sábado, 29 de janeiro de 2011

A emenda pode ficar pior que o soneto

Fui informado por um integrante da Frente Popular do Acre que o senador Aníbal Diniz (PT) cogita escrever um artigo em defesa das pensões vitalícias dos ex-governadores. Difícil será encontrar argumentos convincentes a ponto de reverter a opinião dos que pagam impostos escorchantes e são obrigados a trabalhar mais de 30 anos antes de se aposentar.

É fácil intuir por que tarefa tão inglória caberia a Aníbal. Senador sem votos pendurado na vaga de Tião Viana, ele não tem o que perder do capital político inexistente. Mas o problema maior desse tipo de expediente é que a emenda pode sair muito pior que o soneto.

Foto de Geraldo Magela

quinta-feira, 27 de janeiro de 2011

Médicos reprovados

Texto enviado por e-mail por um leitor do blog. Originalmente publicado no jornal O Estado de S.Paulo, edição do dia 3 de janeiro de 2011.

Os resultados do projeto-piloto criado pelos Ministérios da Saúde e da Educação para validar diplomas de médicos formados no exterior confirmaram os temores das associações médicas brasileiras.

Dos 628 profissionais que se inscreveram para os exames de proficiência e habilitação, 626 foram reprovados e apenas 2 conseguiram autorização para clinicar.

A maioria dos candidatos se formou em faculdades argentinas, bolivianas e, principalmente, cubanas.

As escolas bolivianas e argentinas de medicina são particulares e os brasileiros que as procuram geralmente não conseguiram ser aprovados nos disputados vestibulares das universidades federais e confessionais do País.

As faculdades cubanas - a mais conhecida é a Escola Latino-Americana de Medicina (Elam) de Havana - são estatais e seus alunos são escolhidos não por mérito, mas por afinidade ideológica. Os brasileiros que nelas estudam não se submeteram a um processo seletivo, tendo sido indicados por movimentos sociais, organizações não governamentais e partidos políticos.

Dos 160 brasileiros que obtiveram diploma numa faculdade cubana de medicina, entre 1999 e 2007, 26 foram indicados pelo Movimento dos Sem-Terra (MST). Entre 2007 e 2008, organizações indígenas enviaram para lá 36 jovens índios.

Desde que o PT, o PC do B e o MST passaram a pressionar o governo Lula para facilitar o reconhecimento de diplomas cubanos, o Conselho Federal de Medicina e a Associação Médica Brasileira têm denunciado a má qualidade da maioria das faculdades de medicina da América Latina, alertando que os médicos por elas diplomados não teriam condições de exercer a medicina no País.

As entidades médicas brasileiras também lembram que, dos 298 brasileiros que se formaram na Elam, entre 2005 e 2009, só 25 conseguiram reconhecer o diploma no Brasil e regularizar sua situação profissional.

Por isso, o PT, o PC do B e o MST optaram por defender o reconhecimento automático do diploma, sem precisar passar por exames de habilitação profissional - o que foi vetado pelo Conselho Federal de Medicina e pela Associação Médica Brasileira. Para as duas entidades, as faculdades de medicina de Cuba, da Bolívia e do interior da Argentina teriam currículos ultrapassados, estariam tecnologicamente defasadas e não contariam com professores qualificados.

Em resposta, o PT, o PC do B e o MST recorreram a argumentos ideológicos, alegando que o modelo cubano de ensino médico valorizaria a medicina preventiva, voltada mais para a prevenção de doenças entre a população de baixa renda do que para a medicina curativa.

No marketing político cubano, os médicos "curativos" teriam interesse apenas em atender a população dos grandes centros urbanos, não se preocupando com a saúde das chamadas "classes populares".

Entre 2006 e 2007, a Comissão de Relações Exteriores da Câmara chegou a aprovar um projeto preparado pelas chancelarias do Brasil e de Cuba, permitindo a equivalência automática dos diplomas de medicina expedidos nos dois países, mas os líderes governistas não o levaram a plenário, temendo uma derrota. No ano seguinte, depois de uma viagem a Havana, o ex-presidente Lula pediu uma "solução" para o caso para os Ministérios da Educação e da Saúde. E, em 2009, governo e entidades médicas negociaram o projeto-piloto que foi testado em 2010. Ele prevê uma prova de validação uniforme, preparada pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais do MEC, e aplicada por todas as universidades.

