meu plantão já começou.

Ha Minh Thanh".

Recebi o texto por e-mail do amigo Miguel Ortiz. Nele, não há referência ao tradutor.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Aviso aos navegantes

Compromissos profissionais inadiáveis continuam a me manter afastado do blog. Espero voltar a ele a partir de amanhã.

Grato a todos que me acessam aqui.

quarta-feira, 20 de abril de 2011

A versão, companheiro, é sempre mais importante que o fato, não é mesmo?

A matéria do jornal O Globo sobre o oxi, a nova droga que promete transformar o crack num doce de criança, foi rechaçada nesta quarta pelo senador sem votos Anibal Diniz, do PT. A assessoria de imprensa do parlamentar enviou aos veículos de comunicação release em que em Anibal condena a forma "preconceituosa" com que o diário tratou o drama dos viciados.

Segundo ele, “nós não podemos aceitar, enquanto representantes de um Estado pequeno como é o Estado do Acre, que a pecha de facilitação para o tráfico e para consumo de drogas aconteça na comunidade”.

A matéria d'O Globo é clara sobre a responsabilidade do governo federal quanto à fiscalização das fronteiras. Como foram os companheiros de Brasília que passaram a navalha em R$ 1,5 bilhão do orçamento da Polícia Federal, convém criticar os jornalistas que mostraram uma sociedade cada vez mais à mercê dos entorpecentes. Trata-se de uma inversão à altura do discernimento do senador petista.

Ele teria dito ainda, segundo a assessoria, "que o governo do Estado tem procurado entender a questão do aumento no consumo de drogas, especialmente entre os jovens". E para rechaçar a informação, tomou como base os dados da Secretaria de Estado de Segurança Pública.

Como a matéria não revela que dados são esses, fica difícil saber a que se referia o parlamentar.

O pronunciamento de Anibal Diniz é mais uma prova de que aos companheiros não interessam os fatos em si, mas apenas as versões de que eles podem se revestir quando vão parar nas páginas dos jornais.

Foto: José Cruz/Agência Senado.

terça-feira, 19 de abril de 2011

A lógica, mais uma vez, desmente o governo


Os tomates já eram conhecidos das civilizações inca, maia e asteca antes mesmo da chegada dos europeus ao continente. Cinco séculos depois dos gringos terem ambientado a fruta ao Velho Mundo, o governo petista anuncia que a descoberta de uma nova técnica de plantio vai possibilitar a expansão do cultivo no Estado.

“Essa é uma técnica adequada para o nosso Estado. O produtor tem imensa facilidade no manejo e o tomate é totalmente sem agrotóxico. No balde são colocados apenas areia e material orgânico”. A explicação é do produtor Carlos Aparecido, o Carlão, que segundo a assesoria do governo "implantou um projeto piloto em sua propriedade, no Quinari, e espera faturar R$ 2 mil por mês com a plantação de mil pés de tomate".

Carlão está certo em dizer que a técnica é adequada ao Acre? Duvido. Cultivar hortaliça em balde é coisa de quem mora em cidade grande e não dispõe de espaço para plantar. Não é à toa que seu aprendizado se deu em São Paulo.

Nosso caso é totalmente diferente do que eles pretendem nos fazer acreditar: há terras demais e produção de menos, justamente porque o governo não incentiva os agricultores.

A oposição ainda haverá de aprender que a lógica é a arma mais poderosa que se pode usar contra o governo do PT.

Discurso edulcorado


No dia 12 de março do ano passado, mostrei aqui a história de Cláudio Alberto Nunes, ou Hunikui Muru, como é conhecido pelos seus parentes indígenas. Ele vive na aldeia Boca do Grota, no rio Envira, em Feijó, para onde voltou depois de morar em Rio Branco e trabalhar como ajudante de pedreiro.

Quando o conheci, Cláudio lamentava a situação em que viviam todos de sua aldeia e admitia ter saudades dos tempos em que o trabalho braçal lhe rendia um salário mínimo por mês.

Hoje, Dia do Índio, é também dia de protesto por parte daqueles que há décadas só servem para edulcorar o discurso ufanista e sem vergonha dos donos do poder no Acre.

sábado, 16 de abril de 2011

Memória

Carlos Drummond de Andrade

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão

Mas as coisas findas
muito mais que lindas,
essas ficarão.

A minha forma de lhe falar...

Para Clara.



