O carnaval
solitário de um tucano trôpego
Em
meio às louvaminhas tucanas em torno do deputado federal Marcio Bittar, em
homenagem à sua eleição para a primeira-secretaria da mesa diretora da Câmara
dos Deputados, o repórter Jairo Carioca, do site ac24horas, teve a
sensibilidade de captar o essencial: o evento de sexta-feira foi mais significativo
pelo que não teve. Faltaram na festa tucana o senador Sérgio Petecão (PSD), os
deputados federais Gladson Cameli (PP) e Flaviano Melo (PMDB). Sem o trio, a
banda tucana desafinou.
Idealizado,
claro, pelo próprio deputado federal, o evento teve o errático propósito de ser
grandioso. Serviu apenas para revelar a Marcio a própria estatura. Apequenado
pelos erros que cometeu ao longo de três desastrosas campanhas majoritárias – e
também pelos que continuou a consumar após a última eleição –, ele supôs, mui
erroneamente, que uma vitória no plano federal lhe abriria as portas da
oposição no Acre. Ledo engano.
A
presunção do parlamentar tucano o impede de enxergar o que Ulisses Guimarães
chamaria de “o movimento das nuvens”. Outrora vetor da esperança dos que
sonhavam com a aglutinação das forças oposicionistas, Marcio Bittar se tornou o
maior entrave à consumação desse feito.
Se
os tempos são outros, o velho Marcio Bittar continua o mesmo, e a festa que deu
para si prova o que digo. Os confetes que ele teima em jogar sobre a própria
cabeça estão longe de simbolizar a folia do momento. Servem apenas para evocar
aquelas figuras trôpegas que se apegam à ilusão de que o Carnaval não acabou.
Falta
ao arrogante tucano a humildade necessária para reconhecer a própria decadência.
Marcio Bittar malbaratou sua reputação política em promessas nunca cumpridas,
em dívidas de campanha não pagas e acordos desfeitos tão logo se viu investido
no cargo de deputado federal. Figuras como a de Marcio há aos montes na crônica
política brasileira: gente que chegou ao poder pela força da grana e acabou
sublimada pela própria estupidez.
Se
antes carregava a aura de político moderno e carismático, agora se vê sob a
pecha de trapaceiro e falastrão. Não há no Acre uma única pessoa de bom senso que
se sente à mesa com Marcio Bittar para costurar acordos sem antes avaliar a
fragilidade dos pontos. Isso nos evoca a história do renomado alfaiate que, ao
longo do tempo, se vê reduzido à aviltante condição de trapeiro.
Quem,
como eu, conhece Marcio Bittar na intimidade, sabe que por trás do discurso a
favor do rigor ético existe um sujeito preocupado em multiplicar seus ganhos com
a política. Se assim não fosse, ele continuaria, por exemplo, a pagar do
próprio bolso a conta do celular e da internet, coisas que nunca estiveram em
seu nome. Bastou eleger-se deputado federal, porém, para transferi-los a si
mesmo, já que a regra do reembolso na Câmara permite que continue a usufruir
desses serviços empurrando os gastos para a ralé.
A
ralé que já deu três mandatos a Marcio Bittar é a mesma que ele tem o desplante
de depreciar quando se refugia em Brasília e finge que o Acre não existe. Foi
assim ao longo de três eleições majoritárias, após cujas derrotas ele se
encastelou em seu elegante apartamento na Capital Federal para esquecer a
lealdade dos que o seguiram. E continua assim, agora que é deputado federal, e
ao Estado só volta quando obrigam as circunstâncias políticas.
Por
todos os motivos aqui expostos, em nada me impressiona a eleição de Marcio
Bittar para a mesa diretora da Câmara. E a razão é muito simples: todo poder
dado a ele serve apenas a ele mesmo.
Decididamente,
Marcio Bittar teria sido muito mais útil ao Acre se nunca tivesse deixado de fazer
parte da bucólica paisagem de sua fazenda em Sena Madureira.
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