Por causa do desempenho desastroso dos médicos formados no exterior, o governo - mais uma vez cedendo a pressões políticas e partidárias - pretende modificar a prova de validação, sob o pretexto de "promover ajustes".
As entidades médicas já perceberam a manobra e afirmam que não faz sentido reduzir o rigor dos exames de proficiência e habilitação.

Custa crer que setores do MEC continuem insistindo em pôr a ideologia na frente da competência profissional, quando estão em jogo a saúde e a vida de pessoas.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Saída de emergência

A matéria do Jornal Nacional desta quarta-feira informou que já são 4.773 casos de dengue no Acre. O Estado figura no topo do ranking nacional da doença.

Enquanto o povo padece com a infestação do Aedes aegypti, o governador Tião Viana se anima ante a ideia de construir um novo aeroporto na capital.

Não quero parecer rabugento, mas vislumbrei no anúncio do governador o sinal de onde ficará a saída de emergência.

terça-feira, 25 de janeiro de 2011

Editorial do Valor Econômico cita Jorge Viana - mas de um jeito que ele detesta

Há em curso no país um movimento pela extinção das aviltantes aposentadorias pagas a ex-governadores. O jornal Valor Ecônomico desta terça-feira (25) publicou extenso editorial (apenas para assinantes do jornal) em que aborda alguns casos, entre eles a do senador eleito Jorge Viana (PT). Enquanto a imprensa nacional posiciona-se contra a aposentadoria, a do Acre evita debates que passem a limpo uma questão de vital importância para a cidadania.

Trata-se de uma questão emblemática o fato de políticos que juram atuar pelo bem do povo encham as burras com o resultado dos impostos escorchantes pagos por quem, para se aposentar, precisa trabalhar mais de 30 anos. E o pior é quando isso é feito apenas após quatro anos de labuta em meio a privilégios impensáveis para os que nunca atingirão o nirvana do poder.

A senadora Marina Silva (PV), que outrora deplorou as pensões vitalícias, calou-se sobre o tema depois que o amigo Jorge Viana ressuscitou o descalabro. E o companheiro Binho Marques, que jurou recusaria a marmelada, passará a fazer dela um banquete enquanto (e depois de) viver na Capital Federal.

De Jorge, o editorial do Valor Econômico diz o seguinte:

"Essa pequena elite de privilegiados soma 135 pessoas, pelo que se sabe até agora, que consomem R$ 31,5 milhões por ano ("Folha de S. Paulo", 21 de janeiro). Dela fazem parte políticos de todas as legendas, dos pregadores da moralidade pública e da austeridade fiscal, como o PSDB e o DEM, até aqueles que um dia defenderam a transparência nas coisas do Estado, como o Partido dos Trabalhadores. É o caso do senador do Acre, Jorge Viana, cuja aposentadoria vitalícia foi reinstituída quando ele estava no governo ("Folha de S. Paulo", 22 de janeiro). Ele defendeu o privilégio como uma espécie de "salvaguarda" para si próprio".

É mesmo, seu Jorge? E quem haverá de nos proteger de espertalhões como vossa excelência?

sábado, 22 de janeiro de 2011

A superioridade masculina

Depois de três meses de ausência, ela chega para modificar o aspecto do apartamento. Muda os móveis do lugar, decide colocar na cozinha a mesa da sala, move a geladeira para debaixo do armário de parede. Manipula os objetos com decisão, descobrindo teias de aranha e montículos de poeira antes sequer por mim imaginados.

Tanta habilidade em arrumar os móveis aumenta milagrosamente os espaços entre eles, fazendo-me crer que toda mulher tem um pouco de bruxa. (E não concluo isso apenas porque agora ela tem a vassoura entre as mãos, o que, convenhamos, seria uma piada fora de propósito).