Nunca se esqueça nenhum segundo
que eu tenho o amor maior do mundo

quinta-feira, 14 de abril de 2011

Caridade com o chapéu alheio, ou: como pagaremos as contas dos paraguaios

Energia elétrica no Acre é artigo de luxo,certo? E com cerca de 40% do valor pago apenas em impostos, o usufruto do serviço é coisa para gente bacana, como costuma dizer o deputado Moisés Diniz, do PCdoB.

O movimento que tenta amainar a voracidade do governo por tarifas escorchantes, responsáveis estas pela carestia das contas de luz, haverá de esbarrar na penúria dos cofres públicos.

Como a maré econômica não está pra peixe, minha opinião é que o movimento por menos tarifas e mais energia vai morrer na praia. Não bastasse o pessimismo dos que, como eu, sabem que os governos nada produzem a não ser despesas a serem pagas pela puleia, a companheirada resolveu passar o chapéu para ajudar os paraguaios. Isso mesmo, os paraguaios.

Como há certas notícias para as quais a imprensa do Acre faz ouvidos de mercador, nada foi dito sobre a aprovação na Câmara dos Deputados do projeto de decreto legislativo referente ao Tratado de Itaipu, na semana passada. Pela proposta do governo federal, os repasses da União ao governo dos hermanos - relativos ao uso do excedente de energia da usina hidrelétrica de Itaipu - seriam reajustados dos atuais R$ 120 milhões para R$ 360 milhões ao ano.

Os deputados federais da base governista conseguiram aprovar na Câmara Federal o projeto por 285 votos contra 54. Perpétua Almeida (PCdoB), Sibá Machado (PT), Taumaturgo Lima (PT) e Antonia Lúcia (PSC) ajudaram a salgar a conta para os brasileiros.

É preciso lembrar que esses mesmos parlamentares votaram contra o reajuste de 15 reais do salário mínimo. E que o aumento dos repasses ao governo paraguaio se dá em um momento em que o governo federal faz cortes bilionários no Orçamento.

Como a ordem do governo é aprovar a tunga no bolso do brasileiro, espare-se que os senadores Jorge Viana e Aníbal Diniz, do PT, além de Sérgio Petecão, do PMN, confirmem mais essa caridade com o chapéu alheio.

Archibaldo é o cara, véio!

Por Ademir Pedrosa

Texto irretocável, sua crônica (A lição que vem do outro lado) tem a pujança de sua aldeia – que se quer universal. Conheci o seu avô. Era um velho senhor taciturno, e vivia ensimesmado com sua pequena horta em volta da casa; mal falava português, um bom-dia já lhe soava um discurso desmedido – ele me parecia um lacônico haicai.

Talvez por influência do avô, Archibaldo decidiu ir para o Japão. Eu cismava que o japinha via no avô um paradigma, como se constituísse um desafio de além-mar. Deve ter pensado: ora, se o vô veio até aqui, por que eu não posso ir até lá? E foi.

De avião, levou 24 horas para chegar à Terra do Sol Nascente, tenuíssimo tempo se comparado com os 60 dias que o navio do avô singrou os mares para chegar até aqui. E foi egoísta por não perceber que deixara aqui uma lacuna fria e oca, em reticências. Deu as costas às divagações literárias que discutíamos aqui e ali, e eventualmente numa mesa de bar. Senti sua ausência.

Quando regressou do oriente integrou-se ao Conselho de Cultura do Estado do Amapá – órgão que eu presidia. Foi breve o período que exercemos naquela casa de cultura. Fomos vítimas dum golpe bem-sucedido conspirado por um grupo de petralhas. Ali, ao que parece, sua sina se iniciara. O Conselho de Cultura sucumbiu, e não ficou oca sobre oca em nossa aldeia – nossa literatura foi soterrada pelos escombros da mediocridade, e fomos reduzidos a pó, a esterquilínio.

Foi depois desse estádio conturbado que Archibaldo escolheu o Acre como abrigo. E eu fiquei aqui. Só – cercado de mediocridade literária por todos os lados. Entregamos o Governo pros petralhas; eles, por vaidade, se acharam melhores que o Capi, e deu no que deu. Amargamos oito anos de mazelas. Resistimos com força hercúlea às tentações fáceis e às retaliações severas, e demos a volta por cima. Navegamos de volta para o futuro – de onde nunca deveríamos ter saído.

