domingo, 28 de fevereiro de 2010

Um tiro, uma morte e dois artigos

Após dois dias sem comunicação com o mundo, navegando pelos rios do Juruá, estou de volta à cidade de Marechal Thaumaturgo. A única lan house do município me põe diante dos olhos o tema da semana: a morte da jovem Edna Maria Ambrósio, de 22 anos, durante uma blitz policial.

O caso, me parece, é mais um a confirmar a situação de descontrole na Segurança Pública do Acre. O agravamento da criminalidade acarreta pressão sobre a polícia, que é instada a dar respostas à sociedade. E parece óbvio que no calor dos acontecimentos alguns policiais despreparados (ou emocionalmente instáveis) sejam levados a cometer exageros que custem a vida de um inocente.

De tudo que li a respeito do crime, o artigo da historiadora Fátima Almeida, publicado no blog do Altino, foi o que mais me chamou a atenção. Ela defende que os autores de assassinatos como o de Edna Maria sejam mostrados na imprensa para que sejam vítimas da execração pública. Isso, e não o maior compromisso do Estado com a preparação tática dos policiais e o acompanhamento do seu estado psicológico, seria suficiente para inibir casos semelhantes no futuro, acredita.

Para Fátima, o temor dos policiais às represálias “deve ser um princípio ou uma condição para que não atirem em civis desarmados”. E prossegue: “A execração pública é uma arma poderosa, capaz, por si mesma, de inibir esse tipo de atitude”.

Se a imprensa do Acre prestasse, o clamor público não se limitaria a alvejar os maus policiais, e acabaria também por ferir de morte alguns mitos políticos que se sustentam sobre a omissão dos jornais. Mas parece que alguns só se dão conta da importância do papel da imprensa quando não está em jogo o patrimônio político de algumas excelências. Ademais, não concordo que a execração pública deva ser o critério norteador da conduta policial. Esta deve responder às leis da corporação e se submeter ao Código Penal, quando for o caso.

Fátima Almeida diz ainda que “Se os (policiais) não são capazes de controlar os ímpetos e o desejo insano de atirar em alguém que façam o favor de procurarem (sic) outra profissão”. Não creio, porém, que a questão seja tão simplória. Quando um policial mostra despreparo para lidar com uma arma de fogo em situação de pressão, e comete um erro fatal, a responsabilidade deve ser atribuída, em primeira instância, ao Estado que o contratou. Não se trata, então, de uma decisão pessoal de mudar de profissão, como quer a autora do artigo.

Tanto é verdade que o Estado deve ser responsabilizado em casos como o de Edna Maria, que a cúpula da Segurança Pública precisou vir a público e desculpar-se pelo erro cometido pelos dois PMs.

E como se não bastasse a demonstração cabal do despreparo da dupla de policiais, que resultou na trágica morte da jovem, Fátima Almeida ainda aventou a possibilidade de um complô contra a secretária de Segurança Pública, Marcia Regina, “que está tentando fazer o melhor possível”.

Pior que esse delírio persecutório despropositado, só mesmo um policial armado e perigoso numa rua escura fazendo sinal pra que a gente pare.

quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Chame o ladrão!

Chegamos a Marechal Thaumaturgo no fim da tarde, após uma rápida viagem de avião do Jordão até aqui - cerca de 20 minutos. Do aeroporto viemos de catraia até a entrada da cidade. Mal pus os pés em terra firme, fui apresentado a um policial militar que, sabendo-me jornalista, foi logo desfiando um rosário de queixas.

Contou que a PM de Thaumaturgo não dispõe de viatura. Os policias atendem as ocorrências a pé. Isso mesmo. Também foram cortadas as diárias que os PMs recebiam, cerca de sete por mês, as quais serviam de compensação por atuarem em terra tão distante da capital.

O militar reclama ainda que o mesmo quadro de descaso com a corporação pode ser visto em Porto Valter, Jordão e Santa Rosa.É o caso de se chamar o ladrão...

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

No fim da fila

Queridos, estou pela primeira vez no município do Jordão. Viemos de avião, numa viagem de 60 minutos cravados. Não há muito que ver, mas muita gente pra conhecer.

Teremos uma reunião à noite, e amanhã iremos a uma colocação para novo encontro. Aqui, como em Feijó, a internet é um crime de lesa pátria. E a hora na única lan house da cidade custa módicos quatro reais. Nunca tive tanta saudade da minha ADSL...

Ah, vi aquele mercadinho mostrado no Fantástico, cuja matéria revelou como é a vida econômica no município que ocupa a penúltima colocação no ranking do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano).

O estudante Tiago de Melo, morador daqui, não se opôs à exibição vexatória do lugar onde vive. "Tem que mostrar mesmo pra ver se melhora, a vida da gente é uma lástima", resumiu.

Claudiomar da Silva e Silva, funcionário da distribuidora FT Farias Filho, confirma que o quilo do tomate custa seis reais, e o de maçã, sete - conforme mostrado pelo repórter da Globo. Frutas e legumes, diz ele, vêm de Sâo Paulo até Rio Branco, e de lá, no inverno, são embarcados num avião.

Pergunto se depois da matéria do Fantástico governo ou prefeitura (também do PT) tomaram alguma providência para contornar o problema do abastecimento local, como criar incentivos à produção de hortifruti. A resposta foi "não".

Jordão, pelo jeito, vai continuar no fim da fila do desenvolvimento.

Eles têm peito; nós, as condecorações

Este menino da foto aí ao lado se chama Marcio. É morador da comunidade do Igarapé Preto, a alguns dias de viagem da cidade de Feijó, pelo Envira, para quem sobe o rio de batelão. Ele nunca foi à escola e por isso não sabe ler. Em sua curta existência também não tinha visto um livro até que lhe mostrei um. Ficou curioso para saber o que havia dentro, e meio decepcionado ao se deparar com o mistério indecifrável das palavras.

Marcio é um filho legítimo da florestania, e quando ainda nem havia nascido, o governo petista já se gabava de ter “revolucionado” a educação. Como ele, há centenas de outras crianças nas comunidades do rio Envira que jamais poderão olhar através da janela do conhecimento.

A gente deveria dar uma medalha ao pessoal da Frente Popular por cada criança acreana que não vai à escola. Certamente faltaria peito para tanta condecoração.

Obsessão carnavalesca

Pelo visto o deputado Luiz Calixto anda obcecado pelo carnaval. E por mim também. Em novo post em seu blog, Calixto voltou ao tema, e sem me citar, afirmou:

"A euforia foi tão imensa que, inclusive, lançaram o Dudé Lima e a Nena Mubarac para governador e secretaria (sic) de segurança, respectivamente".

Gosto mais do Calixto falando que escrevendo. O "tão imensa" do trecho acima explica por quê. Mas o fato para o qual atento está longe de ser estilístico. O deputado parece não ter entendido a ironia do texto no qual "lancei" Dudé para o cargo de governador do Acre.

Um leitor do blog, que preferiu não se identificar, enviou o seguinte comentário sobre o mesmo texto que o deputado não compreendeu:

“Acho que vc vai ter de abaixar o nível do teu discurso porque, pelo visto, o pessoal não percebe a real dimensão do que vc quer transmitir. O seu atual post, é claro que não quer em momento algum promover um evento ou os seus organizadores, senão, de forma brilhante, mostrar que estamos completamente lascados com essa turma de incompetentes que hoje nos governam. O evento carnavalesco é apenas um fato utilizado para demonstrar que este governo cuida mais do circo do que do pão.Não é preciso ter sensibilidade exponencial para apreender em textos como este a sutilidade cáustica de seu discurso.Mais uma vez, parabéns, vc vai ajudar a que nós aprendamos a ler e entender um texto”.