Agora sou, pois, um menino desorientado e inútil ante tanta competência para limpar, espanar, arrumar e decidir o que deve permanecer comigo e o que tem de ir para o lixo. Obedeço sem contestação, já que o resultado que ela consegue em meia hora de trabalho me custaria talvez uma semana de cálculos e dissabores. Por isso permaneço em seus calcanhares, humildemente indagando o que devo fazer para ajudá-la.

Como estou razoavelmente bem situado em meio a minha bagunça, é com certo receio, porém, que a vejo promover tantas mudanças. Pois temo pelo destino de alguns escritos que guardo comigo menos pelo valor literário que pelo capricho de possuí-los há tantos anos. Objetos menores, como um furador de charutos e vários CDs de computador, são supervisionados como se fossem evaporar no mormaço da sala.

Mas ao final do cataclismo doméstico vejo, surpreso, que o apartamento ficou mais espaçoso e agradável. Meus objetos pessoais estão exatamente nos lugares em que deveriam estar desde que cheguei aqui. E até a luz do dia parece mais à vontade para se instalar nos aposentos.

Sou então obrigado a reconhecer que em muitos aspectos as mulheres ocupam um lugar de destaque na escala evolutiva. Pois de onde viria tanta habilidade e disposição para lidar com as coisas da casa senão dos milhares de anos de história que as credenciaram para isso?

Não devemos esquecer que enquanto nós, os homens, empregávamos a força bruta para conseguir alimento, as mulheres desenvolviam, no cuidar da caverna, o senso estético e o equilíbrio interior.

A evolução humana (ou a revolução sexual ou o movimento feminista ou seja lá o que for) inverteu essa lógica, é verdade, e aos poucos elas trocaram os afazeres domésticos pelos apetrechos de caça. Mulheres e homens agora se ombreiam do lado de fora das cavernas, na busca do alimento  e em muitos casos com imensa desvantagem para os últimos.

Darwin não viveu o suficiente para constatar que elas têm maior capacidade de adaptação ao meio. Pois se saíram do aconchego (ou do claustro) doméstico para marcar sua posição no mercado de trabalho ou na política, nós ainda não nos adaptamos inteiramente às exigências do lar. Essa mudança levará talvez muito mais tempo do que as mulheres precisaram para se estabelecer na vida aqui de fora.

E isso me leva a crer que o tempo haverá de provar que nossa superioridade consiste apenas compreender a regras do futebol, beber cerveja e deixar a poeira acumular-se atrás das portas.

Prisma

Férias
O recesso do poder judiciário no Acre acabou nessa quinta-feira (20), depois de uma folga de 30 dias. A OAB/AC, em ofício à presidência do Tribunal de Justiça do Estado, encaminhou pedido de extensão desse prazo com base apenas em um projeto de lei que tramita no Senado, de autoria do senador Mendes Ribeiro. Antes o recesso era de 15 dias.

Morosa
Defensor Waldir Perazzo critica a direção da OAB, já que a entidade tomou a iniciativa de pedir o prolongamento da folga sem consultar as bases. Perazzo afiança que um recesso longo prejudica os que dependem da justiça, que já é morosa demais em um país com muitos feriados.

Coerência
Segundo o defensor público, alguns tribunais brasileiros recusaram a mesma proposta.

Cadê a transparência?
O presidente da OAB/AC, Florindo Poersch, ainda não prestou contas dos gastos na construção da nova sede da entidade. Foram torrados ali nada menos que R$ 5 milhões.

Aluguel
E o pior é que o prédio, após um ano de sua inauguração, continua vazio. A OAB segue pagando grandes somas com aluguel.

Sopa de letrinhas
Funcionários de apoio da Secretaria Estadual de Educação vão acionar na Justiça o governo do Acre. Eles alegam prejuízos salariais com a resistência do Estado em lhes conceder a progressão nas “letras funcionais”. Com isso, muitos estão recebendo até R$ 190 a menos por mês.