Reconquistamos o governo e o orgulho de amar nosso estado, ainda que o governo pretérito tenha sido um tsunami – sucateou o estado e feriu gravemente a auto-estima do povo amapaense. Enquanto no Japão milhares de pessoas foram soterradas pelos destroços, aqui 57 crianças, no ano passado, jaziam nos leitos dos berçários da maternidade por falta de oxigênio. Pasme!, 57 bebês sentenciados por um Herodes que via as mortes como uma normalidade hospitalar – Santo Deus!

Eu recordo que foi o Archibaldo que me apresentou ao garoto Camilo, filho do Capi. Eram estudantes contemporâneos e Camilo era conhecido como rato de biblioteca, por sua ganância de devorar livros. Tinha vaga no nosso time, especialmente por ser um bom leitor. A literatura é ávida de bons leitores.

Hoje Camilo Capiberibe é Governador do Estado do Amapá – aleluia! Não sei, não. Mas se o Archibaldo quiser regressar, o Acre será desfalcado de um craque da literatura universal. Amazônia dos Brabos, romance de sua autoria, emparelha em qualquer estante com Galvez, o Imperador do Acre e Mad Maria, de Márcio Sousa.

Sinto orgulho de ter dividido com Archibaldo um pouco desse universo literário – eu era a corda e ele era a caçamba. Nossas reuniões etílicas e literárias quase sempre acabavam numa mesa de bilhar. E aí em que residia a grande diferença entre mim e ele.

Archibaldo era freguês. Minha tacada tinha a precisão de um verbo, e o tiro inexorável de um ponto final. Cada enxadada era uma minhoca. Cansei de ganhar de “buchuda” (partida em que o adversário não consegue encaçapar uma bolinha sequer), numa demonstração impiedosa de que eu era melhor que ele – tiranicamente superior.

Se o Archibaldo quiser voltar pro Amapá, seja bem-vindo. Devo adverti-lo, porém, que aqui está eivado de petralhas, e que estão parcialmente no poder. Ah!, quem de vez em quando dá as caras por aqui é o escritor José Sarney, senador do Amapá e presidente do Senado. Agora, experimenta me botar numa mesa de bilhar com o maranhense – e deixa o resto comigo...

Meu comentário: Ademir Pedrosa é um dos grandes poetas vivos que conheço. O outro é Thiago de Mello (que aliás conhecemos juntos em Boa Vista, Roraima, em um encontro de escritores, em 1995 ou 96). Ademir foi a mais grata e saudável influência de que necessitava para consolidar-me a verve literária. E ele não me ensinou apenas a ler os bons autores, como me instruiu a detectar os medíocres, dos quais logo me apartei. Mais do que de literatura, falávamos da vida. Mas essa não se compraz com teorias. Quanto à memória, ela embota-se com o tempo e acaba por nos induzir a erros. O de Ademir é se vangloriar por sempre ter vencido na sinuca...

terça-feira, 12 de abril de 2011

Minha partilha

Do fundo da gaveta, mas terrivelmente atual:

Uma das mais belas crônicas da literatura brasileira foi escrita, claro, pelo capixaba Rubem Braga. “A Partilha” fala de dois irmãos que se separam depois de um desentendimento. O narrador da história é o mais velho, que vai dizendo quais pertences pretende levar de casa.

Ele explica que quer ficar com a rede, pois o outro irmão nem gostava muito de rede, “quem sempre deitava nela era eu”. O retrato da irmã pode ficar com o mais novo, mas o retrato da mãe o mais velho quer levar, porque “você tinha aquele dela de chapéu, e você perdeu”. Linhas e chumbadas, o puçá e a tarrafa, o fogão e as cadeiras, a estante e as prateleiras, os dois vasos de enfeite, o quadro e a gaiola, o alçapão, “tudo é seu”.

Mas o canivete o mais velho faz questão de levar, porque quer guardá-lo como recordação. “Quem me perguntar por que eu gosto tanto desse canivete eu vou dizer: é porque é lembrança do meu irmão”.

Reli a crônica pela enésima vez e quis fazer a minha versão, que saiu mais ou menos assim:

Você pode ficar com a cama de casal, com os móveis da sala e da cozinha, com a televisão. O computador foi você quem comprou, é todo seu. Mas alguns livros eu levo: o Caetés, o Dom Casmurro, o do Tchecov e esse aqui sobre o Japão.