Eu não poderia ter explicado melhor.

terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

Medicina de Primeiro Mundo no Envira



E ainda tem gente que acredita no que eles prometem.

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Barco-hospital

O prefeito de Feijó, Dindim (PSDB), acompanhava hoje à tarde a saída do barco-hospital Erasmo Castro Melo, cujo destino é o rio Jurupari. Serão dez dias de atendimento médico, odontológico, vacinação e distribuição de medicamentos aos ribeirinhos.

Dindim não soube precisar o valor da reforma do barco-hospital, que inaugura sua primeira viagem após as eleições suplementares no município. A embarcação fora abandonada pela administração petista e seu retorno aos rios de Feijó é motivo de muito orgulho para o tucano.

O barco-hospital seguiu viagem com dois médicos a bordo, além de enfermeira, auxiliar de enfermagem e atendente de farmácia. A tripulação do “Erasmo” estima atender cerca de 1.200 pessoas durante a viagem. Duas outras embarcações, com pessoal da educação e assistência social do município, seguiram juntas.

Precavido, Dindim distribuiu recomendações aos viajantes sobre a conduta pessoal nos próximos doze dias. “De agora em diante, estes três barcos são repartições públicas”, lembrou o prefeito.

Todo esse cuidado é necessário pela péssima reputação alcançada nas viagens anteriores, ainda na administração de Juarez Leitão (PT). Dizem por aqui que o barco-hospital tinha virado um bar flutuante, e que a tripulação de outrora mais farreava que atendia os ribeirinhos.

Em Feijó, com Marcio Bittar


Estou no município de Feijó desde o fim da manhã. Vim a convite do ex-deputado federal Marcio Bittar (PSDB), que vai passar 22 dias na região. Não poderei acompanhá-lo até o fim de sua permanência, como gostaria, mas ficarei o suficiente para aproveitar uma das coisas que mais gosto de fazer no Acre, que é conhecer pessoas do interior, saborear a paisagem ribeirinha e me fartar da simplicidade de uma gente aguerrida e hospitaleira.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

Político grandioso, partido nanico

O deputado Luiz Calixto deve estar se fazendo de tonto. Ele insiste em dizer em seu blog que não estive na sessão desta quinta-feira na Aleac. Se em uma afirmação comum o parlamentar é capaz de sustentar uma mentira ad eternum, simplesmente porque dessa afirmação depende o resto de seus argumentos, é de se duvidar de todo seu repertório.

Calixto afirma, por exemplo, que vivo de dizer que os jornalistas acreanos são venais, o que é uma deslavada mentira com o intuito safado de me indispor contra os colegas de profissão.

Ele alega ainda, ao defender o seu patrimônio eleitoral, que saiu vitorioso de três pleitos políticos consecutivos. Mas omite que sua votação míngua a cada pleito, não obstante o aumento do eleitorado e o barulho que faz – sim, e eu o ouço muito bem – contra o governo da Frente Popular na Assembléia Legislativa.

Por último, é de se estranhar um político que se julga tão grandioso como Calixto tenha escolhido um partido nanico como o PSL para se acomodar. Deve ser porque lá ele não tenha com quem dividir o fundo partidário.

Falou a otoridade da oposição

O deputado Luiz Calixto (PSL) não gostou do que escrevi no post aí abaixo. Apressou-se em concluir o que não está dito no texto, o que revela que o discernimento, em alguns casos, pode ser sublimado pela vaidade.

Vaidoso ao extremo, Calixto é do tipo que sobe nas tamancas sempre que alguém lhe contraria uma afirmação. E quanto mais firmes os argumentos do opositor, maior será o chilique do deputado.

Sei que ele não é cego, e dizer que não participei da última sessão da Aleac onde se debateu o carnaval só pode ser um ingênuo apelo à própria má-fé.

Calixto afirma que escrevi o texto aí abaixo “do altar sagrado onde repousa” minha presunção. Ora, o mais presunçoso dos oposicionistas deveria evitar falar de corda quando carrega uma – enorme – em volta do pescoço.

O deputado também é conhecido por arrumar confusão com jornalistas. Deve tentar, com isso, ir mantendo viva a chama de uma reputação política que míngua na desproporção de sua gritaria contra o governo.

Em 2010, Dudé governador!

Foto: Val Fernandes

Na sessão “ressaca do carnaval”, como bem definiu o comunista Moisés Diniz, o debate na Assembléia Legislativa girou, ontem, em torno da realização da festa. Papel de opositor é botar defeito em tudo o que o governo faz, e não faltou parlamentar que criticasse a festa digital nos detalhes mais comezinhos. O direito ao contraditório é pedra angular da democracia, o que não significa que esse direito seja sempre exercido com correção.

Na ânsia de detratar tudo o que sai da lavra do governo petista, os opositores acabaram por exagerar pequenas falhas da festa, como a falta de espontaneidade dos brincantes no retângulo estatal, e por apontar defeitos inexistentes.

Não gosto de carnaval, e o máximo que vi no deste ano foi a passagem do bloco As Negas sob a minha janela, no momento em que seus integrantes se dirigiam à Arena da Floresta. Baseio, portanto, minhas impressões do carnaval digital do que dele me disseram várias pessoas. E o que elas viram foi bem diferente do que relataram os deputados de oposição na Aleac.

O evento foi um primor de organização, como, aliás, é quase tudo o que recebe o toque de Midas do Dudé e da Nena Mubárac. Não faltou segurança para os brincantes e sobrou alegria, graças à competência da dupla encarregada de fazer girar as roldanas dos espetáculos circenses do Acre digital.

Pena que tudo tenha se restringido aos cinco dias de carnaval do governo da floresta. Pena que a mesma acurácia, a mesma competência esbanjada pelos organizadores não seja vista na condução da saúde, da segurança pública e na geração de empregos.

Por que, por exemplo, o governo não consegue fazer do combate à criminalidade o mesmo espetáculo que protagonizou na quina carnavalesca? Qual o motivo para que o atendimento na saúde seja tão deficiente se comparado ao show de excepcionalidade alcançado pelos organizadores da festa momesca? O que explica a queda na geração de empregos noticiada pelo Caged quando, em um único evento festivo, o governo consegue improvisar um mercado que oferece produtos e serviços, gerando empregos temporários e renda?

Como tudo acaba em festa no picadeiro da florestania, tenho uma sugestão ao pessoal da Frente Popular: em 2010, Dudé para governador do Acre! E ainda hoje, Nena no lugar de Marcia Regina!

Pão e circo, ensinavam os romanos ante a turba de desvalidos que, com o fim da escravidão, deixavam a zona rural e se abrigavam nas cidades. A fórmula visava impedir revoltas, alcançar a placidez das massas de desempregados.

Somos hoje o retrato mais fiel da Roma Antiga. Sobram espetáculos circenses, ainda que, "de vez em quando", continue a faltar pão.

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

Voltei

Queridos, estou de volta da longa folga proporcionada pelo carnaval. Aviso que o ócio não me atenuou a gana de debater neste blog os assuntos que a imprensa acreana in$i$te em ignorar.

Por falar nisso, começou a campanha eleitoral nos jornais locais. Na edição de hoje de A Gazeta contei três fotos do governador Binho Marques, três do prefeito Raimundo Angelim e duas do senador Tião Viana (candidato a governador pela Frente Popular do Acre, ele tem pelo menos uma razão para reclamar com o Silvio Martinello o tratamento desigual). O outrora combativo O Rio Branco publicou duas fotos de Tião, duas de Angelim e nada menos que cinco do governador Binho Marques. A Tribuna foi às bancas com duas fotos de cada um deles. E por incrível que pareça, o Página 20 foi o mais econômico dos quatro diários, com uma foto do senador petista e duas do governador. Acrescente-se que neste período de pré-campanha os colunistas sociais cumprem, de modo sub-reptício, o papel de eficientes "marqueteiros fora de época".

