quarta-feira, 6 de outubro de 2010

O timoneiro do Titanic petista acha que não merece ser enforcado

O governador Binho Marques não quer ser lembrado pelos companheiros como o timoneiro do Titanic petista. No domingo de eleição, após reuniões em que atordoados petralhas tentavam achar explicação para o fenômeno do desaparecimento dos votos da Frente Popular, Binho era, junto com Edvaldo Magalhães, Raimundo Angelim, Jorge e Tião Viana, a expressão do desalento.

Ontem, na coletiva à imprensa dada pelo governador eleito Tião Viana, Binho atalhou uma questão sobre a derrota dos irmãos Viana na capital. O governador saiu-se com a tese de que o desempenho do seu governo não explica o vexame, uma vez que 79% dos acreanos lhe aprovam o governo. Não vou chafurdar na internet atrás desses números, mas lembro que o índice foi inflacionado pelas respostas dos que consideram a administração “regular”. E se não me engano, sem a turma que considera o atual governo “mais ou menos”, a aprovação de sua gestão era de 49%, entre ótima e boa.

Binho disse ao jornalista responsável pelo questionamento que qualquer avaliação no momento seria precipitada e que a relação “entre as duas coisas [desempenho administrativo e votos] é impossível”. Sua resposta, longe de ser esclarecedora, demonstra apenas a perplexidade dos que, encantados com o poder há mais de uma década, acabaram por acreditar que a triste realidade acreana se satisfaria ad eternum com simples demãos de cal.

Um comentário:

  1. Meu caro Archibaldo,

    Para todos aqueles que perfilam na oposição, portanto contra a "oligarquia pejorativa" de plantão desde mais de uma década no Acre, vai o maravilhoso poema do Drummond,CARTA A STALINGRADO.No segundo turno,todos devemos sentir como se estivéssemos em Stalingrado, com toda resistência e esperança,apesar do pesado fogo do adversário.Conseguimos a maior façanha,a grande possibilidade de contra-atacar,assumiremos a nossa responsabilidade como se fôssemos generais e, finalmente a capitulação virá. O Rio Volga, os espera.

    Abraços democráticos.

    Célia
    Brasiléia.


    CARTA A STALINGRADO
    Carlos Drummond de Andrade

    Stalingrado...
    Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
    O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
    outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
    e o hálito selvagem da liberdade
    dilata os seus peitos, Stalingrado,
    seus peitos que estalam e caem,
    enquanto outros, vingadores, se elevam.

    A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
    Os telegramas de Moscou repetem Homero.
    Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
    que nós, na escuridão, ignorávamos.
    Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
    na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
    no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
    na tua fria vontade de resistir.

    Saber que resistes.
    Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
    Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto)
    estará firme no alto da página.
    Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
    Saber que vigias, Stalingrado,
    sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
    dá um enorme alento à alma desesperada
    e ao coração que duvida.

    Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
    As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
    Débeis em face do teu pavoroso poder,
    mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
    as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta,
    aprendem contigo o gesto de fogo.
    Também elas podem esperar.

    Stalingrado, quantas esperanças!
    Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
    Que felicidade brota de tuas casas!
    De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
    de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
    Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas,
    todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
    mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
    ó minha louca Stalingrado!

    A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
    apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
    caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
    sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
    Uma criatura que não quer morrer e combate,
    contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
    contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
    contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate,
    e vence.

    As cidades podem vencer, Stalingrado!
    Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça
    subindo do Volga.
    Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
    Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
    a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.

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