A estante é sua, as cortinas são suas, o ferro de passar é seu. Mas o Aurélio vai comigo porque foi do meu irmão. Até escrevi uma crônica sobre esse dicionário, e lembro que você a leu e disse “suas crônicas estão cada vez melhores, meu amor”.

O ventilador, o criado-mudo, os dois cachorros são seus. A verdade é que você nunca cuidou deles, nunca lhes deu banho ou remédio, mas você vai precisar mais deles do que eu. Agora a enciclopédia é minha, cada volume vai comigo, da Barsa eu não abro mão.

Não faço questão da máquina de lavar, das poltronas, do aparelho de som ou do fogão. Queria levar o vídeocassete porque gosto muito de ver filme, mas foi sua mãe quem lhe deu. Vou levar, porém, uma das redes, porque apesar de não gostar de rede, é melhor do que dormir no chão.

Fique com os discos, com os quadros e com as fotografias. O telefone também fica nesta casa, pois nunca me pertenceu. A escrivaninha é sua, o guarda-roupa também é seu. Vou levar o alicate e o martelo, a pedra de amolar e o facão. No peito não vai mágoa, só este coração que lhe dei muito novinho, mas que agora envelheceu.

E se me perguntarem: “Há vantagens em estar partindo, irmão?”, vou mentir que sim, há muitas vantagens, e então lembrarei o dia em que cansei de apertar parafuso ao pé do Monte Fuji e voltei pra te conhecer e descobrir que a dor maior não está em repartir os cacos da vida – mas em ouvir o ruído dos ferros se fechando aqui neste portão.

Sete vidas

A mentira no Acre tem sete vidas. Matéria de hoje de um jornal local repisa a velha história de que o Estado vai vender bambu para a China.

De acordo com o presidente da Federação das Indústrias do Acre (Fieac), João Francisco Salomão, a exportação do produto é tema tratado com os asiáticos desde o ano passado. Salomão acredita que a presidente Dilma Rousseff, em sua visita à China, se lembrará de empurrar nosso bambu aos chineses.

O assunto catalisa as opiniões mais absurdas, como a do governador Tião Viana (PT), que aproveita a história para falar da industrialização do Acre. Ainda que fosse verdade que os chineses nos comprariam todos os feixes de taboca disponíveis, é cretinice alardear que esse comércio selaria os rumos da industralização.

Há exatos cinco anos e 31 dias, o governo vendeu a mesma história quando o embaixador da República Popular da China no Brasil, Jiang Yuande, veio ao Acre. Na edição do dia 11 de março de 2006, o jornal Página 20 trazia extensa matéria sobre o assunto. Entre outras patacoadas, o texto afirmava o seguinte:

"A visita do embaixador e da missão chinesa ao Acre é mais um reflexo da viagem, em maio 2004, do governador Jorge Viana à China, como integrante da comitiva do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, lembrou o vice-governador Arnóbio Marques".

A fanfarronice, portanto, é bem mais antiga do que supõe o presidente da Fieac.

segunda-feira, 11 de abril de 2011

A lição que vem do outro lado


Sou neto de japoneses. Minha avó era de Hiroshima, e teve a sorte de sair de lá antes que os americanos despejassem sobre a cidade uma bomba atômica. Ela conheceu meu avô no navio Buenos Aires, quando este singrava o Pacífico para muito mais tarde atracar no porto de Santos. Foram mais de dois meses de viagem rumo a um país do qual não conheciam a língua nem os costumes. Trabalhadores agrícolas, eles experimentaram a discriminação racial, o trabalho duro nas lavouras de café e a decepção de ver que as promessas de receber um pedaço de terra não passara de propaganda enganosa.

Na década de 70, meus pais decidiram trocar o interior paulista pelo Amapá, onde cresci. E a mudança me privou da companhia dos meus avós, com os quais poderia ter aprendido muito sobre abnegação, paciência e equilíbrio interior. Meu avô era quitandeiro, e não passou disso. Mas para mim ele era o dono de uma portentosa balança que determinava quanto os clientes teriam de pagar pelas frutas e verduras que levavam na sacola.

Morta a esposa, meu avô foi morar com a família de minha mãe no Amapá, onde morreu. Estava lúcido ainda quando a morte lhe veio bater à porta, e ele, budista que era, sem demonstrar uma única sombra de medo, despediu-se de todos para fazer a sua viagem definitiva. Dias depois, de fato, ele nos deixou.