Corpo mole
O grupo vai constituir advogado por conta própria para representá-los nessa empreitada. Alegam que o Sinteac, alinhado até a medula com o atual governo, tem feito corpo mole quanto à reivindicação.

Leia mais aqui.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Vivendo no melhor lugar da Amazônia













Imagens feitas pelo fotógrafo Dhárcules Pinheiro

sábado, 15 de janeiro de 2011

Em nome dos pais

Um amigo teve a idéia de colocar na filha o nome de Maria.

– Mais original não há – nos disse, e imaginamos que estivesse variando das idéias. – Pois não conheço nenhuma.

Como não havia de conhecer se existiam tantas e outras muitas nesta terra de Jesus Cristo – cuja mãe, lembramos, também se chamou Maria? São tantas as Marias que fomos ao dicionário encontrar 47 palavras formadas a partir desse nome próprio – entre eles maria-macanguê, maria-já-é-dia e o conhecido maria-vai-com-as-outras.

– Bem, pode haver muitas – disse ele, impassível. – Mas que preferem se chamar Ana, ou Tereza, Nazaré. E, portanto, nenhuma delas é Maria.

Sendo assim, pensei, talvez ele tivesse razão, uma vez que conhecia uma Maria do Socorro que nem Socorro era, pois gostava que lhe chamassem Help. E sabia de uma Carolina que na certidão também era Maria, mas que fazia questão de ser Carol. E ainda uma Maria de Fátima, que era apenas Fátima, porque Maria não era nunca.

O amigo então nos explicou que a filha era uma exceção à regra atual de se colocar nos bebês nomes estrangeiros. Pois há, prosseguiu ele, quem se chame Michael, Richardson, Patrick, Desirè, Kate.

– Não tem coisa mais absurda do que uma Desirè Pereira ou um Richardson da Silva – afirmou, galhofeiro. – E nada mais bonito do que uma Maria.

Lembrei de ter ouvido falar de uma lei que resguarda os bebês de receberem dos pais nomes extravagantes. Se o nome de batismo vai causar constrangimentos futuros, o funcionário do cartório pode se negar a fazer o registro da criança. Um exemplo? Pheyndews.

– Mas por que o senhor quer registrar o seu filho assim? – quer saber o tabelião.

– Simples – responde o pai. – Porque tenho fé em Deus que ele vai ser alguém na vida.

Os piores nomes me parecem os que nascem do cruzamento de outros dois, geralmente do pai e da mãe do infeliz. Conheci um Francirino, filho de dona Francisca e do seu Catarino. Tinha também a Ismadete, cujos pais eram o Ismael sapateiro e a dona Odete do vatapá.

A Ismadete era uma menina mirrada, que dizia o nome num fio de voz, como se tivesse vergonha dele. Nos tornamos bons amigos, talvez porque no fundo eu soubesse como ela se sentia nessas ocasiões.

Pois quando iniciava o ano letivo e o professor fazia a chamada, eu afundava na carteira escolar. Tímido e mirrado como minha amiga, sofria horrores à espera daquele momento em que precisaria explicar ao mestre, sob o olhar de todo mundo, que não era Archibaldo, mas Ar-qui-bal-do.

O trauma deixado por situações como essa me fazem imediatamente perguntar como será o nome da criança sempre que me deparo com a gravidez de uma conhecida. Se ela me diz, por exemplo, que será Joana, sorrio aliviado. Mas armo a carranca se responde algo como “Stephany”.

Foi isso que fez o funcionário do cartório quando ouviu do casal como seria o nome da recém-nascida. Antes sorridente e solícito, ele contraiu o rosto e espalmou as mãos sobre a madeira da mesa.

– Com esse nome eu não faço a certidão – disse casmurro.

O pai ainda tentou argumentar, auxiliado pela mulher, que trouxera a pequena nos braços. Mas o sujeito ficou lá, firme como um general.

A intransigência do funcionário gerou um pequeno tumulto que logo chamou a atenção de todos no cartório. O homem acabou por esmurrar a mesa e aquilo assustou a criança, que se pôs a chorar. A mulher, aos gritos, culpou o tabelião pelo choro da filha. E ambos saíram dali afirmando que processariam o estabelecimento.