E antes que algum petralha me venha dizer que Angelim e Binho não são candidatos a nenhum cargo eletivo, me adianto: serão os maiores cabos eleitorais da Frente Popular, estúpido!

Enquanto isso a patuléia – que não sai em coluna social, não lê jornal, mas paga a conta e a boa vida dos petralhas – continua a levar a vidinha besta e miserável de sempre.

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Carnaval digital e a farra dos gatunos

Tirei um tempinho nesta segunda-feira para dar uma atualizada no blog. Vim a uma lan house, e estou convencido de que as lans seriam grandes invenções se os computadores prestassem. Este que uso tem um teclado criminoso de tão indolente. É preciso apertar as teclas com força, o que gera erros e atrasa a produção do texto.

Bem, mas estou aqui por uma causa nobre. No primeiro dia de carnaval digital, minha nova vizinha teve o carro arrombado durante a madrugada. O ladrão – ou ladrões – levou uma mala com roupas dela e do filho de quatro anos de idade. O veículo estava estacionado a algumas quadras de um clube onde havia um baile carnavalesco, em uma rua paralela à principal.

Não culparei a falta de policiamento pelo furto. A polícia faz o que pode, e tem podido muito pouco ante a multiplicação dos crimes e a precariedade do aparato de que dispõe para lidar com os criminosos. Lembro, por exemplo, que os PMs que atenderam à ocorrência de roubo a banco de Feijó chegaram a pé à agência. E quando os policiais de Sena Madureira solicitaram o despacho de armamento pesado para lidar com os assaltantes, receberam uma negativa da secretária de Segurança Pública, Marcia Regina.

É fato também que a destinação de grupamentos policiais para proteção dos foliões do carnaval digital diminui o efetivo nas ruas. Os delinqüentes sabem disso, e tiram proveito dessa redução.

Porém, o que mais me chamou atenção no caso do arrombamento do carro da minha vizinha foi sua decisão de não prestar queixa na delegacia mais próxima. Ela disse que seria perda de tempo recorrer à polícia, o que me fez chegar a duas conclusões:

1ª – Parte da população não confia na eficiência policial, sobretudo quando o caso requer investigação. A desconfiança aumenta se a ocorrência é “miúda”, como um mero arrombamento de veículo.

2ª – O problema da segurança pública no Acre é pior do que tenta esconder o atual governo. Se as estatísticas são sonegadas por conterem números desabonadores à política adotada para o setor, essa realidade, na prática, é ainda pior, já que muitos sequer se encarregam de notificar os crimes de que são vítimas.

O problema de não conter pequenos delitos é que os delinqüentes, assim, tendem a se tornar mais perigosos.

Já passou da hora de o governo da floresta acordar do seu sono encantado e começar a fazer algo pela segurança dos que pagam impostos.

sábado, 13 de fevereiro de 2010

Mudança



Queridos, como este é um ano de mudanças, saio na frente. Após oito anos morando no Manoel Julião, me despeço. Estarei de casa nova a partir deste sábado e, portanto, sem internet por uns dias.

Vou aproveitar para pôr a leitura em dia. Há livros e livros na fila de espera. Entre eles "Cale a Boca, Jornalista", de Fernando Jorge, leitura bem atual no Acre de nossos dias.

Bom descanso a todos.

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Comemorar o quê, né Lula?

Valterlucio Campelo

Em Brasília o carnaval terá um ingrediente não programado - a prisão do governador José Roberto Arruda. A turba está eufórica. Embora estivesse fazendo um bom governo do ponto de vista administrativo, meteu os pés pelas mãos, sucumbiu ao achaque de deputados e caiu na esparrela do mensalão. As imagens foram avassaladoras. Meias e cuecas apareceram como cofrinhos da malandragem. Houve até quem orasse em agradecimento.

Fim de papo. Arruda está preso. Sifu. Comemoramos ou lamentamos? De comemorar, o fato de que desta vez os mensaleiros estão sendo pegos, presos e, certamente liquidados politicamente. Desta vez não haverá ressurreição para Arruda. Seu partido, muito corretamente, aguardou serenamente os fatos e decidiu por chutar-lhe o traseiro. De lamentar, que ainda e não unicamente fatos como este se repitam na política brasileira.

Quem já teve a oportunidade de ocupar cargos na alta administração, seja municipal, estadual ou federal, sabe que não há nada mais difícil do que a relação do executivo com o legislativo. Às claras, desavergonhadamente, a troca de apoio por cargos na administração. No Brasil, vereador, deputado e senador depois de eleitos agem como sócios do executivo. Às escondidas, obras direcionadas, contratação de serviços e, no extremo, dinheiro na cueca. Mensalão.

Os jornais noticiam que, ao invés de comemorar, Lula está triste com o desfecho do mensalão do DEMOCRATAS, como tendenciosamente o denominaram na imprensa. Jornalistas importantes não o compreendem. Tenho a minha versão para a tristeza do Lula.

Estamos em um ano eleitoral. O mensalão do PT já foi esquecido faz tempo. Seus mentores, diretores e atores se esgueiraram no tempo e estão de volta à cena em toda plenitude. Voltaram a ocupar a direção do partido e cargos na administração. Foram “restaurados” pela popularidade do Lula. Não interessa ao Presidente que em plena campanha este assunto venha à tona. Ainda que fosse um mensalão do PSDB, mas do DEM? Este tema só servirá para reacender as lamparinas do juízo das pessoas que ainda tem a ética como valor político necessário. As coisas já estavam bem encaminhadas. Este caso só vem perturbar. A oposição poderá dizer solenemente, como sugere o Jornalista Reinaldo Azevedo “Os mensaleiros do DEM foram presos e expulsos do partido, e os do PT?”

Lula é mais esperto do que os lulistas. Neste caso, sua tristeza é sincera.

Campelo é engenheiro agrônomo e autor do blog Valterlucio COMENTA

quinta-feira, 11 de fevereiro de 2010

Patuscada

A Secretaria de Comunicação estadual enviou à imprensa nesta quinta-feira um release sobre a recuperação da ponte JK. A contilnet foi um dos veículos que reproduziu o texto conforme ele saiu da redação estatal. Veja:



O mesmo material, claro, também foi publicado no site oficial do governo do Estado. Só que alguém se incomodou com o exagero da apelação contida no título, e resolveu dar um tom mais sóbrio ao assunto. E a coisa ficou assim:



Em tempo: a iluminação pode até não ser de primeiro mundo, como forçou o escriba, mas o preço da reforma é.

Diversão

Coluna Ponto-e-Vígula, do jornal Pagina 20 desta quinta-feira:

Elogio

O trabalho [de limpeza nos bairros] que a prefeitura está realizando é de excelente qualidade. Tão bom que até o blogueiro Archibaldo Antunes, que tem como diversão preferida descer a lenha no governo, fez ontem uma notinha elogiando o trabalho. Trata-se de uma ação realmente importante. A dengue mata e todo o cuidado para combater a doença é bem-vindo.

Minha colega Charlene Carvalho acertou: fazer este blog não é nada trabalhoso. É antes muito divertido.

Mais fácil esconder que reagir

O Anuário do Fórum Brasileiro de Segurança Pública é uma compilação das estatísticas de crimes registrados pela polícia civil dos 27 Estados da Federação. A última edição disponível no site do Ministério da Justiça é do ano passado e revela que o Acre não enviou os dados referentes a 2008. Constam no anuário apenas os relativos a 2007. Veja a aqui.

