sábado, 16 de fevereiro de 2013

O carnaval solitário de um tucano trôpego

Em meio às louvaminhas tucanas em torno do deputado federal Marcio Bittar, em homenagem à sua eleição para a primeira-secretaria da mesa diretora da Câmara dos Deputados, o repórter Jairo Carioca, do site ac24horas, teve a sensibilidade de captar o essencial: o evento de sexta-feira foi mais significativo pelo que não teve. Faltaram na festa tucana o senador Sérgio Petecão (PSD), os deputados federais Gladson Cameli (PP) e Flaviano Melo (PMDB). Sem o trio, a banda tucana desafinou.

Idealizado, claro, pelo próprio deputado federal, o evento teve o errático propósito de ser grandioso. Serviu apenas para revelar a Marcio a própria estatura. Apequenado pelos erros que cometeu ao longo de três desastrosas campanhas majoritárias – e também pelos que continuou a consumar após a última eleição –, ele supôs, mui erroneamente, que uma vitória no plano federal lhe abriria as portas da oposição no Acre. Ledo engano.

A presunção do parlamentar tucano o impede de enxergar o que Ulisses Guimarães chamaria de “o movimento das nuvens”. Outrora vetor da esperança dos que sonhavam com a aglutinação das forças oposicionistas, Marcio Bittar se tornou o maior entrave à consumação desse feito.
      
Se os tempos são outros, o velho Marcio Bittar continua o mesmo, e a festa que deu para si prova o que digo. Os confetes que ele teima em jogar sobre a própria cabeça estão longe de simbolizar a folia do momento. Servem apenas para evocar aquelas figuras trôpegas que se apegam à ilusão de que o Carnaval não acabou.

Falta ao arrogante tucano a humildade necessária para reconhecer a própria decadência. Marcio Bittar malbaratou sua reputação política em promessas nunca cumpridas, em dívidas de campanha não pagas e acordos desfeitos tão logo se viu investido no cargo de deputado federal. Figuras como a de Marcio há aos montes na crônica política brasileira: gente que chegou ao poder pela força da grana e acabou sublimada pela própria estupidez.

Se antes carregava a aura de político moderno e carismático, agora se vê sob a pecha de trapaceiro e falastrão. Não há no Acre uma única pessoa de bom senso que se sente à mesa com Marcio Bittar para costurar acordos sem antes avaliar a fragilidade dos pontos. Isso nos evoca a história do renomado alfaiate que, ao longo do tempo, se vê reduzido à aviltante condição de trapeiro. 

Quem, como eu, conhece Marcio Bittar na intimidade, sabe que por trás do discurso a favor do rigor ético existe um sujeito preocupado em multiplicar seus ganhos com a política. Se assim não fosse, ele continuaria, por exemplo, a pagar do próprio bolso a conta do celular e da internet, coisas que nunca estiveram em seu nome. Bastou eleger-se deputado federal, porém, para transferi-los a si mesmo, já que a regra do reembolso na Câmara permite que continue a usufruir desses serviços empurrando os gastos para a ralé.

A ralé que já deu três mandatos a Marcio Bittar é a mesma que ele tem o desplante de depreciar quando se refugia em Brasília e finge que o Acre não existe. Foi assim ao longo de três eleições majoritárias, após cujas derrotas ele se encastelou em seu elegante apartamento na Capital Federal para esquecer a lealdade dos que o seguiram. E continua assim, agora que é deputado federal, e ao Estado só volta quando obrigam as circunstâncias políticas. 

Por todos os motivos aqui expostos, em nada me impressiona a eleição de Marcio Bittar para a mesa diretora da Câmara. E a razão é muito simples: todo poder dado a ele serve apenas a ele mesmo.

Decididamente, Marcio Bittar teria sido muito mais útil ao Acre se nunca tivesse deixado de fazer parte da bucólica paisagem de sua fazenda em Sena Madureira.