quinta-feira, 13 de maio de 2010

Não muito longe disso

Por Nielsen O. M. Braga

Muito inteligente e oportuna a abordagem da sua postagem Uma Nota Oficial e Algumas Considerações. Com o advento da internet é simplesmente maravilhoso o que se pode encontrar de informação correta e imparcial através dos blogs, dentre os quais o seu que, ao contrário da mídia impressa do nosso estado, presta um serviço, enquanto que aquelas prestam um desserviço. Nas cidades interioranas do Acre só temos acesso à mídia eletrônica. Há alguns anos atrás via isso com aborrecimento, descrédito e preocupação, mas nos dias atuais é realmente uma bênção não contar com os ‘jornaletes’ da folha de pagamento petista.

Quero que essa onda de ‘verdade aguda’ engula a todos que estão cansados de ver nosso estado dividido em duas vertentes: o Acre real (o que temos acesso com essa e aquela alegria em meio a muitos e tantos outros dissabores) e o Acre ‘pasteurizado’ pela agência de informação do governo do estado e seus asseclas. Não esmoreçam nem baixem guarda porque a informação crítica e confiável está mesmo 100% on-line.

Em cidades menores (Sena, Feijó, Tarauacá...) assim como em Rio Branco, existe ainda uma ala puxassaquista que delira com as benesses petistas alardeadas em sites oficiais e jornais pagos e que praticamente vive dentro de uma bolha de inércia e alienação, constantemente suavizando as cores fortes da desgraça alheia (o povo e suas mazelas), mas nestes mesmos lugares ainda tem muito cérebro ativo, mãos ávidas para escrever o que tem de ser escrito, bocas sedentas para falar o que tem de ser dito. Assim também se portam Cruzeiro do Sul, a intocável Xapuri e as menos citadas Manuel Urbano e Mâncio Lima... Todas interligadas e atentas em seus blogs e fontes ‘com conteúdo não-alienante’, que há muito romperam com um modelo (‘florestania’) que nasceu bom, desvirtuou-se e atualmente demonstra sinais de inoperância.

Que a sustentabilidade é um caminho certo e irreversível numa época em que o aquecimento global já se faz presente em muitas desgraças naturais é inegável. Mas daí a viver somente em função disso e, o que é pior, impôr uma ditadura eco-xiita a uma população mais ingênua que sempre viveu recolhida a uma existência miserável no interior de seus humildes seringais desativados e onde seus antepassados viveram as agruras de uma escravidão seringalista, é esperar demais.

As leis em prol do bem-estar das comunidades ditas ‘da floresta’ transformaram-se em uma interminável lista de equívocos: a tentativa de desarmar por completo o homem ribeirinho (algo impossível na prática de quem conhece os perigos do ‘inferno verde’ que é a floresta amazônica, mas ‘praticável’ na concepção de Perpétua Almeida mediante criação de mais um tributo), a promessa de uma saúde interiorizada e high tech (nem uma coisa e nem outra após constatação sistemática da realidade de nossos hospitais), a adoção de um horário que colocaria o Acre no ápice das movimentações comerciais com o resto do país e que se tornou um ‘tiro no pé’ de Tião Viana culminando, na verdade, numa medida autoritária (visto que a população não foi chamada para opinar), antipática (visto que a maioria dos municípios a detestou desde o fatídico dia em que entrou em vigor) e impopular (visto que se tornou propaganda negativa e único feito memorável do nobre senador acreano).

Diante disso tudo fica impossível ler sobre amenidades como o ‘maravilhoso perfil’ que a Costa Rica faz do Acre e suas ‘maravilhas’ regionais. Em algum momento fica parecendo um plágio amazônico da obra de Lewis Carroll, Alice no País das Maravilhas. Será que regrediremos às torpezas do regime militar, aquele período obscuro da história brasileira em que jornais, na impossibilidade de falar a verdade, se ocupavam de receitas de bolo e comentários bobocas? O Acre não está muito longe disso.

Nielsen O. M. Braga é professor concursado e escritor nas horas vagas.

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