Além do Acre, apenas o Paraná não informou os crimes ocorridos dentro do seu território no biênio citado. Ocorre que aqui o aumento dos índices da criminalidade é um fato que não precisa ser constatado por dados estatísticos. E se o governo os esconde da população é porque eles, certamente, acrescentariam à impressão geral a certeza do descalabro reinante. Basta uma rápida consulta aos jornais e aos sites de notícia para vermos que os crimes não apenas se multiplicaram como os delinqüentes, agora armados, se tornaram mais perigosos.

O dado curioso do levantamento do Ministério da Justiça é que nos últimos anos cresceram os gastos per capita com a segurança pública no Acre. Em 2006, o governo da floresta gastava 221,55 reais por habitante, valor que saltou para 264,15 reais em 2007 e 335,80 em 2008. Trata-se do 4º maior valor entre todos os estados da federação, a sugerir que nosso problema não está no volume de repasses, mas na gestão desses recursos.

Antes de chegar ao poder o PT embalava seus arroubos oposicionistas no discurso de que a miséria social seria a causa da violência urbana. E agora que precisa administrar os problemas, o partido parece ter esquecido a simbiose que há entre pobreza e criminalidade. Na entrevista de Jorge Viana ao programa do Alan Rick, na terça-feira, o ex-governador exaltou as conquistas sociais de três governos da Frente Popular. Mas se vige ainda o raciocínio anterior, é de se concluir que os indicadores sociais só pioraram nos últimos anos, fator que alavancou a criminalidade na capital e no interior do Estado.

Sabe-se que os cálculos não são o forte da companheirada, com exceção de quando os números podem criar uma falsa impressão de que estamos no rumo certo. Quando é o contrário que acontece, a tabuada vai parar sob o tapete da incompetência e as secretarias de Estado esquecem no fundo das gavetas as contas que deveriam prestar à população que paga impostos.

O problema desse comportamento é que ele é o oposto do que recomendam as maiores autoridades no combate à criminalidade.

Após governar Nova York por duas legislaturas consecutivas, entre 1994 e 2002, Rudolph Giuliani ficou conhecido por reduzir pela metade os índices de violência e transformar a cidade em uma das mais seguras dos Estados Unidos.

Uma das lições de Giuliani é exatamente o oposto do que fazem os companheiros no Acre, como foi registrado na revista Veja (edição de número 2117, de 17 de junho de 2009). Segundo ele, “a primeira coisa a ser feita é a medição diária do crime por região [ele fala de uma cidade grande como São Paulo]. É preciso fazer isso com acuidade, exatidão e constância (...). A medida é simples, mas tem um impacto surpreendente na qualidade e na ação policial”, ensina Giuliani. A lição segue com outros exemplos, mas o essencial já está dito.

Os burocratas do petismo acreano, porém, continuam a acreditar que a melhor coisa a fazer é escamotear as estatísticas, como se a ignorância geral em relação a elas pudesse, por si só, refrear a bandidagem.

quarta-feira, 10 de fevereiro de 2010

O que é bom a gente também mostra

Engana-se quem acha que só vejo erro e malandragem no reino encantado da florestania. Também sei reconhecer o que a companheirada faz de bom. Como a imagem aí abaixo, que mostra os trabalhadores da Semsur fazendo a limpeza da área externa das garagens do conjunto Manoel Julião. Um deles me disse que a iniciativa faz parte da "guerra" contra a dengue. Deus queira que dê certo.

Além disso, não escondo de ninguém que considero Raimundo Angelim um bom prefeito. O problema dele são as más companhias, não é mesmo?

terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Alô, TRE: Jorge Viana já está pedindo voto!

Acabei de assistir à entrevista do ex-governador Jorge Viana no programa Gazeta Entrevista. No segundo bloco, ele simplesmente afirmou que para o bem do país deve-se seguir com a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) no lugar de Lula. Foi além ao afirmar que os acreanos, como também os amazonenses, têm motivos de sobra para rejeitar José Serra. Se isso não é pedir voto, devo ter desaprendido o que é campanha eleitoral, coisa que faço desde 1989, quando a minha ingenuidade me levou às ruas para defender o nome do metalúrgico Luiz Inácio Lula da Silva.

A declaração do ex-governador, que citou inclusive um “futuro governo" do irmão Tião Viana, se dá um dia depois de a ministra Dilma ter declarado que não é sequer pré-candidata ao Palácio do Planalto. Trata-se, claro, da parte dela, de uma tentativa ingênua de disfarçar o enorme barulho que o bloco petista faz na avenida antes da abertura do carnaval eleitoral. E enquanto Dilma nega a pré-candidatura, para a qual já houve verdadeiros comícios Brasil afora, Jorge Viana não se faz de rogado, ignora o ardil do Planalto e ataca de cabo eleitoral da bichinha palanqueira.

O PSDB entrou com várias representações no TSE contra a antecipação eleitoral patrocinada pelo governo federal. O órgão, porém, recusou todas elas, sob o argumento tosco de que em nenhum momento Lula pediu votos para Dilma, nem ela para si mesma. Amparado talvez nesse mau exemplo que emana daquela corte, o ex-governador vai à TV e prega que o melhor para o Brasil é mais quatro anos de PT nos governos federal e estadual. E não surpreenderá a ninguém se os juízes eleitorais acreanos tiverem dos fatos a mesma interpretação que os sete ministros do Tribunal Superior Eleitoral.

Recentemente, o ex-prefeito de Rodrigues Alves Deda Amorim foi multado em R$ 5 mil por propaganda eleitoral antecipada. É demais pedir que a mesma lei seja igual para pessoas diferentes?

Lar doce lar











Até o final do ano eles serão habitantes do melhor lugar da Amazônia para se viver.

Os gatos do saco rugiram

A declaração do ex-governador Jorge Viana, feita ontem durante coletiva à imprensa da sede do PT, segundo a qual a oposição é um "saco de gatos", repercutiu agora há pouco na Assembléia Legislativa. Os parlamentares elevaram o tom do debate e prometem fazê-lo sempre que houver provocações como essa.

Viana foi chamado de "ladrão" e "lobista da Hélibras" pelo deputado Luiz Calixto (PSL). Donald Fernandes (PSDB) também retrucou a ofensa dizendo que o governo é um "balaio de ratos".

O líder do governo na Casa, Moisés Diniz (PCdoB), afirmou que as respostas estão um tom acima da crítica feita pelo aliado Jorge Viana. "Todo mundo sabe o que significa balaio de gatos: é um ajuntamento de pessoas que não se entendem", declarou.

Diniz disse ainda que a oposição, se não compreende o significado das palavras, "precisa estudar, pesquisar".

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

Frase

"Em 2006, o 'Chuchu' apanhou feio do 'Barba'; em 2010, terá a chance de fazer o 'Bigode'".

Do jornalista Fernando de Barros e Silva na edição desta segunda-feira da Folha de S. Paulo, falando sobre a sucessão paulista na qual Geraldo Alckmin (PSDB), que perdeu pro Lula a eleição à Presidência da República, tem tudo para derrotar o senador Aloísio Mercante (PT), até o momento o mais cotado para disputar o governo estadual.

Quatro frases de Ciro Gomes e uma questão pertinente

Todas elas ditas nos últimos dias:

“O PT tem um traço de arrogância; trata seus aliados como peças subalternas que podem ser tangidas como se fossem ovelhas (…). O partido acostumou-se a tratar os seus parceiros como bucha de canhão”.

"O santo Lula nesse assunto está errado. Mantenho a minha candidatura à Presidência da República."

"Quando Zé Dirceu era presidente do PT, ele abriu inquérito contra Lula na comissão de ética do partido para apurar as relações dele com o compadre Roberto Teixeira. Ele quis acabar com o Lula lá atrás."

“Quantas eleições a Dilma já disputou? Lamento, e pouco importa se parece com o que o Serra diz ou não. Às vezes, o Serra fala a verdade também”.

