No Diário Oficial desta segunda-feira (não me refiro ao jornal Página 20) consta o detalhamento de dois convênios assinados pela titular da Secretaria de Estado de Desenvolvimento para Segurança Social, Laura Okamura, e representantes de duas igrejas evangélicas.
Sob a justificativa do apoio a obras sociais, o governo vai repassar R$ 40 mil à 1ª Igreja Batista de Cruzeiro do Sul, "através da reforma da cobertura do templo para oferecer mais conforto e segurança no atendimento à comunidade".
O segundo termo de convênio objetiva, também, apoiar as atividades sociais da Igreja Evangélica Assembléia de Deus do município de Senador Guiomard, no km 45 da BR-364. O governo vai depositar R$ 5 mil na caixinha da entidade, para a reforma de seu espaço físico.
Não sou religioso, e se o fosse provavelmente escolheria uma religião que fizesse do silêncio e da quietude os principais canais de comunicação com o Todo-Poderoso. Também não condeno o repasse de verbas às igrejas por reconhecer que a maior parte delas tem prestado relevantes serviços sociais.
Mas me dou o direito de questionar os critérios norteadores da aplicação de recursos públicos em igrejas evangélicas quando 1º) o estado é definido como laico e assim sendo deveria agir com equidade na destinação das verbas a igrejas; 2º) quase todos (evangélicos ou não) pagamos impostos e deveríamos decidir se esses repasses são corretos; e 3º) pelo fato de grande parte da força política da Frente Popular do Acre se constituir de egressos dessas igrejas.
Vejamos. O prefeito Raimundo Angelim, do PT, conta com o apoio do presidente da Câmara Municipal de Rio Branco, Jessé Santiago, e dos vereadores Astério Moreira e Cabide. Na Assembléia Legislativa, a FPA segue apoiada pelos deputados Helder Paiva, Walter Prado e Dinha Carvalho. E no plano federal há a devoção política do deputado federal Henrique Afonso e, claro, da senadora Marina Silva. Todos evangélicos.
A pergunta que gerou este post foi a seguinte: as igrejas evangélicas recebem vantagens estatais por que seus parlamentares aplaudem o governo ou os parlamentares aplaudem o governo por que suas igrejas recebem vantagens estatais?
Em tempo: o convênio com a igreja de Senador Guiomard recebeu a assinatura, como representante desta, de Osmir Lima de Araújo. Caso se trate do ex-deputado federal que outro dia foi entregar ao senador Tião Viana as chaves do PTB, está mais do que patente a natureza política do ajuste.
Caro escriba,
ResponderExcluirEmbora seja leitor assíduo deste seu blog, e o seja única e exclusivamente por admirar seu modo de escrever, não posso deixar de discordar de você à respeito desta matéria.
Vamos lá:
1°)O argumento sobre o laicismo do estado é pertinente, mas é aberto a uma dialética lógica: ora, se o dito estado é laico, segundo nossa Carta Magna, é livre para interagir com qualquer entidade religiosa, como o faz com outros convênios assinados (é só procurar) com a Igreja Católica, com a União do Vegetal e com outras denominações. Se não existisse este laicismo, haveria, sim uma cumplicidade tendenciosa.
2°)Como você mesmo disse, quase todos pagamos (muitos) impostos. Mas já decidimos, mesmo que de forma torta, pra onde vão estes recursos, pois o fazemos através de representantes eleitos (gostemos ou não) legitimamente pelo povo (estamos neste meio). É um dos princípios da república.
3°)Acho que o amigo está sendo preconceituoso quando faz referência à presença de evangélicos na base de apoio ao governo. Por essa linha de raciocínio, nenhum governo poderia firmar convênios com a Igreja Católica, por exemplo, pois a porcentagem de católicos no Brasil é de cerca de 60%. Quantas bases governistas são compostas por a grande maioria de católicos? Nem por isso fica proibido firmar-se convênios com esta igreja.
Os governos têm, sim, que tratar à todas as crenças com a equidade do estado laico, destinando verbas (dentro de um limite razoável, é claro) a projetos sociais e outras atividades que possibilitam o reencontro do homem com Deus, retirando-o das desgraças da bebida, das drogas, da prostituição e de outros males.
Parabéns pelo blog. Continue a ser independente e audaz.
Olá, Archibaldo, há quanto tempo, hein?
ResponderExcluirA propósito da postagem, diz a Constituição Federal:
"Art. 19. É vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:
I - estabelecer cultos religiosos ou igrejas, subvencioná-los, embaraçar-lhes o funcionamento ou manter com eles ou seus representantes relações de dependência ou aliança, ressalvada, na forma da lei, a colaboração de interesse público;"
É o que diz lá. No entanto...
Este tipo de coisa é pouca vergonha, isso sim, é uma maneira de cabrestear dirigentes de igrejas, cooptando as pessoas para o voto, já que as eleições estão próximas. As igrejas arrecadam dinheiro, e muito, não precisariam desses "repasses" do governo, que poderia usar esse dinheiro para outras coisas mais necessárias, uma obra social é uma coisa, a construção ou reforma de um templo de qualquer religião é outra. Isso nada mais é do que curral eleitoral e compra de votos. Adivinhem em que candidatos os membros dessas igrejas vão votar nas eleições? Nos da oposição? Claro que não! Qualquer burro sabe disso! Outro dia conversando com um amigo sobre política, sendo ele crente, me disse textualmente: - "eu e minha mulher vamos votar em quem o pastor mandar". MP e TRE olho vivo e faro fino... Será essa a campanha ética que quer fazer Jorge Viana, como declarou outro dia? Pessoal da Frente, conta outra!
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