O governador Binho Marques não quer ser lembrado pelos companheiros como o timoneiro do Titanic petista. No domingo de eleição, após reuniões em que atordoados petralhas tentavam achar explicação para o fenômeno do desaparecimento dos votos da Frente Popular, Binho era, junto com Edvaldo Magalhães, Raimundo Angelim, Jorge e Tião Viana, a expressão do desalento.
Ontem, na coletiva à imprensa dada pelo governador eleito Tião Viana, Binho atalhou uma questão sobre a derrota dos irmãos Viana na capital. O governador saiu-se com a tese de que o desempenho do seu governo não explica o vexame, uma vez que 79% dos acreanos lhe aprovam o governo. Não vou chafurdar na internet atrás desses números, mas lembro que o índice foi inflacionado pelas respostas dos que consideram a administração “regular”. E se não me engano, sem a turma que considera o atual governo “mais ou menos”, a aprovação de sua gestão era de 49%, entre ótima e boa.
Binho disse ao jornalista responsável pelo questionamento que qualquer avaliação no momento seria precipitada e que a relação “entre as duas coisas [desempenho administrativo e votos] é impossível”. Sua resposta, longe de ser esclarecedora, demonstra apenas a perplexidade dos que, encantados com o poder há mais de uma década, acabaram por acreditar que a triste realidade acreana se satisfaria ad eternum com simples demãos de cal.
Meu caro Archibaldo,
ResponderExcluirPara todos aqueles que perfilam na oposição, portanto contra a "oligarquia pejorativa" de plantão desde mais de uma década no Acre, vai o maravilhoso poema do Drummond,CARTA A STALINGRADO.No segundo turno,todos devemos sentir como se estivéssemos em Stalingrado, com toda resistência e esperança,apesar do pesado fogo do adversário.Conseguimos a maior façanha,a grande possibilidade de contra-atacar,assumiremos a nossa responsabilidade como se fôssemos generais e, finalmente a capitulação virá. O Rio Volga, os espera.
Abraços democráticos.
Célia
Brasiléia.
CARTA A STALINGRADO
Carlos Drummond de Andrade
Stalingrado...
Depois de Madri e de Londres, ainda há grandes cidades!
O mundo não acabou, pois que entre as ruínas
outros homens surgem, a face negra de pó e de pólvora,
e o hálito selvagem da liberdade
dilata os seus peitos, Stalingrado,
seus peitos que estalam e caem,
enquanto outros, vingadores, se elevam.
A poesia fugiu dos livros, agora está nos jornais.
Os telegramas de Moscou repetem Homero.
Mas Homero é velho. Os telegramas cantam um mundo novo
que nós, na escuridão, ignorávamos.
Fomos encontrá-lo em ti, cidade destruída,
na paz de tuas ruas mortas mas não conformadas,
no teu arquejo de vida mais forte que o estouro das bombas,
na tua fria vontade de resistir.
Saber que resistes.
Que enquanto dormimos, comemos e trabalhamos, resistes.
Que quando abrimos o jornal pela manhã teu nome (em ouro oculto)
estará firme no alto da página.
Terá custado milhares de homens, tanques e aviões, mas valeu a pena.
Saber que vigias, Stalingrado,
sobre nossas cabeças, nossas prevenções e nossos confusos pensamentos distantes
dá um enorme alento à alma desesperada
e ao coração que duvida.
Stalingrado, miserável monte de escombros, entretanto resplandecente!
As belas cidades do mundo contemplam-te em pasmo e silêncio.
Débeis em face do teu pavoroso poder,
mesquinhas no seu esplendor de mármores salvos e rios não profanados,
as pobres e prudentes cidades, outrora gloriosas, entregues sem luta,
aprendem contigo o gesto de fogo.
Também elas podem esperar.
Stalingrado, quantas esperanças!
Que flores, que cristais e músicas o teu nome nos derrama!
Que felicidade brota de tuas casas!
De umas apenas resta a escada cheia de corpos;
de outras o cano de gás, a torneira, uma bacia de criança.
Não há mais livros para ler nem teatros funcionando nem trabalho nas fábricas,
todos morreram, estropiaram-se, os últimos defendem pedaços negros de parede,
mas a vida em ti é prodigiosa e pulula como insetos ao sol,
ó minha louca Stalingrado!
A tamanha distância procuro, indago, cheiro destroços sangrentos,
apalpo as formas desmanteladas de teu corpo,
caminho solitariamente em tuas ruas onde há mãos soltas e relógios partidos,
sinto-te como uma criatura humana, e que és tu, Stalingrado, senão isto?
Uma criatura que não quer morrer e combate,
contra o céu, a água, o metal, a criatura combate,
contra milhões de braços e engenhos mecânicos a criatura combate,
contra o frio, a fome, a noite, contra a morte a criatura combate,
e vence.
As cidades podem vencer, Stalingrado!
Penso na vitória das cidades, que por enquanto é apenas uma fumaça
subindo do Volga.
Penso no colar de cidades, que se amarão e se defenderão contra tudo.
Em teu chão calcinado onde apodrecem cadáveres,
a grande Cidade de amanhã erguerá a sua Ordem.