Que Ciro esteja na oposição ninguém mais pode duvidar. Que ele vá disputar a Presidência da República é outra questão que parece definida. Arquiinimigo de Serra, resta saber de que lado estará no caso de um segundo turno entre o tucano e a bichinha palanqueira.

A campanha do PT e a Arca de Noé

Nesta segunda-feira a companheirada reuniu a imprensa na sede do Partido dos Trabalhadores para anunciar (pasmem!) que Fernando Melo não é mais pré-candidato a senador pela Frente Popular. Já que o resultado foi cantado em prosa e verso por quem tem o mínimo de noção do que se passa na política do Acre, a conclusão é uma só: falta novidade no reino encantado da florestania.

Como negaram a Fernando Melo o direito de lançar-se ao Senado, ele parece pretender disputar agora uma cadeira na Associação Brasileira de Filosofia e Psicanálise. “Há momentos em que a intuição não pode estar acima da razão”, filosofou, reconhecendo que o querer e o poder são personagens antagônicas da mesma tragédia.

O que mais deve doer nessa renúncia involuntária é que as esperanças pessoais do deputado parecem ter sido alimentadas pela sagacidade de seus pares. Em outras palavras: deram-lhe corda na medida exata do seu enforcamento. Mas vamos em frente.

A campanha começou. E Jorge Viana, que não faz um afago com a mão direita sem pespegar bofetes com a esquerda, aproveitou a coletiva para alfinetar a oposição. À falta de algo melhor para dizer, como, por exemplo, que o governo companheiro tem novo plano de segurança pública para barrar a criminalidade galopante, o ex-governador me saiu com a pérola de que a oposição é um “saco de gatos”.

Estou longe de negar que a declaração do nosso pequeno príncipe tenha um fundo de verdade. A questão não é o conteúdo, mas o continente. Os petralhas parecem ter obsessão por metáforas, digamos, animalescas.

Outrora Jorge se referia ao hoje aliado Narciso Mendes como uma ave de mau agouro. O ex-deputado, agora que voeja sobre o jardim das delícias da Frente Popular, deve ter virado outra ave – um beija-flor, por exemplo.

Lula, outro dia, ao se referir ao pari passu das inaugurações de obras e a campanha de Dilma, que eles juram não existir, disse que “quem engorda o porco é o olho do dono”. A própria ministra também recorreu à fauna para responder aos jornalistas sobre a escolha de seu vice: “Não podemos colocar a carroça à frente dos bois”, afirmou na ocasião.

Aves, porcos, gatos, bois. Toda a Arca de Noé seria limitada para o uso criativo que dela podem fazer os palanqueiros do PT.

Archibata

Depois que sovei o secretário Sergio Roberto aí embaixo, ganhei de um leitor o apelido de "Archibata". Marcus José é morador do município de Brasiléia e deixou extenso desabafo nos comentários do post "Retrato do abandono".

Diz ele que já votou nos candidatos do PT e foi "enganado umas tantas vezes nas eleições" que tem vergonha de lembrar.

domingo, 7 de fevereiro de 2010

Resposta a um petralha

Sérgio Roberto veio questionar-me algumas informações aqui veiculadas. Pelo conteúdo arrogante e deseducado de dois comentários que deixou, suponho que se trate do secretário adjunto de Saúde do governo. Resolvi revidar a provocação aqui na página principal do blog para que sirva de lição a outros petralhas desbocados, desestimulando-os de fazer gracinha no quintal alheio.

O secretário adjunto afirma que a postagem sobre a escola Minas Gerais está “recheada de frases de efeito, mas com informações superficiais”. Ele diz ainda que ela é típica “dos que arrotam conteúdo mas ingerem mediocridade”.

Não serei deselegante ao ponto de enumerar-lhe os erros de português por entender que Sérgio Roberto deve ter escrito às pressas a suas mensagens, dada a urgência de se combater o Aedes aegypti que assola a capital do Acre. Então quem quiser conferir a indigência estilística do secretário que vá aos comentários do post "Retrato do abandono", e tire as próprias conclusões.

Sérgio Roberto explica que “a escola Minas Gerais foi condenada devido ao fato de ter sofrido avarias em sua estrutura, o que gerou a necessidade de que uma nova fosse construida” (sic).

A outra, acresce, “foi redirecionada para o Calafate onde existia uma demanda de matrículas, devido a (sic) expansão populacional, principalmente devido ao crescimento demográfico no bairro Wilson Pinheiro”.

É preciso dizer que não obstante a condenação da estrutura da escola Minas Gerais, o prédio resiste até hoje, após mais de seis anos de abandono e apesar das investidas dos gatunos, que precisaram quebrar paredes para levar o que sobrara.

Como o Estado em cujo cabide o Sr. Sérgio Roberto se pendura há mais de uma década é muito rico, ninguém se importou em remover da escola as partes que poderiam ser reaproveitadas. Nem tampouco houve quem fosse capaz de lembrar que estruturas arquitetônicas podem receber reforço e resistir por muitos anos à ameaça do desmoronamento. Mas esses são detalhes que, digamos, não interessam aos burocratas e empreiteiros que precisam fazer a roda da fortuna girar, não é mesmo?

Sérgio Roberto também diz que desconheço a escola substituta do Calafate por ela estar num circuito onde não anda a “granfinagem intelectual” da qual faço parte. Bazófia pura. Ao me atirar tão descabida provocação, Sérgio Roberto aplica a máxima do seu guru Wladimir Lênin: "acuse-os do que você faz, xingue-os do que você é!".

Ele escreveu seu comentário neste blog às 17h20, e 16 minutos depois já me cobrava, em novo texto, o fato de não ter publicado o primeiro. Fez até piadinha em relação à minha luta contra a censura que se instalou no Acre com o governo do PT.

Não posso entender a ansiedade do secretário adjunto, principalmente porque o governo ao qual ele serve está com as portas da TV Aldeia fechadas aos parlamentares de oposição desde que ela inaugurou a sua primeira transmissão pública. Aliás, posso apenas supor que deve ser muito irritante e desesperador para os petralhas que haja um único meio de comunicação, por mais que seja um simples blog, que lhes fuja ao controle.

E também me escapa à compreensão que ele, estando na pasta da Saúde, se encarregue de tratar do assunto da escola abandonada mesmo havendo centenas de companheiros aboletados na Secretaria de Educação.

Deve ser por isso que a população de Rio Branco amargue nova epidemia de dengue e moradores do Juruá continuem a morrer de malária.

O Brasil não é Venezuela - por enquanto

Em política não existem coincidências. A fala de Lula na sexta-feira (5) reproduzida pelo jornal Folha de S. Paulo na edição de ontem é muito parecida com o que escreveu Jorge Viana em artigo publicado durante as comemorações de 30 anos do PT do Acre.

Vejamos um trecho da matéria da Folha:

“Ao inaugurar uma fábrica estatal de semicondutores ontem [sexta-feira] em Porto Alegre, o presidente Lula fez uma defesa enfática do papel do Estado na economia e de um governo "com bala na agulha" para atuar onde a iniciativa privada falhou.

‘Foi o fracasso do sistema financeiro internacional que fez ressurgir o Estado como o único capaz de salvar a economia da crise [de 2008]’, disse".

Agora vejamos um trecho do artigo do ex-governador Jorge Viana, no qual ele defende exatamente a mesma coisa:

"Recentemente, até os mercados mais refratários às intervenções de Estado fizeram um reconhecimento global à política, pedindo aos políticos solução para a crise mundial criada pelos próprios mercados".

Bem parecido, não é mesmo? Tão parecidos que dão a impressão de ter saído da mesma boca. E a conclusão é óbvia: essa gente por enquanto quer mais Estado na economia para mais tarde poder colocar toda a economia dentro do Estado, como fizeram os comunistas do Leste Europeu, o louco Fidel em Cuba e como tentam fazer Evo Imorales na Bolívia e Chávez na Venezuela.

