quarta-feira, 7 de julho de 2010

MARINA, O COMBATE À POBREZA E O DNA: UM DISCURSO TORTO

Por Reinaldo Azevedo

A candidata do PV, Marina Silva, está, entendo, perdendo a mão na disputa. E insiste num procedimento que, parece, não está dando muito certo. Leiam o que vai abaixo. Volto em seguida:

“Quando se tem um compromisso visceral com o combate à pobreza, como tem o presidente Lula e como eu tenho, você não precisa ficar lutando pela maternidade ou paternidade. O compromisso com o combate à pobreza é algo que se tem no DNA. É por isso que eu não faço essa concorrência”.

Marina está se referindo ao Bolsa Família, programa originalmente criado por FHC e rebatizado por Lula. No governo tucano, ele chegava a cinco milhões de famílias. Lula dobrou esse número. O tucano José Serra afirma que é possível estendê-lo a 27 milhões.

Marina saiu-se com esta tese um tanto estranha: o combate à pobreza seria matéria de DNA. É claro que ela não se refere ao conceito biológico. Tenta falar de DNA político, quiçá ligado à classe social do homem público. Se for assim, nesse particular, ela própria e Serra, ambos muito pobres na infância, estão empatados. A única que vem de família muito abastada é Dilma Rousseff. Mas Marina, como se nota, estende um olhar lânguido para Lula, tentando colar-se à trajetória do presidente: ela e ele seriam os únicos com legitimidade para combater a pobreza… Aí não dá, né?

Ser rico não é pecado. Deve até ser coisa muito boa. Ser pobre não confere atestado de ética a ninguém. Pobre ou rico, o que interessa é o compromisso da figura pública. Marina deveria ser mais cuidadosa. Caso se decida fazer a média da riqueza das chapas à Presidência, a sua é, ATENÇÃO!, algumas centenas de vezes mais rica do que as outras. O bilionário Guilherme Leal eleva a média às alturas. Por acaso, isso muda o seu “DNA”?

E que se note: Leal é preservado de análises mais ácidas porque sua empresa, a Natura, construiu um marketing poderoso na defesa da “natureza”, e ele é muito bem-visto pelo pensamento politicamente correto. Um outro empresário qualquer que caísse de pára-quedas no processo político, e logo como candidato a vice-presidente da República, já teria levado umas boas esfoladas. A primeira e óbvia pauta seria esta: quantos processos trabalhistas tem a empresa?; existe alguma pendência com a Previdência?; deve alguma coisa à Justiça?; nunca foi acusada de incorreção ambiental?

Não estou fazendo um convite à investigação ou tentando pautar os outros. Esse tipo de “jornalismo investigativo” até me dá certa preguiça. Investigo idéias. Só estou evidenciando que as pautas não caem da árvore da vida; elas são orientadas segundo, também, afinidades eletivas.

Mas volto ao ponto: acho que Marina, para o bem de sua causa principal, o meio ambiente, e de sua postulação do momento, a Presidência, precisa parar de se comportar apenas como ombudsman dos outros ou como alguém que tivesse chegado a um entendimento superior da vida, ainda não alcançado pelos oponentes.

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