sexta-feira, 26 de março de 2010

Sobre imprensa domesticada e jornalões

Acabo de ler, na edição da Folha de S. Paulo desta sexta-feira, artigo do jornalista Jânio de Freitas sobre as queixas de Lula contra a imprensa. A chorumela presidencial baseia-se na presunção de que jornais têm predileção por desgraças. O fato, exemplifica Lula, de que 2 mil casas construídas pelo governo federal não virem manchete, mas o desabamento de um barraco sim, provaria o pressuposto anterior.

Freitas lembra que o déficit habitacional no Brasil é de aproximadamente 6 milhões de habitações. O que seriam, portanto, 2 mil casas populares ante o tamanho do problema, para que jornais dediquem à ação governista a manchete pretendida?

Em relação ao barraco soterrado, deixo ao autor do artigo a explicação sobre a repercussão midiática:

"O olhar do jornalismo para um barraco arruinado não é predileção, não é atração. É repulsa, é pasmo, é emoção. Não do jornalismo: dos seres humanos. Dos que são leitores, espectadores, ouvintes - e, valei-os Senhor, jornalistas. É o valor da vida, não é o barraco. É o peso da tragédia, da avalanche e da enchente fatais, do desastre aéreo, do assassinato horrorizante".

Certa vez, ao tomar um cafezinho com o secretário de Comunicação do governo, Aníbal Diniz, ele se queixava do jornalista Altino Machado por este ter feito, no Página 20, uma matéria sobre uma família da periferia de Rio Branco que passava fome. O raciocínio de Aníbal era pragmático: com tanta coisa boa sendo feita pelo governo, por que ocupar-se em mostrar desgraças?

A contradição dos fatos não explica a questão em si. Dizer que os petralhas chegaram ao poder escancarando as mazelas sociais e agora fazem tudo para escondê-las é apenas parte do problema. E não que essa gente ignore a existência dos famintos, dos desabrigados, mas exibi-los nos jornais é demonstração de atraso, de golpismo e de opção pela calamidade. É como se dissessem: "sim, os miseráveis existem, mas mostrá-los para quê, se isso pode nos incomodar ligeiramente na hora do jantar?"

Essa questão, claro, está resolvida no âmbito local, onde a "inaguração" de um ramal asfaltado parece resolver todos os problemas de escoamento da incipiente produção agrícola acreana. Mas ainda é uma pedra no sapato dos petralhas federais. Se aqui o jornalismo cedeu espaço à comunicação estatal, em troca de alguns caraminguás, no Planalto Central as coisas não são tão simples como financiar a boa vida dos prorietários dos veículos de comunicação e ver-se livre das críticas.

A Lula, então, sobram irritação e desespero. Nessas horas me pergunto se o petralha-mor não sente uma pontinha de inveja do colega Hugo Chávez.

2 comentários:

  1. Archibaldo, lembro dos idos de 1999 quando ainda tentávamos fazer o primeiro Prêmio Chalub Leite e nos foi sugerido que as matérias a serem selecionados tivessem um caráter "positivo e propositivo". Naquele momento já havia ficado claro a intenção de não se "premiar" as denúncias ou as matérias "negativas" e esconder a realidade. Faça sua leitura e veja se não é exatamente isso que vem acontecendo nos últimos anos.
    um forte abraço.

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  2. Bom dia Archibaldo, muito boa a sua postagem, infelizmente, infelizmente os vermelhos iniciaram a caminhada ao poder vendo essas coisas e hoje a culpa é da imprensa, agora "desgraças"? Onde se eles vivem colocando os problemas debaixo do tapete? E outra, a inveja do vizinho Huguitoditator deve mesmo deixar o Lulalalal morrendo mesmo de inveja.
    Alberto Moreno - SP - 26/01/13

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