A se concretizar esse projeto estatizante, chegará o dia em que eles entrarão porta adentro de nossas casas para ocupá-las em definitivo, como já fazem os vândalos do MST em muitas áreas produtivas do país.

Poesia pra começar o dia

Origami

Ouço teu canto no quintal:
bem-te-vago.
Acaricio tuas penas,
afundo-me nas tuas plumas,
descanso nas brumas dos teus braços.

És o rouxinol dos meus versos brancos,
a cadência esvoaçante na gaiola da
preguiça.

Sobrevoas as folhas secas
soltas
na varanda,
e vais pousar na estante da sala,
onde cantam outros passarinhos de papel.

P.S. Ah, engana-se quem acha que não há lugar ao sentimentalismo neste espírito mordaz. O poema aí acima é de 1995, e foi publicado na XI Antologia Poética Hélio Pinto Ferreira, resultado de concurso nacional promovido pela Fundação Cultural Cassiano Ricardo, de São José dos Campos (SP).

sábado, 6 de fevereiro de 2010

Batismo de fogo

Entrei numa redação de jornal aos 17 anos de idade. Lá se vão, portanto, duas décadas de dedicação ao ofício de escrever. Foram rolos de críticas e alguns acanhados elogios. Fazer o quê, se essa é a natureza da minha verve?

Apesar da língua solta e ferina, nunca antes tinha sido convocado a um tribunal para justificar ataques à honra de quem quer que seja. Hoje, porém, fui surpreendido pela notícia de que o jornalista Roberto Braña, assessor do presidente da Assembléia Legislativa, Edvaldo Magalhães (PCdoB), representou contra mim no Juizado Especial. Os fatos estão narrados na coluna Bom Dia, do jornal A Tribuna deste sábado.

Leiamos as informações abaixo. Voltarei em seguida.


Branã x Archibaldo

Um comentário do jornalista Archibaldo Antunes no blogue Contraponto (http://acrebaldo.blogspot.com) sobre a viagem em férias do também jornalista João Roberto Braãna levou este ontem cedo à sede dos Juizados Cíveis, onde representou contra Archibaldo. A audiência está marcada para o dia 17 de março. Branã quer ser indenizado por danos morais.

O cara de Caras

O título aí abre o comentário de Archibaldo sobre a viagem de Braña, que diz: “Jornalista Roberto Braña voltou ao batente após longa temporada na Europa em companhia da esposa. Braña é assessor parlamentar da presidência da Assembléia Legislativa do Acre. Fotos da viagem foram publicadas em seu blog, que ficou a cara da revista Caras. Diz o ditado que quem tem boca vai a Roma. Já quem tem uma boquinha pode viajar por toda a Europa.”

Castigo por tabela

Enquanto o assessor Branã buscava ontem indenização na Justiça, dois empresários do meio de comunicação aguardaram por longas horas a presença dele na Aleac, conforme combinado. Além de enfrentar intensa chuva, impropérios de funcionários da saúde, a dupla de empresários ainda levou tremendo chá de cadeira e saiu com mãos vazias apesar do reconhecido esforço do deputado Elson Santiago de resolver o problema, diante da ausência indesejada do funcionário. Na saída do prédio, ao comentar o assunto com alguns manifestantes, um dos empresários ouviu atentamente alguém sussurrar baixo: “Todo poder é temporário, jamais será eterno.”


Voltei. Braña me proporciona um "batismo de fogo". Na quinta-feira, ao nos encontrarmos na Assembléia Legislativa, ele deixou claro que está pagando a viagem internacional em parcelas de R$ 850 mensais. Sua implicância maior foi com o termo "boquinha", que jura se referir a "algo ilícito". Não é o caso.

Detesto explicar o óbvio, mas como a raiva lhe cegou o discernimento, fugirei à regra e tentarei ser o mais didático possível: "boquinha", meu caro Braña, é a vantagem concedida a quem entra na administração pública pela janela, sem prestar concurso e com salário de bacana.

Agora deu pra entender?

Retrato do abandono

Os gatunos levaram tudo que puderam: portas, grades, pias, janelas, caixa d’água e agora, aos poucos, carregam as telhas que sobraram. O que antes era um colégio virou sanitário de motoristas e cobradores de ônibus, casa de cachorro e abrigo noturno para delinqüentes e usuários de drogas. O cheiro no local é nauseabundo. O abandono, revoltante.

Minas Gerais é o nome da escola de educação infantil que o atual governo engavetou no esquecimento. Localizada na parada final da Sobral, é prova inequívoca da negligência dos governantes em um Estado campeão em analfabetismo de pessoas maiores de 15 anos.

Antes estudavam ali cerca de 200 crianças. Foram transferidas para colégios distantes, conduzidas pela diligência de burocratas também capazes de tamanho desleixo.

Uma rachadura no piso serviu de desculpa para a renúncia sem volta. E a burocracia companheira não recorreu aos laudos técnicos. Prova de que entre nós a presunção parece ter substituído a ciência.

Damiana da Silva Medeiros foi a diretora mais longeva da escola. Durante 20 anos, ela foi a maestrina que regeu as partituras do saber. Ali se alfabetizou na infância. Ali viu o despertar para as primeiras letras de outras centenas de meninos e meninas carentes.

Tão carentes que ela oferecia merenda duas vezes por dia. “Em casa, a maioria não tinha o que comer”, recorda-se.

O terreno onde se assenta o que sobrou do prédio é da família de Damiana. Ao receber a visita deste blogueiro, interessado em obter informações sobre a escola abandonada, os olhos baços da ex-diretora adquiriram um brilho momentâneo. “Vão reformar?”, quis saber. E seu olhar perdeu novamente o brilho ante a resposta negativa.

Damiana, a diretora zelosa, não se conforma com o destino de “sua” escola. Aos 81 anos de idade, sua lucidez é comovente. A ponto de se perguntar como os jovens poderosos do governo imaginam construir um futuro sem preservar as coisas úteis do passado.







sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Blog do Archibaldo

Jornalista Altino Machado me ligou no finzinho da tarde desta sexta-feira para dar umas dicas importantes sobre o novo blog. Vou acatá-las, claro, pois quem sabe ensina, e quem puder que trate de aprender. Isso significa que o nome deste blog vai mudar, a fim de facilitar a associção do título ao endereço eletrônico. Ele sugeriu "Blog do Archibaldo", o que também tornaria mais precisas as buscas no Google.

Altino divulgou-me em seu blog, o que imediatamente trouxe um monte de leitores para cá. Agradeço-lhe pela canja e dou as boas-vindas aos que não param de chegar.

Governador cibernético

Sou um sujeito de idéias naturalmente antipáticas e não me esforço para agravar esse defeito. Mas às vezes as circunstâncias me impedem de resistir aos meus princípios. E é então que emerge em mim esse serzinho rugoso e ranzinza que, apoiado em sua bengala de pau-mulato, passa a imprecar contra toda e qualquer demagogice estatal.

Hoje esse velhinho mal-humorado, o meu Lunga particular, não suportou matéria do jornal Página 20 (aqui) e se pôs mais birrento do que nunca.

Diz o texto do diário que o governador Binho Marques, ao lançar o “floresta digital”, afirmou que o Acre nunca mais será o mesmo. Ai, meu saquinho! A cada iniciativa, por mais comezinha, essa gente vai logo falando em revolução e exemplo para o país e o mundo. São os "cavaleiros da triste figura", e também como Dom Quixote de La Mancha, vivem de duelar com moinhos-de-vento pensando se tratar de gigantes.

É cansativo ouvir o mesmo discurso por doze anos seguidos. A iniciativa de oferecer internet grátis à população é importante, sim, mas não vai tirar o Acre do buraco, nem amenizar a criminalidade ou constranger a miséria que campeia na periferia.