Quando chegou a minha vez expliquei que queria registrar a pequena Clara – e o funcionário sorriu, já recomposto.

– Veja o senhor como as pessoas põem nos filhos os nomes mais esdrúxulos e abomináveis – disse ele, se referindo ao casal que havia saído.

Olhei no seu crachá e vi que se chamava Ermenegildo. Então compreendi.

sexta-feira, 14 de janeiro de 2011

O barco faz água, mas eles estão a salvo

As imagens deste post, feitas pelo fotógrafo Dhárcules Pinheiro, mostram como vivem os moradores de parte do bairro Sobral. Enquanto eles clamam por serviços básicos, o ex-governador petista Binho Marques goza férias fora do Estado e faz planos de cursar doutorado em Brasília. Binho passou os últimos quatro anos martelando a lengalenga de que ao final do seu mandato o Acre seria o melhor lugar da Amazônia para se viver. Eleito mais um companheiro como sucessor, o ex-governador tratou de levantar voo. Na bagagem ele levou como presente uma pensão vitalícia de mais de 23 mil reais tramada na época em que o agora senador Jorge Viana se preparava para transferir o leme.

O barco faz água, como se pode notar, mas a tripulação petista está devidamente a salvo das borrascas. O povo, como sempre, não.







quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

terça-feira, 11 de janeiro de 2011

Um janeiro no Japão

Era janeiro como agora, e um anúncio no trem, traduzido por meu amigo Shunsuke Nakamura, informava: apartamento com quarto, cozinha e uma pequena sala-de-estar por “apenas” 35 milhões de yenes. Em 1995, pouco mais de cem yenes comprava um dólar, e este (vocês se lembram?) correspondia a quase um real. Fizemos as conversões de cabeça, baseados em valores redondos para facilitar a operação, e vimos que o comprador teria que desembolsar o equivalente a 350 mil reais para morar num lar liliputiano.

Para saber, porém, que os japoneses vivem às voltas com problemas habitacionais não é preciso ir ao Japão, como eu. Basta ter conhecimento de que o metro quadrado no centro de Tóquio é o mais caro do mundo, chegando a custar um milhão de dólares. Isso se explica por que mais de um quarto da população formada por 127 milhões de pessoas se concentra em áreas metropolitanas como Osaka, Nagoya e, principalmente, Tóquio.

Morei em Ashikaga, no estado de Tochigi, e lá descobri que no Japão também há favela. Não sei se essa palavra, pela imagem que nos evoca, pode ser aplicada aqui, pois as pequenas casas que via diante da minha janela tinham sido construídas em terrenos planos e limpos. As paredes eram revestidas de zinco, paredes tristes e escuras, mas pela manhã havia o espetáculo esdrúxulo de moradores indo para trabalho em Mitsubishi Eclipse, Honda Civic e Nissan.

Se a casa própria é um sonho até mesmo para os japoneses idosos, o mais jovem operário tem poder aquisitivo para comprar um carro de luxo como os citados no parágrafo anterior. O mesmo se pode dizer quanto à parafernália eletrônica que o país produz com a voracidade de um Godzila.

A primeira cidade em que morei foi Oizumi. Naquela época havia ali mais de quatro mil brasileiros e um arsenal de produtos verde-amarelos, distribuídos em diversas lojas, restaurantes, açougues e até um shopping center - inaugurado após meu retorno ao Brasil.

Morávamos em quatro num apartamento alugado pela firma, que cobrava cerca de 200 dólares de cada um de nós. Era uma forma lícita, ainda que imoral, de nossos patrões reaverem um dinheiro que ganhávamos com o próprio suor.

Enquanto dormimos, quase 200 mil compatriotas nossos cumprem no Japão longas jornadas nas linhas de produção. Muitos permanecem longe de casa contra a própria vontade, riscando na folhinha os dias que faltam para o regresso. Mas há aqueles que se adaptam tão bem que não pensam em voltar para casa. Representam, é verdade, uma parcela ínfima dos que se engajam nessa aventura.

