Por Paulo Nogueira, da revista Época
Notei, no twitter, um alarido em torno da presença de Lula na lista das 100 pessoas mais influentes do mundo feita anualmente pela Time. Havia um certo entusiasmo na fileira dos petistas e alguma raiva entre os que acham que depois de oito anos no poder já é tempo de o PT voltar à oposição.
O fato é que nem o entusiasmo e nem a raiva se justificam.
Listas não são mais nem menos que isso mesmo: listas. Os leitores gostam. São interessantes, geram discussões, animam conversas de bar. Os editores satisfazem alegremente a sede de listas da clientela. Só que têm que preenchê-las. Não é fácil. Sobretudo em casos como o da Time, com 100 nomes a cada ano. (O editor da revista explica num vídeo como foi feita a lista.) Você tem que promover rotatividade para que ela não se torne maçante. Chávez entrou em 2005 como uma liderança forte na América do Sul.
Nas edições seguintes, você não vai repeti-lo. Mas alguém da região tem que entrar, ou a lista ficará com ares elitistas. O presidente do … Peru? Bolívia? Uruguai?
Alguém falou no Equador?
Lula demorou para entrar nessa lista, feita há seis anos. Não havia motivos para que Chávez o precedesse. Mas ele não aumentará e nem diminuirá com sua inclusão no grupo dos 100. Lula é o que é. Um bom presidente, pragmático, inteligente. Cara boa, fácil comunicação com o povo. É, claramente, um facilitador, talvez sua maior virtude. Parece capaz de ver a floresta em vez de se demorar nas árvores, outra qualidade.
Sai do Planalto como um homem que, para usar a linguagem corporativa, cumpriu as metas sem, no entanto, ultrapassá-las. O Brasil em sua gestão ficou muito para trás da China e um pouco atrás da Índia.
Nota 7 para Lula. Dá para passar de ano sem exame, mas não vai receber chapéu de gênio.
Fernando Henrique leva um ponto a mais pela vitória histórica contra a inflação. Ah, mas ele não entrou na lista da Time, alguém poderá dizer. Sim, é verdade. Mas o fato é que essa lista começou a ser feita apenas em 1999, no final da era FHC. Se existisse há mais tempo, quando mas não fosse para ajudar a preenchê-la, FHC entraria fatalmente nela, e talvez a utilizasse depois para aumentar o cachê de suas palestras.
No mais, a Time é a mãe das revistas semanais de informação, e sua excelência é globalmente reconhecida. Mas suas escolhas de personalidades influentes às vezes são inacreditáveis. O Homem do Ano de 1939 foi Hitler. Hitler já publicara fazia tempo Mein Kempf e matara dezenas de milhares de pessoas a essa altura. Mesmo assim, foi o Homem do Ano. Três anos mais tarde, foi a vez de Stálin ser escolhido O Homem do Ano. Se você juntar as mortes provocadas por esses dois Homens do Ano chegará à casa de 60 milhões.
Lula, por tudo o que foi dito, demorou para entrar na lista dos 100 da Time. Mereceu.
Mas não é o caso de rojões dos seguidores e nem de lágrimas dos oponentes.
Em vez de comemorar ou chorar, é melhor voltar ao trabalho, porque o Brasil tem que dar duro para encurtar a distância que o separa de outros países, notadamente a China.
Se a lista começou em 1999, como que Hitler e Stalin forem escolhidos homem do ano na primeira metade do século passado?
ResponderExcluirMeu querido Gustavo, a lista das pessoas mais influentes do mundo e a escolha do Homem do Ano são coisas distintas.
ResponderExcluirGrande abraço e obrigado por comentar no blog.
É sempre um prazer ler o seu blog. Por inusitada, imaginei que a informação fosse inexata - sem obviamente desconfiar da indubitável honestidade intelectual do jornalista, mas imaginando que houvesse sido induzido a erro por alguma má fonte. O leitor curioso pode recorrer ao link abaixo para confirmar o inacreditável:
ResponderExcluirhttp://history1900s.about.com/library/weekly/aa050400a.htm
De qualquer forma, noves fora a mancha histórica na reputação da revista, há que se reconhecer a importância de um presidente brasileiro ser reconhecido internacionalmente como líder mundial por publicação consagrada, ainda mais em se tratando de lista bastante exígua.
Abraços afetuosos.