Sanae Kitazono ainda estava vivo quando, em setembro de 1994, eu fui morar no Japão. Passei apenas nove meses lá, o suficiente para ter nascido de novo. As cores, pessoas e lugares que vi, os sabores que experimentei, os cheiros que senti e as lições que guardei foram decisivos ao aprimoramento de um jovem de 22 anos que saíra de casa em busca de dólares e voltou com a bagagem cheia de boas lições sobre paciência, disciplina, humildade, empenho, coragem, lealdade. Em maior ou menor grau, com maior ou menor proveito, entronizei esse aprendizado na tentativa de aplacar um espírito indomável em suas tribulações. A vida é um processo, e no meu caso ele seria ainda mais tortuoso não fosse o que vivi do outro lado do planeta.

A recente catástrofe que abalou o Japão e já empilhou quase 13 mil corpos sob e sobre os escombros do terremoto nos mostra a todos o espírito guerreiro dos japoneses. Eles tentam não sucumbir à desgraça das perdas e prosseguir com a disciplina de uma vida marcada por danos imensuráveis. E enquanto muitos de nós se encarregam de achar explicações as mais estapafúrdias para a desgraça que se abateu sobre o país, eles nos dão mais uma lição sobre a inexorável necessidade de que a vida siga em frente - não importa a dimensão do revés que vez por outra tenta nos paralisar.

sábado, 9 de abril de 2011

Colunista reage ao blog

Nota da coluna Bom Dia, do jornal A Tribuna, deste sábado.

Catástrofe
Dois vereadores ameaçam abandonar o barco em Plácido de Castro e a oposição se alegra anunciando aos quatro cantos que a Frente Popular está próxima de afundar com tamanha catástrofe. Outra ameaça viria de Manoel Urbano. Dois colégios eleitorais gigantes no cenário do Acre.

O histrionismo se refere, claro, à postagem aí abaixo, em que sustento que a nau petista faz água pela dissensão anunciada. Mas na lógica do escriba não coube a menção à derrota da Frente Popular na capital. Não apenas Jorge Viana (PT) ficou em segundo para o Senado, atrás de Sérgio Petecão (PMN), como Bocalom (PSDB) tomou a dianteira dos votos contra o atual governador Tião Viana. É a soma dos fatores que nos permite uma noção clara do produto.

Ao ignorar, pois, o dado mais importante da minha proposição, o escriba do jornal age como Hegel, para quem os fatos deveriam confirmar-lhe as teorias; senão, pior para os fatos.

sexta-feira, 8 de abril de 2011

Questão de ordem

O que pode ser mais deplorável:

a) Gasolina a R4 3,50 em Cruzeiro do Sul;

b) Pensão de 24 mil reais pra quem trabalha quatro anos em meio às mamatas do poder;

c) Matéria sobre produção agrícola em que o governador Tião Viana aparece com uma melancia nos braços;

d) O Lula dizendo que os companheiros pilhados no mensalão não deverão ser julgados antes de 2050.

Você decide.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Naufrágio à vista


O barco petista dá sinais de que faz água. E não será o desmentido do vereador Jairo Carvalho, do PT de Plácido de Castro, de que deixaria a Frente Popular, que haverá de conter o naufrágio.

Carvalho negou, após reunião hoje com o Carioca Nepumuceno, que estaria de malas prontas para embarcar na catraia da oposição. Horas antes dera entrevista criticando o tratamento dispensado pelo governo estadual, principalmente por parte de Carioca, aos aliados do interior. Saiu da audiência sorridente, a pregar que a imprensa havia criado boatos sobre si.

Para tristeza dos bombeiros estatais, Carvalho não é o único que quer ver o circo pegar fogo. O colega dele, Allison Ferreira (foto), do PTB, sustenta também que o tratamento dado aos que ajudaram a garantir o quarto mandato do PT é vexatório, desrespeitoso e sobretudo desigual quando se trata de distribuição de cargos. E ameaça engrossar as fileiras da oposição.

Allison garante que o PT domina o campo vasto das benesses como o único dono da bola. Em Plácido, por exemplo, uma turma de companheiros, que nem votos possui, emplaca os afilhados no serviço público sob o critério único do companheirismo. Isso agasta os que se esfalfaram na campanha e esperavam reconhecimento pelo esforço e lealdade.