Conheci no máximo meia dúzia de pessoas que haviam decidido ficar para sempre no Império do Sol. Essa opção, diziam, se baseava numa lógica simples: preferiam apertar parafuso lá, a dois mil dólares por mês, a viverem de contar os centavos no Brasil.

Mas essa integração, motivada principalmente pelas inúmeras vantagens de se viver num país do Primeiro Mundo, também se dá no nível dos problemas habitacionais. E é assim que aquele cartaz no trem, lido por olhos de quem apenas passa por ali, se transforma num pesadelo definitivo para quem resolveu fincar suas raízes em terras tão distantes.

Todo mundo tem um amor...



Eu tenho dois: Clara, 13, e João Gabriel, 5.

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Yvan Campos, ecologista



Ana Paula Batalha, jornalista
Com foto de Dhárcules Pinheiro

Distribuir mudas de tamarindo é uma das funções do artista plástico Yvan Campos, 50 anos. De bicicleta, ele percorre alguns trechos da zona rural para difundir essa planta, considerada por muitos, medicinal. A intenção de Yvan é valorizar os bons frutos da floresta.

O artista plástico colhe, embala e entrega sem cobrar nada pelo produto e garante: “o serviço é por amor”. Há quase um ano nessa missão voluntária, ele já perdeu as contas de quantas entregas fez, mas lembra que trinta mudas ele entregou em sua residência.

“Algumas pessoas vão a minha casa em busca das mudas, mas são poucas. Eu gosto mais de entregar na zona rural, na cidade as pessoas ficam com medo de aceitar e, muitas vezes, nem plantam”, disse.

Ele ressalta ainda que o chá da fruta é essencial para o combate a diabetes. “Ela é uma fruta azeda, não tem açúcar que faça adoçar”, ressalta.

Colhendo as mudas do Sesc/Centro, hoje Yvan se preocupa com a extinção dela por o prédio está em reforma. “O prédio está em obra e já tiraram parte das plantações do tamarindo de lá. Isso me faz trabalhar ainda mais para distribuir as mudas para o povo”, salientou.

Yvan não depende de ações do governo ou prefeitura para realizar o serviço, mas tem o desejo de um deles disponibilizar uma terra para esse tipo de plantações. “Se algum deles [governo ou prefeitura] tiver interesse em plantar tamarindo, é só pedir alguém para ir buscar lá em casa, mas precisam se responsabilizar pelas mudas”, sugeriu.

O endereço de Yvan, para os interessados em adquirir as mudas de tamarindo, é no bairro Morada do Sol, na rua Netuno, n° 21. O telefone dele é 3223-0504.

Originário da Índia, o chá da polpa do fruto é indicado também para controle de febre e é calmante. A polpa também é adstringente e refrigerante. A decocção é indicada para curar prisão de ventre, usando-se 10 g de polpa do fruto em meio litro de água, bebendo duas xícaras ao dia. A fruta é rica em vitaminas A, B1, B2 e C, potássio e cálcio.

Comento

No governo da floresta há muitos figurões que fizeram carreira sob a frondosa árvore do ecologismo. Pura teoria, porém. Não vejo nenhum deles fazendo algo concreto pela preservação do meio ambiente, já que isso demanda tempo e requer transpiração. Yvan Campos, nesse aspecto, dá uma lição aos engomadinhos e bem remunerados defensores da florestania. Sem apoio estatal e nenhum alarde, ele vai plantando as sementes de um futuro com sabor de tamarindo.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Perigo na estrada



O fotógrafo Dhárcules Pinheiro flagrou, nesta semana, o momento em que o caminhão carregado de toras quase virou na Via Verde.

sábado, 1 de janeiro de 2011

Quem encherá de primaveras este janeiro?



¿Quién llenará de primaveras este enero,
y bajará la luna para que juguemos?
Dime, si tú te vas, dime cariño mío,
¿quién me va a curar el corazón partío?