O jornalismo acreano é sui generis. Não bastasse o fato de todos os jornais impressos e alguns sites publicarem os releases do governo estadual ipsi litteris, nenhum deles é capaz de atentar para as vigarices do sistema estatal de comunicação. Se atentam, não ousam apontar-lhe os desvios.
Em texto enviado às redações ontem e reproduzido nos impressos desta sexta-feira, a Agência de Notícias do Acre informa, em destaque no subtítulo, que "especialistas da Costa Rica elogiam práticas de sustentabilidades em andamento no estado". Beleza.
O release explica que cerca de 40 pessoas, todos especialistas (não se sabe em quê), "se reuniram no auditório da Escola de Pós-Graduação do Catie para ouvir a exposição de Binho Marques, cujo tema foi 'Um Outro Mundo é Possível: Acre, Estado da Florestania'". A palestra sobre as glórias acreanas durou hora e meia.
Segue o texto: “Depois, eles [os especialistas em alguma coisa] avaliaram como essa visão está no caminho certo. Enquanto em outras regiões se discute sustentabilidade o Acre mostra isso na prática”.
A frase é de Eufran Amaral, secretário de Meio Ambiente do Acre, que acompanha o governador Binho Marques. Quem escreveu o texto não registrou o nome de único "especialista" entre os quarenta presentes à embromação e, óbvio, tampouco suas palavras abonadoras às práticas de sustentabilidade na terra de Chico Mendes. Como isso não foi feito, é preciso acreditar no testemunho de Eufran, homem do governo, de quem jamais se esperaria depoimento diverso daquele.
Jornalismo tem regras. Essas, no âmbito da comunicação estatal, foram para o espaço há muito tempo. Resta ao leitor o bom senso de avaliar o que lê com redobrado ceticismo.
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