Internet grátis é para quem já tem computador, e quem possui um já superou o estágio em que dezenas de milhares se encontram todos os dias, tendo de conviver com a lama nas canelas e a barriga vazia.

Isso deixa claro que o governo de Binho Marques é não apenas elitista como boçal. E querer temperar essa boçalidade com a falsa idéia do milagre repentino torna ainda mais irritante a pantomima.

Por que não tratar o “floresta digital” simplesmente como uma iniciativa governamental de caráter útil, ao invés de tentar vender a falsa idéia de que ele nos colocará no topo do mundo? Se não for por pura desfaçatez, será por excesso de má-fé.

Quero terminar fazendo uma referência ao Diário Oficial do dia 18 de janeiro deste ano, no qual o governador assinou decreto para abertura de crédito suplementar. Ali foram destinados à Secretaria de Estado de Habitação de Interesse Social (Sehab), o montante de 60.010 reais. Uma ninharia, se levarmos em conta o déficit habitacional do Estado.

No mesmo documento, o governador destinou à Secretaria de Estado de Desenvolvimento, Ciência e Tecnologia (SDCT) nada menos que meio milhão de reais.

É uma diferença e tanto para um Estado paupérrimo, cujos governantes são finórios o bastante para pretender uma integração ao Primeiro Mundo através de uma “ponte digital”.

Mas o problema dessa ponte é que ela não serve nem para abrigar da chuva os sem-teto que existem aos montes por aí.

Palavras do Raimari

"Contraponto

Novo blogueiro na praça, o jornalista Archibaldo Antunes vem quebrando a insipidez que tomou conta da blogosfera acreana nos últimos tempos. Seu qualificado Contraponto está, em minha singela opinião, entre as poucas opções de leitura obrigatória de que dispõe o internauta desta parte do país, onde ter um blog tornou-se necessidade para quem deseja e ousa dizer o que pensa".

Raimari Cardoso é xapuriense da nata, autor do blog Xapuri Agora, radiojornalista, repórter dos Sistema Público de Comunicação e avô (aos 37 anos!) de um anjo chamado Anna Lya.

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Reparo

Recebi hoje um telefonema do assessor de imprensa do Ministério Público Federal no Acre (MPF), Hermington Franco. Ele ligou para corrigir a informação, publicada no post "Na rua da amargura", de que a demissão de 700 servidores da Saúde seria uma exigência do órgão.

Fui induzido ao erro pelo assessor de imprensa do Spate, o sindicato que reúne o pessoal ameaçado de perder o emprego. A correção, necessária, mostrou o desvelo profissional do assessor do MPF. Mas, infelizmente, não muda a realidade de centenas de pais de família que irão parar no olho da rua.

A caminho do totalitarismo

Quando digo neste blog que os companheiros do Acre não diferenciam o público do privado não estou exagerando. O site do Partido dos Trabalhadores acreano é o único do Brasil que “hospeda” as logomarcas dos governos estadual, federal e da prefeitura de Rio Branco.

A confusão entre o que pertence ao partido e o que concerne ao Estado se instalou na cabecinha dos que parecem raciocinar com as mandíbulas. Tive o cuidado de visitar os sites de todos os partidos que possuem algum representante nos governos estaduais e constatei que nenhum deles ousa repetir o disparate.

Fiz então uma consulta ao Tribunal Regional Eleitoral sobre esse fato pitoresco. Espero que os juízes daquela corte tenham o mesmo entendimento que eu. E antes que algum petralha venha me dizer que o problema é menor, repito não se tratar de simples logomarcas em um site – mas de símbolos públicos em domínio privado.

E isso é muito significativo em um lugar que há mais de uma década caminha para o totalitarismo.

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

Comentários

Queridos, pouco a pouco vou me familiarizando com esta ferramenta. Hoje configurei o blog para aceitar comentários anônimos, já que muita gente tem vontade de debater os assuntos aqui tratados, mas acabava inibida.

Isso porque a censura e a perseguição estão atingindo níveis venezuelanos em nosso Estado. Ao receber nesta quarta os parabéns de uma colega jornalista pelos "contrapontos", convidei-a a colaborar com a iniciativa. Ela, que trabalha em uma emisora de TV local, respondeu com um sorriso maroto que dizia: "Você quer que eu seja demitida?"

Mas como tudo nesta vida tem um lado bom, o da censura é que a cada dia vai ficando maior o número daqueles que lutam contra ela.

Na rua da amargura

Representantes do Spate (Sindicato dos Profissionais Auxiliares, Técnicos de Enfermagem e Enfermeiros do Estado) estiveram na Assembléia Legislativa nesta quarta-feira. Antes disso, engataram uma conversa com o senador Tião Viana. O motivo de tanta movimentação é a ameaça do Ministério Público Federal, que aponta o caminho da rua a cerca de 700 servidores da Saúde do Estado.

O MPF cumpre a lei. Quem a descumpriu por quase dez anos foi o governo do PT. Interessado, creio, em manter no balaio da Frente Popular os votos de 700 pais de família e seus dependentes, Jorge Viana foi dando caráter permanente a contratações provisórias. A saúde precisava de mão-de-obra. Os petistas, de votos. E nada melhor que um ganha-pão provisório para manter a fidelidade do eleitor.

Com a realização do concurso público Pró-Saúde, os prestadores de serviço se viram num beco sem saída. Como a tolerância do MPF chegou ao fim, e o governo pode substituir com tranqüilidade esse pessoal, só restará o lamento dos que desocupam a moita.

Só quem tem filhos e já se viu no olho da rua sabe o drama por que passam essas centenas de pessoas. Para agravar o problema, a cúpula da Saúde, segundo a direção do Spate, brande o chicote sempre que meia dúzia se junta com o objetivo de partir em busca de solução. Gente ligada ao secretário Osvaldo Leal não quer barulho em torno das demissões.

Deve ser porque - como tem dito o líder do governo na Aleac - este seja um ano de eleição.

O cara da Caras


Jornalista Roberto Braña voltou ao batente após longa temporada na Europa em companhia da esposa. Braña é assessor parlamentar da presidência da Assembléia Legislativa do Acre.

Fotos da viagem foram publicadas em seu blog, que ficou a cara da revista Caras.

Diz o ditado que quem tem boca vai a Roma. Já quem tem uma boquinha pode viajar por toda a Europa.

terça-feira, 2 de fevereiro de 2010

Lágrimas de jacaré

Fernando Melo afirma em matéria publicada pelo site agazeta.net que não pode ser penalizado por pertencer ao PT. Ele se refere à batalha travada desde que se delineou, no horizonte da Frente Popular, a preferência pelo nome do deputado Edvaldo Magalhães (PCdoB) como postulante à segunda vaga do Senado. O argumento dos que defendem o camarada em detrimento do companheiro é que dois nomes da mesma sigla seria uma afronta ao jogo democrático (e até parece que eles se importam com alguma regra).

O jacaré, como é conhecido Fernando Melo, vê agora a lagoa secar. Não faltaram avisos de que perderia a porfia com Edvaldo. Mas embalado por incentivos à sorrelfa, manteve o nome no altar dos Viana à espera, talvez, de um milagre. Que não virá.

As lágrimas de Fernando Melo, pelo menos dessa vez, não serão de crocodilo.

Estado eficiente

"O Brasil não precisa nem de Estado mínimo, nem de Estado máximo. Precisa de Estado eficiente, capaz de gerir com zelo e eficácia o dinheiro arrecadado da sociedade para fornecer serviços de qualidade e promover investimentos. Ao contrário disso, observa-se a administração perdulária dos recursos públicos num quadro de sufocante carga tributária, infraestrutura deficiente e dramáticas carências em áreas cruciais como saúde, educação e segurança pública".

