segunda-feira, 22 de novembro de 2010

Humano, demasiado humano

Costumo dizer que a ingratidão é a mãe de todos os defeitos. Nada pior que um ingrato em nossas vidas. E eles existem aos montes, atravancam nossos caminhos, tropeçam sobre nós a todo momento.

E o que dizer da mesquinhez? Nenhum sentimento é mais revelador da nossa triste condição humana. O homem é mesquinho por temperamento, e a intensidade de suas mesquinharias estará quase sempre associada à sua condição econômica. Um rico que se agasta por ninharias será, portanto, uma aberração da natureza.

A literatura eternizou esse sentimento em personagens como a agiota Alyona Ivanova, de Crime e Castigo, de Dostoyevski. O romance, escrito em russo e publicado em 1867, é uma novela psicológica sobre a culpa. Raskolnikov, um jovem estudante que deve a Alyona Ivanova, acaba por assassiná-la ante a idéia de que a velha não passa de um verme humano e que matá-la seria um serviço para a raça humana.

Sempre que penso na mesquinhez, me lembro do romance de Dostoyevski. E a figura de Alyona me remete a uma senhora de quem fui inquilino, e que arredondava para mais os centavos da conta do aluguel e da luz. Rica proprietária de imóveis, a velha chorava miséria como se fosse ainda mais pobre que eu. E apenas me fazia rir com sua mania de me subtrair alguns centavos todos os meses.

Vivia mal, a velha senhora. Vestia-se com molambos, comia marmitas, não assinava a carteira profissional das empregadas - sempre avara, doente e apegada aos tostões.

Morreu de velhice, ao contrário da personagem de Crime e Castigo. Mas como Alyona, levou a vida como escrava do vil metal.

Nada, nada mais humano que a mesquinhez. E pouquíssimas coisas são tão risíveis neste mundo quanto sujeitos endinheirados a se passarem por pobretões.

2 comentários:

  1. Ark
    Oportuno seu post. Muito oportuno. Creio que com a sua experiência e sabedoria haverá de, diferentemente de mim, se acautelar contra os avarentos, mesquinhos e ingratos com quem convive.

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  2. São tempos difíceis, falta honradez, falta hombridade e falta dicionário p/ os poklíticos que o povo colocou lá entenderem o que vem a ser todas essas definições num mundo pós-mensalão-que-acabou-se-em-pizza, onde tudo e todos tem uma etiqueta com o preço de sua ética... Lembro de meu avô paterno falando de um tempo em que o fio do bigode valia a palavra de um homem, hoje tudo é 'comprável'... Mas apesar de meu azedume, sou otimista... Deixa estar... Ah, a mesquinhez abunda onde falta a sabedoria, logo estamos anos-luz à frente dos que tem livros na estante somente para preencher prateleiras, rsrs...

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