Para piorar, Plácido de Castro não é o único município em que a gritaria vai tomando ares de motim. A borrasca política que se avizinha de Manoel Urbano pode ajudar a fender de vez o casco do transatlântico petista. Junte-se a isso a derrota da FPA na capital, e teremos um vistígio de tragédia.

O mar está revolto. E o naufrágio parece inevitável.

Parabéns, jornalistas!

No Dia do Jornalismo, uma homenagem do blog aos colegas acreanos que não cansam de se comportar conforme exigem as circunstâncias.

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Alquimia da informação

Os jornalistas estatais são pródigos em alquimias. Dessa vez eles conseguiram transformar críticas ácidas do senador Aécio Neves, do PSDB de Minas Gerais, em afagos ao colega Jorge Viana, do PT.

Enquanto a Folha Online afirmou nesta quarta que "Aécio bate boca com petistas em 1º discurso na tribuna do Senado", a assessoria de imprensa do acreano enviava à redação dos jornais release com o título "Aécio Neves acredita em consenso".

A Folha atribui ao senador mineiro a frase "entre o interesse do país e do partido, o PT escolheu o do PT". Já o texto chão da assessoria pinçou do discurso do tucano afirmação de que "o exercício da oposição deve ser organizado com coragem, responsabilidade e ética”.

Aécio, segundo a Folha, disse que "Não é interesse do país que o poder federal patrocine o grave aparelhamento e o inchaço do Estado brasileiro, como nunca antes se viu na nossa história." No texto da assessoria, ele teria dito que “Não devemos temer [com o governo do PT] uma relação aberta e transparente”.

Sobre a celeuma que causou o pronunciamento, nenhuma palavra no texto enviado aos jornais da aldeia. A peça termina com uma referência poética sobre dois construtores de pontes.

Jornalismo nunca foi literatura, apesar de grandes escritores como Truman Capote terem feito do ofício de repórter uma verdadeira arte da composição literária. Mas no Acre há um arremedo de jornalismo que não apenas avilta as verdades como desonra a ficção.

Só o humor nos faz suportar tanto cinismo

Com Sarney regendo o fandango, Aníbal deve dançar

O senador Sérgio Petecão (por enquanto no PMN) tem dito aos aliados que o colega sem votos Aníbal Diniz, do PT, não deverá passar de outubro no cargo que herdou do companheiro Tião Viana. A história é velha, alegam os petistas, segundo os quais a Justiça Eleitoral já se manifestara contrária ao pedido de cassação do mandato. A celeuma se dá porque Aníbal não teria se desencompatibilizado do cargo de secretário de Comunicação do Governo do Acre no prazo estipulado pela Justiça.

Mas aos que têm alegado isso, Petecão diz que a situação passou a ser outra depois que Aníbal assumiu o mandato. E garante que por trás do desejo de empossar Carlos Coelho na vaga está ninguém menos que o rei do Maranhão e presidente do Senado, José Sarney.

Em 2002, o senador pelo Amapá João Alberto Capiberibe (PSB), e a esposa dele, Janete Capiberibe, eleita deputada federal, perderam os mandatos depois de um processo na Justiça Eleitoral que pode se transformar em tese de mestrado. Capi resolvera peitar Sarney quando ainda era governador. Teve problemas sérios com a Assembleia Legislativa e com o Judiciário. Eleito para o Senado, foi acusado de comprar dois votos por 26 reais cada um, a serem pagos em duas prestações de 13 reais. Qualquer juiz sério deveria ter desconfiado da farsa, mais tarde atribuída a Gilvam Borges, do PMDB, aliado de Sarney e empossado na vaga de Capiberibe.

Quem mexe com José Sarney acaba com os dedos queimados. Candidato à presidência do Senado, Tião Viana resolveu chamuscar o rei do Maranhão com um dossiê vazado à imprensa, segundo alega o próprio Sarney. Acostumado a dar pito em político do Acre que se sujeita ao mandonismo dos Viana, o senador petista achou que poderia ombrear-se a um dos homens mais poderosos do Brasil. Perdeu a eleição e ganhou um inimigo eterno e muito, muito poderoso.
 
Com Sarney de regente do fandango, é quase certo que Aníbal dance.

terça-feira, 5 de abril de 2011

Eles quebraram o Acre

Não há nada mais insustentável do que viver de empréstimos, não é mesmo? E se há algo que mortifica os petralhas, é assumir a falência após 12 anos de comando sem a possibilidade de botar a culpa nos adversários.