Trecho do editorial de hoje (2) do jornal Folha de S. Paulo a propósito do aumento de cargos de confiança no governo Lula.

O plural de cidadão

O vice-governador do Acre, César Messias, foi escalado pelo governo para o costumeiro discurso de abertura dos trabalhos na Aleac. A justificativa para a ausência do titular foi a deferência que assim seria feita a quem transitou pelo parlamento estadual entes de eleger-se prefeito de Cruzeiro do Sul pelo PPS e vice-governador do Acre pelo PP.

O discurso de César Messias na manhã desta terça-feira foi a prova maior de que o mundo dá muitas voltas. E às vezes, nas voltas que o mundo dá, os bicudos acabam por beijar-se e a diferença por virar afinidade. O casamento dos Cameli com os Viana é um tema que ainda envergonha os companheiros mais coerentes - que são bem poucos, é verdade.

Unir-se a alguém em matrimônio significa perdoar-lhe os defeitos e exagerar suas qualidades. E não foi mais do que isso que fez César Messias na manhã desta terça-feira ao ler o discurso que parece redigido por um escriba finlandês. Depois dessa prova de fogo, o vice-governador já pode considerar-se um companheiro de carteirinha.

Mas toda escolha tem conseqüências. Não foram poucos, por exemplo, os jornalistas que caçoaram quando César Messias se referiu ao "emponderamento" - essa expressão bizarra cunhada pela falta de criatividade e repisada pela sensaboria do governador Binho Marques. Também não faltou quem comentasse, com ar galhofeiro, que ninguém neste Estado jamais imaginou que um dia um Cameli fosse falar em nome do governo do PT. Mas foi exatamente o que aconteceu neste dia 2 de fevereiro de 2010.

César Messias mostrou ter aprendido muito nesses anos de Frente Popular. Falta-lhe ainda saber, porém, que a flexão "cidadões" continua gramaticalmente inaceitável. O erro, que me perdoem os permissivos, está longe de ser prosaico. Pois ele confirma que alguns políticos, após passarem a vida inteira pensando no singular, envelhecem sem saber qual é o plural de cidadão.

Apenas coincidências

A esposa do senador Tião Viana (PT), a arquiteta Marluce Cândida, é a responsável pelo projeto arquitetônico da nova sede da OAB-AC, como a imprensa fartamente divulgou no fim de semana e muitos já sabiam antes mesmo de sua inauguração.

Não duvido da capacidade profissional de dona Marluce, assim como estou certo da competência do médico Tião Viana. Imagino, pois, que ela tenha dado o melhor de si no trabalho que prestou à OAB.

E como o órgão não submeteu a obra de mais de R$ 5 milhões a uma licitação (até porque a lei a dispensa dessa obrigação, segundo o que foi dito alhures), posso supor, sem medo de errar, que a contratação de dona Marluce tenha seguido parâmetro semelhante.

Não obstante isso, me ocorre que a escolha, pautada unicamente na qualificação profissional da arquiteta, tenha apenas coincidido com o fato de que as instalações que projetou estejam assentadas sobre um terreno doado pelo governo do Acre à OAB.

Também pode ser apenas coincidência que a inauguração da nova sede se tenha dado no mesmo dia do aniversário de Dona Marluce, segundo propalou o faceiro colunista social Moisés Alencastro.

Como pode não passar de outra reles coincidência a contratação de Dona Marluce no momento em que o marido projeta-se como o favorito na corrida sucessória ao governo estadual.

Coincidências acontecem, e Florindo Poersch, o advogado reconduzido à presidência da OAB-AC em parte graças à construção da nova sede, sabe disso. Ele pode nem ter atinado para essas questões menores na hora de ordenar a contratação da profissional. Ou sequer se envolveu em assunto tão pueril.

Pois há questões maiores a lhe reclamarem a atenção e o empenho. E uma delas é que o órgão sob o seu comando cumpra com a obrigação cidadã de recorrer ao Supremo Tribunal Federal contra as aposentadorias dos ex-governadores do Estado. Pois mais do que eu, o Sr. Florindo Poersch sabe que a pensão é inconstitucional. Mais do que eu, o Sr. Florindo imagina o quanto esse dinheiro faz falta ao povo acreano. E talvez tanto quanto eu, o Sr. Florindo seja capaz de se indignar ante o pagamento descabido de régias aposentadorias em um Estado de tantas e tamanhas carências.

É claro que não passa de outra vulgar coincidência que um dos beneficiários dessa excrescência venha a ser o cunhado mais famoso de dona Marluce.

segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

Dinheiro é bom e eles gostam

O Partido dos Trabalhadores é uma máquina de arrecadar dinheiro. Matéria da Folha de S. Paulo desta segunda-feira (versão online apenas para assinantes), sob o título “Lula dobra criação de cargos de confiança no 2º mandato”, mostra como a sigla abastece seus cofres.

Segundo a reportagem, desde 2007 a criação mensal de novos postos companheiros saltou de 23,8 para 54.

Lula herdou a máquina federal com 19.943 cargos de confiança de livre nomeação. Após seis anos o total chega a 23 mil.

O que a oposição aponta como aparelhamento do Estado, a companheirada chama de “reorganização interna dos órgãos de governo”.

Mas a verdadeira razão do inchaço da folha de pagamento parece estar (a conclusão é minha) numa determinação do Superior Tribunal Eleitoral (STF). Em 2006 o órgão proibiu a contribuição partidária de parte dos ocupantes dos cargos de confiança.

Pela decisão, os ordenadores de despesa foram impedidos de continuar enchendo os embornais do PT. Com isso, ainda segundo a matéria, o partido levou um “tombo” de R$ 200 mil em sua arrecadação mensal.

As novas nomeações, porém, devem compensar as perdas. Afinal, dinheiro é bom e os petralhas gostam.

Repercussão

O líder do governo na Assembléia Legislativa do Acre, deputado Moisés Diniz (PCdoB), publicou em seu blog Ecos Socialistas, neste domingo, sob o título "Contraponto de respeito", o texto que reproduzo a seguir:

"O jornalista Archibaldo Antunes abriu um blog e vem escrevendo sobre assuntos polêmicos. O que chama a atenção é que ele está se dedicando a desmontar argumentações produzidas pelo nosso campo, vinculadas aos governos Lula e Binho Marques.

Diferente de outros escribas da oposição, Arquibaldo Antunes navega no seu teclado tucano de forma competente e aplicando a máxima de que é preciso desconstruir primeiro uma idéia para depois desmoralizar.

Archibaldo Antunes, apesar de jovem, é como se tivesse ajudado Davi a escrever os seus Salmos e influenciado Salomão nos seus Provérbios. Um jovem escriba com pena experiente e mordaz.

Archibaldo Antunes escreveu um longo texto, com pesada argumentação contra os líderes principais do PT, e ninguém retrucou com uma única vírgula.

De nossa parte, tem gente demais nas esferas do poder e outros que se acham lá. Quase não sobra tempo para ler os argumentos da oposição e se contrapor.

Alguns jornalistas do nosso campo se tornaram enfadonhos e não percebem que pode chegar o tempo de mais gente se cansar.

Precisamos de jovens jornalistas, que podem ter 60 anos, para produzir de forma literária a formidável conquista que tem sido o governo da Frente Popular, nesses últimos doze anos.

Archibaldo Antunes está desafiando o entardecer do jornalismo acreano e chamando para a boa briga entre penas, tintas e teclados.

O que é bom em Archibaldo Antunes é que ele luta ao ar livre, de frente, no sol.

De minha parte, fica a minha divergência com muitas de suas argumentações, o meu mais profundo respeito pelos seus pontos de vista e a minha admiração pelas suas letras".