sexta-feira, 11 de março de 2011

Um apelo que vem do Jordão

Tem certas coisas que grudam na memória da gente. Quando, por exemplo, o Fantástico mostrou uma reportagem sobre a dura vida no município do Jordão, o deputado estadual e líder do governo na Aleac, Moisés Diniz (PCdoB), reagiu com um artigo sobre as mazelas do Sul Maravilha. Nunca esqueci o título do texto do comunista, "Jordão não quer chuchu".

Mas primeiro vou falar dos pepinos, depois a gente volta ao assunto dos chuchus.

Hilário de Holanda Melo é o prefeito petista que a Frente Popular do Acre escalou para governar o distante município, que tem pouco mais de 6 mil habitantes. Depois de duas vitórias consecutivas, Hilário transformou a cidade num caso trágico. Relapso, o petralha não dá conta sequer de mandar carpir as ruas, em sua maioria tomadas pelo matagal. E não é capim que bate nas canelas, não - trata-se de um arremedo de floresta que chega a encobrir o telhado de algumas casas.

Isolado por terra, o abastecimento do município depende do transporte aéreo e fluvial. Na época do estio, navegar se transforma em uma aventura morosa. E a consequência do isolamento é sentida através da carestia: um quilo de feijão pode custar até dez reais.

Apesar da alimentação exígua, Hilário Melo e seus aliados não se importaram, em seis anos de mandato, em incentivar o plantio em alguns leirões de quintal. Parace que é mais cômodo esperar que as aeronaves pousem com o produto colhido e embalado em plagas distantes.

A descrição desse cenário sugere que o atendimento hospitalar em Jordão beira o caos. Nem sempre há medicamentos disponíveis. E não bastasse esses problemas, Hilário Melo faz questão de impingir mais agruras aos munícipes.

Este blogueiro recebeu telefonema de uma moradora que reclama que o pagamento do funcionalismo municipal não é feito mais pelo Bradesco, que atendia na agência dos Correios local. Transferido ninguém sabe por que às pequenas casas comerciais da cidade, parte dos servidores tem recebido o salário com até cinco dias de atraso.

E quem, por exemplo, é lesado por cobranças descabidas na conta corrente, não tem a quem se queixar caso não pegue um barco ou avião e leve sua reclamação até Cruzeiro do Sul.

Voltemos, agora, aos chuchus.

Quando a matéria do Fantástico mostrou que Jordão ocupa a penúltima colocação no IDH (Índice de Desenvolvimento Humano), revelando que a cada cem pessoas que vivem no município apenas duas ou três devem conhecer a hortaliça, o deputado Moisés Diniz subiu nas tamancas. E escreveu horrores sobre os horrores do País, argumentando que os jordanenses comem "mandioca cozida, cuscuz de milho, banana, mamão, manga, goiaba" e bebem caldo de cana. Não precisam, portanto, de chuchus. Dois anos depois de exibida a reportagem, porém, nada mudou na paisagem trágica do município.

Com tantas favelas, acidentes de trânsito, tráfico de drogas e homicídios Brasil afora, o deputado governista acha que é perda de tempo e excesso de má-fé mostrar como vive a população do Jordão. Diniz compartilha a concepção de que jornalismo ético e eficiente é aquele que mostra as mazelas das cidades governadas pelos adversários. E como Jordão é apenas um lugar escondido no mapa - e tem no comando um amigo petista - não convém falar dos problemas que enfrenta.

Esse reducionismo proposital soa como artifício para justificar a incompetência dos aliados. E não dá para levar a sério argumentos que tentam minorar os defeitos de uma parte comparando-os à desgraça do todo. Pois assim nos fica a deplorável impressão de que Jordão só vai se livrar de suas dores quando o Brasil for um pedaço do Paraíso.

5 comentários:

  1. Caro Archibaldo,

    Nossas divergências vão seguir, porque ambas se sustentam em argumentos. Mas, o que vale é o direito de divergir.

    No momento, gostaria de nos unir contra essa ofensa do presidente da OAB do Acre.

    Uma vergonha! Ele deve pedir desculpas! Os advogados do Acre devem reagir.

    Ah, teu telefone parece que mudou. Me mande uma msg com o novo número.

    Abs,

    Moisés Diniz

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  2. Gosto muito dos seus artigos. Esse, assim como outros que li são muito bem escritos, fundamentados e críticos. Parabéns e continue não se curvando às forças que querem ocultar da população a verdade muitas vezes tão próxima.

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  3. Como conhecedor da realidade jordãoense, concordo plenamente com a frase dita pelo nobre Deputado Móises Diniz "Jordão não quer chuchu".POis, quero lhe dizer Deputado, que o povo do Jordão quer na verdade é investimentos para melhorar suas condições de vida.E não que vossa Excelência fique apenas questionado a veracidade de reportagens.Mas como Deputado vc pode ajudar o nosso município cobrando medidas de melhoramento, procurando saber aonde estão sendo gastos os recursos daquele município.

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  4. Caro Jornalista, quero lhe parabenizar por essa reportagem que ajudar externar os problemas sofridos por aquele município, que muitos tentam esconder a verdadeira realidade. Infelizmente encontra-se instalado no municipio de Jordão um governo corrupto onde não há transparência no emprego dos recursos.A cidade tem uma péssima infra-estrutura e a administração municipal não faz nada para melhorar as condições e a maioria das ruas encontram-se tomadas pelo mato.

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  5. Eu conheço o Jordão e afirmo com toda certeza que alguns relatos e estatísticas contidas nessa repotagem não condizem com a realidade jordãoense.Como exemplo: esse dado mentiroso com relação ao conhecimento do povo referente a hortaliça,pois, o povo do Jordão é um povo trabalhador e muitos tem sua própria horta no quital de sua casa,as propriedades rurais são todas produtivas onde muitos vivem do que produzem na sua terra. A mídia está apenas vendendo seu produto e não transmitindo uma realidade.Quanto ao abandono da cidade isso é verdade.

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