sexta-feira, 30 de abril de 2010

Diatribe disfarçada de argumentação


Um dos pressupostos que se escondem por trás da acusação de que alguém argumenta com ódio é que essa argumentação é falha pela carga sentimental que transporta. O outro pressuposto é que o interlocutor que identifica a virulência alheia goza do equilíbrio necessário a todo debate civilizado. O deputado Moisés Diniz (PCdoB-AC) recorre a esse truque na tentativa de desqualificar a opinião de dois renomados jornalistas. O pecado mortal de ambos foi comentar a lista da revista Time que elenca as cem pessoas mais influentes do mundo, entre as quais o presidente Lula.

Moisés cita artigo reproduzido aí abaixo, no qual não há, a meu ver, a carga de ira detectada por ele contra o seu guru Luiz Inácio. E sob a desculpa de que Reinaldo Azevedo, da revista Veja, e Paulo Nogueira, da Época, destilam veneno contra o petista, é o próprio Moisés Diniz quem desce do altar para inocular o vírus de sua diatribe contra os que ousam falar mal do intocável presidente.

Moisés chama os jornalistas de "carimbados coroinhas dos políticos da velha oposição". E trata Reinaldo Azevedo como "um troglodita da Revista VEJA". Chama ainda a atenção para "a quantidade de veneno que ele (Reinaldo) destila contra o líder operário que jogou para escanteio o professor de Harvard, Fernando Henrique Cardoso". Ambos - Reinaldo e Paulo Nogueira - precisam, na opinião do doce Moisés Diniz, de "um banho de sal grosso em todo esse rancor".

E até mesmo a porção democrática do deputado é carregada de tintas sombrias: "Nós respeitamos as suas opiniões, mesmo que sejam preconceituosas, com o seu velho odor de cemitério".

E para arrematar o discurso, ele recorre a uma falácia conhecida como argumentum ad numerum, que consiste em afirmar que quanto mais pessoas acreditam numa proposição, maior será a probabilidade de que ela seja correta. Segundo o argumento de Moisés, Lula é o cara porque apenas 18% dos eleitores deste país o rejeitam.

Faltou lembrar que a História está cheia de exemplos de como as multidões podem ser inconsequentes.

*A caricatura usada neste post foi publicada na Veja e no site http://baptistao.zip.net/.

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