Matéria desta terça no jornal A Tribuna mostra que o governo estadual fala agora em cortar gastos para atenuar o descarrilamento do trem econômico. E revela que só não chegamos ao fundo do poço antes porque recorremos ao guichê das instituições financeiras. O ponto em questão é que qualquer projeto de fomento à economia, como a propalada industrialização, depende de investimentos, aos quais não teremos mais acesso pela saturação dos saques da última década.

Por enquanto a gente pode ir cortando o cafezinho.

Leia a íntegra do descalabro.

Foto do Blog do Altino.

segunda-feira, 4 de abril de 2011

Enviado por Sérgio Souto

Primeiro eu peço licença
Pra todo povo presente
Pra falar sobre um decreto
Que jogaram sobre a gente.

Pra mudar nossos costumes
Nossos hábitos primeiros
Nesse planeta encantado
Nesse grotão Brasileiro.

É preciso ter coragem
E também muita vontade
Pra fazer voltar o tempo
Que Deus nos deu de verdade.

Não pra agradar o poder
E atropelar sua gente
Em nome de uma tevê
Mas que coisa deprimente!

Mas que falta de carinho!
Com o povo que o elegeu
Seu Sebastião Viana Neves
Me diga o que aconteceu?

Não empurre com a barriga
Que o povo vem e lhe cobra
Qual é meu governador?
Não é do senhor essa obra?

Não bula com nossos brios
Com a nossa simplicidade
Temos total consciência
Da sua capacidade.

Então respeite a escolha
E a nossa sabedoria
Se perguntar não ofende
Onde anda a democracia?

Não vou mudar meu discurso
Sei muito bem onde eu piso
Sou povo e quero respeito
Pode até chover granizo
“Que eu perco a minha cabeça
Mas não perco o meu juízo”

Não subestime que eu grito
Não grite senão eu canto
Não rasgue minha poesia
Que eu faça mais outro tanto
A liberdade ainda espero
Chegará cheia de encanto.

Deixe alguma coisa boa
Na sua grande biografia
O tempo às vezes perdoa
Mas pode cobrar um dia.

Atrasar nosso relógio
Mexer na nossa harmonia
Quando amanhece de noite
Quando anoitece de dia.

Vai fundo no teu trabalho
Com as ovelhas da Bahia
Com as exportações de peixes
Com as enormes melancias.

Com as camisas da Natex
Com as plantações de cana
Com as toras de madeira
Que saem em caravana.

Cuidando bem dessa gente
Da saúde e educação
Dando mais pão e poesia
E menos prospecção.

É que o povo anda cansado
Meu nobre governador
E não quer por no jornal
O tamanho da sua dor.

Da sua desesperança
Do seu brio e pudor
Gente simples é assim mesmo
Sua bandeira é o amor.

Mas sabe bem o que quer
Conhece bem o seu mundo
Seus rios e varadouros
Seus grutiões mais profundos.

Agora sim me despeço
Mas antes faço um pedido
Espero que o senhor atenda
Esse poeta esquecido.

Palavra é documento
Sei que o senhor não ignora
Faz um carinho pra nós
Traz de volta a nossa hora!!!

O sol não pode viver perto da lua



"Tire o seu sorriso do caminho
Que eu quero passar com a minha dor".

sábado, 2 de abril de 2011

Neste blog mando eu

Sobre texto publicado aí abaixo, em que chamo Sérgio Petecão de pastel de vento, tem gente a dizer besteira por aí. Mas não adianta a turma do senador estrebuchar. Qualquer observador da política tem o direito de deplorar as contradições de quem posa de oposicionista no Acre e recebe ordens de Dilma sobre a qual partido deve se filiar.

Os revoltadinhos têm dito que as ponderações sobre o senador-camaleão seriam determinadas por quem assessoro politicamente. Esses quadrúpedes não têm a mínima noção das coisas, assim como estão muito equivocados em relação ao deputado federal Marcio Bittar. Marcio não é o tipo de político que reclama da censura imposta à imprensa enquanto se encarrega de pautar seus assessores.

Quanto a mim, está claro que possuo ideias e opiniões próprias, e não me obrigo a escrever conforme a concepção de quem me remunera.

No meu blog mando eu.